CMFor aprova título de cidadão para André Fernandes, mas o de Bolsonaro sai da pauta após polêmica
O autor, vereador Julierme Sena (União), recuou porque não pôde estar presente para defender a medida
A Câmara Municipal de Fortaleza aprovou, em meio a polêmicas, a concessão de um título de cidadão fortalezense ao deputado federal André Fernandes, nesta quinta-feira (7). A mesma comenda, desta vez para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), chegou a ser discutida pelos parlamentares, mas foi retirada de pauta, diante de uma sequência de críticas.
O autor, o vereador Julierme Sena (União), cumpria agenda em Brasília e não pôde estar presente para defender a medida. Por isso, recuou momentaneamente, segundo ele. "Estou viajando e quero estar aí para discutir a matéria", explicou. A discussão deve ser retomada na próxima semana.
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Já a proposta de Inspetor Alberto, relativa à concessão de cidadania a André Fernandes, foi mantida na pauta de votação. Após discursos de críticas e de apoio, a homenagem recebeu a aprovação de 23 vereadores, enquanto outros nove a rejeitaram. Houve uma abstenção.
Rejeição
A vereadora Adriana Almeida (PT) foi quem puxou o coro contra as comendas. "Em uma das suas falas, o ex-presidente nos ofereceu capim para comer, para todo o Nordeste. É essa pessoa que merece o nosso título?", questionou. A referência foi feita a vídeo de 2018, em que Bolsonaro oferece capim aos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não menciona especificamente o Nordeste.
Adriana Gerônimo (Psol) também se pronunciou. Ela exibiu, no telão do plenário, alguns vídeos do ex-chefe do Planalto com falas consideradas extremistas e preconceituosas, além de inadequadas aos cargos públicos que ocupou. "Eu me envergonho de aprovar um título de cidadania para um homem como esse", disse.
Da mesma forma, Moura Taxista (PSB) se posicionou contrário à concessão das homenagens. "Votarei contra. Não vejo que esse deputado tenha o merecimento de receber o título de cidadão fortalezense. Nossa cidade tem história, um marco na luta pela democracia e pelos trabalhadores do nosso Estado", avaliou.
Em relação a Bolsonaro, o vereador afirmou que muitos colegas da categoria taxista poderiam ter sido salvos da Covid-19 se as vacinas tivessem chegado com mais agilidade, "e o André Fernandes fez coro com isso, apoiou todas essas atitudes".
Devido à resistência, o vereador Márcio Martins (SD), que é aliado do ex-presidente, juntou-se ao vice-líder do Governo Sarto, Didi Mangueira (PDT), no pedido feito a Julierme Sena para a retirada da proposta da pauta desta quinta, a fim que pudesse ter a chance de argumentar a favor, o que foi acatado.
"Nós temos um projeto que está sendo proposto a retirada de pauta, e nós defendemos que ele saia da pauta e não volte mais. A gente está falando de um projeto de homenagear uma pessoa tanto condenada por vários crimes, investigada por vários outros, falso baluarte da moral, que representa a maior imoralidade de um representante público", criticou Gabriel Aguiar (Psol).
Quebra de acordo?
Jorge Pinheiro (PSDB) se indignou com as declarações dos colegas, alegando que iam de encontro a um "acordo de cavalheiros" na Casa sobre projetos relativos à cidadania fortalezense. Ele explicou, na tribuna, que o trato se resume a não levar as divergências a debate no plenário, como foi feito nesta data, e apenas votar pelo sim ou pelo não.
Diante desse episódio, contudo, ele afirmou que a conduta vai mudar. "Se a gente for criar estardalhaço todas as vezes por medalhas que são oferecidas, a gente vai ter muita coisa para falar e muita gente para expor, aí seria melhor que a gente não fizesse isso. (...) Desde já, fica claro que, quando forem propor para outros, isso (o debate em plenário) vai acontecer também (para o outro lado)", anunciou.
