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Brasil poderia ter evitado até 400 mil mortes por Covid-19, diz Pedro Hallal na CPI

Os pesquisadores Pedro Hallal e Jurema Werneck defenderam que a falta de medidas mais firmes contra a Covid causaram o atual cenário de gravidade

Escrito por Diário do Nordeste, Daniel Weterman/Estadão Conteúdo e Agência Senado ,
Professor e pesquisador Pedro Hallal, vice-presidente da CPI Randolfe Rodrigues e médica e especialista Jurema Werneck sentados mesa da CPI da Covid-19
Legenda: Pedro Hallal e Jurema Werneck foram convocados à CPI da Covid-19 para apresentar dados analíticos sobre a Covid-19 e
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O Brasil poderia ter evitado até 400 mil mortes por Covid-19 caso tivesse adotado medidas necessárias para conter o avanço da doença, apontam estudos apresentados nesta quinta-feira (24), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Senadores convidaram dois especialistas para comentar os números do novo coronavírus no País e subsidiar a investigação da CPI, que apura a atuação de Jair Bolsonaro e do governo federal na pandemia.

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O epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal, que coordena um centro de estudos do quadro da doença no Brasil, apresentou dados afirmando que quatro de cada cinco mortes pela Covid-19 Brasil estão em "excesso".

Hallal citou ainda os prejuízos do atraso da vacinação no Brasil. Segundo o especialista, a demora em compras de imunizantes contra a Covid teria causado entre 95,5 mil e 145 mil mortes.

O professor, que é coordenador do estudo Epicovid-19, pontuou que o Brasil tem 2,7% da população mundial, mas apresenta 12,9% das mortes por Covid-19 no mundo.

Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas e pesquisador, durante a CPI da Covid-19
Legenda: Pedro Halla coordena o estudo Epicovid-19, um dos maiores em curso sobre o novo coronavírus no Brasil
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

"Ontem [quarta-feira], uma de cada três mortes por Covid no mundo foi no Brasil", disse o pesquisador no início do depoimento. "Podíamos ter salvo 400 mil vidas no Brasil apenas se estivéssemos na média mundial.

Tasso Jereissati (PSDB-CE) perguntou que medidas urgentes o Brasil precisa tomar. Hallal defendeu média de 1,5 milhão de vacinados por dia e lockdown nacional por três semanas. “Só assim iremos olhar luz no final do túnel".

305 mil mortes acima do esperado

Outro estudo apresentado na CPI nesta quinta — pela diretora-executiva da Anistia Internacional e coordenadora do movimento Alerta, Jurema Werneck — indica que a pandemia provocou 305 mil mortes acima do esperado no Brasil em um ano. O cálculo considera os dados históricos de mortalidade no País.

A especialista apontou redução relativa de 40% na transmissão se medidas mais restritivas, como isolamento social e preparação do sistema de saúde, tivessem sido implementadas.

"Se tivéssemos agido como era preciso, a gente podia ainda no primeiro ano de pandemia ter salvo 120 mil vidas", disse Werneck durante a audiência na CPI. "Poderíamos ter salvo pessoas se a política de controle de medidas não farmacológicas tivesse sido aplicada".

Falta de medidas de controle e desigualdade

Estudo do Movimento Alerta, coordenado por Jurema Werneck, aponta que se medidas eficientes de distanciamento social e controle tivessem sido adotadas no Brasil, haveria uma redução de 40% no potencial de transmissão do vírus.

Resultados apresentados pela médica durante a CPI indicam que com uma política efetiva de controle baseada em ações não farmacológicas (uso de máscara, álcool em gel, distanciamento e isolamento, entre outros) 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas no primeiro ano da pandemia no Brasil.

Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional e coordenadora do Movimento Alerta durante a CPI da Covid-19
Legenda: Jurema Werneck coordena o Movimento Alerta, que tem função de divulgar dados e alertar a população sobre a responsabilidade das mortes por Covid no Brasil
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Desigualdades estruturais tiveram influência sobre as altas taxas de mortalidade, atingindo principalmente negros e indígenas, pessoas com baixa renda e baixa escolaridade, apontou Werneck.

"Menos de 14% da população brasileira fez testes de diagnóstico para a covid-19 até novembro de 2020. Pessoas com renda maior do que quatro salários mínimos consumiram quatro vezes mais testes do que pessoas que receberam menos de meio salário mínimo", explicitou a especialista.

Quem é Pedro Hallal?

Graduado em Educação Física (2000), mestrado (2002) e doutorado (2005) em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal realizou estágio pós-doutoral no Instituto de Saúde da Criança da Universidade de Londres.

Hallal coordena o EPICOVID-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil. É um dos coordenadores da Coorte de 2015 de Pelotas e do Observatório Global de Atividade Física. É tanbém um dos sócios fundadores e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde.

Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências entre 2008 e 2013. É bolsista de produtividade 1A do CNPq. É Editor-Chefe do Journal of Physical Activity and Health.

Atuou como Reitor da UFPel entre 2017 e 2020. É docente associado da Universidade Federal de Pelotas no curso de graduação em Educação Física e nos programas de pós-graduação em Educação Física e Epidemiologia. 

Quem é Jurema Werneck?

Jurema Werneck tem graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (1986), mestrado em Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia/COPPE/UFRJ (2000) e doutorado em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007).

É diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil. Integra a Mesa Diretora do Global Fund for Women, o Conselho de Administração do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

É co- fundadora de Criola, organização não governamental (1992). Representou o Movimento Negro no Conselho Nacional de Saúde (2007-2012) e foi coordenadora geral da 14a. Conferência Nacional de Saúde (2011).

Pesquisadora visitante do IESC/UFRJ 2012-2013. Bolsista FAPERJ 2012-2013. Integrou o Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil e o Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Ministério da Saúde. Atua principalmente nos temas: mulheres negras, cultura afro-brasileira, antirracismo, direitos humanos, saúde da população negra, iniquidades em saúde, políticas públicas para a equidade de gênero e raça.

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