Carlos Mesquita (PDT), vice-líder do governo, reforçou a fala de Pinheiro. "Algumas legislaturas atrás, nós fizemos um acordo: a responsabilidade do título é de quem dá, e não se discutia isso aqui. Se respeitava o vereador que tinha o direito legítimo de dar o título", afirmou.
E completou: "Eu concedi o título aqui ao pastor da Igreja Universal, Edir Macêdo, que foi crucificado, mas fizemos o título, foi aprovado e ele ainda está por receber por algumas coisinhas que aconteceram depois, que ele soube aqui".
Já Adriana Gerônimo afirmou, posteriormente, não fazer parte do acordo em questão. "Foi citado aqui, antes, que havia um pacto de acordo de cavalheiros. Deve ser por isso que eu não estou envolvida nesse acordo e sinto muito orgulho de não estar", disse.
A vereadora, então, registrou seu voto contrário e solicitou votação nominal do projeto.
Comenda a André Fernandes
Já na Ordem do Dia, o projeto de Inspetor Alberto foi aberto para discussões. Gabriel Aguiar também reproduziu falas de Bolsonaro e de André Fernandes para reforçar sua crítica à concessão da cidadania fortalezense.
Um dos exemplos usados foi a ofensa feita pelo deputado à jornalista Patrícia Campos Mello, responsável por divulgar um esquema de disparo de notícias falsas para prejudicar rivais do ex-presidente. Ele foi condenado, em 2021, a indenizar a profissional pelo ataque demonstrado a seguir:
“Se você acha que está na pior, lembre-se da jornalista da Folha de SP que oferece sexo em troca de alguma matéria para prejudicar Jair Bolsonaro. Depois de hoje, vai chover falsos informantes pra cima desta senhora. Força, coragem e dedicação Patrícia, você vai precisar!”, disse Fernandes pelas redes sociais, à época. “Sou tão inocente, que até hoje pensava que furo jornalístico se tratava de outra coisa…”, completou o parlamentar.
Gabriel também lembrou do episódio em que Fernandes, quando deputado estadual, acusou um colega de integrar uma facção criminosa, imputando-lhe um crime grave e sem provas. Trata-se de Nezinho Farias (PDT), hoje prefeito de Horizonte. Ele também foi condenado pelas falas.
Adriana Gerônimo também voltou à tribuna para argumentar contra Fernandes. O mesmo fez Dr. Vicente (PT). Eles citaram o possível envolvimento do deputado federal nos atos golpistas de 8 de janeiro. O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu inquérito, no começo do ano, para investigar sua participação.
Em julho, contudo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu o arquivamento do inquérito por entender como inconclusiva a tese de que o deputado cometeu crime ao incitar, pelas redes sociais, a população a avançar sobre os Três Poderes.
Em reação às críticas, o autor do projeto resgatou o encaminhamento da PGR em relação ao 8 de janeiro e afirmou que a polêmica revela "perseguições" ao seu grupo político.
Para atacar os parlamentares contrários à medida, exibiu um vídeo de uma suposta discussão entre membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e um latifundiário, alegando que os opositores defendiam esse tipo de atitude.
Para concluir o raciocínio, o vereador disse: "Um camarada desse com esse bando de vagabundo chegasse no meu sítio, na minha fazenda, ia morrer 'tudim', não ia ficar nenhum vivo. Era um favor que eu ia fazer para a população do Brasil e do Ceará".
Após alerta de Adriana Gerônimo sobre desrespeito ao Regimento Interno da Câmara, o vereador Bruno Mesquita (PL), que estava na presidência da Casa no momento, pediu a retirada da fala da ata da sessão.
Carlos Mesquita também defendeu a concessão da homenagem, já que André Fernandes foi bem votado em Fortaleza. "Perto de 200 mil votos. Será que eles são alienados ou senil? O voto deles não vale? O cara é polêmico, mas é no estilo dele", disse.