Disputas por votos tem diferentes estratégias nos bairros

As abordagens definidas pelos candidatos mudam de acordo com o território do eleitor, já que as demandas são diferentes em bairros de áreas nobre e na periferia, segundo analistas

Escrito por Redação , politica@svm.com.br
A Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza
Legenda: A Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza
Foto: Kid Júnior

A eleição municipal é, também, uma disputa territorial. Sobretudo na campanha para vereador, as incursões por bairros específicos, redutos eleitorais de alguns candidatos, são estratégias prioritárias na busca por votos. A um dia para o pleito, o saldo da corrida eleitoral em Fortaleza revela um cenário ainda de indefinição, mas é também possível apontar quais investidas se sobressaíram para conquistar o apoio do eleitor em distintas regiões de Fortaleza. Para analistas políticos, a pandemia não afetou tanto a campanha nos territórios, em especial a de vereador, apesar das restrições. No entanto, na disputa acirrada, os que não souberam garantir visibilidade diante do contexto podem ficar em desvantagem.

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As estratégias precisaram ser adequadas a diferentes territórios e públicos, analisa o consultor em marketing político Leurinbergue Lima. Segundo ele, enquanto eleitores de bairros de classe média, com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tendem a votar de forma mais ideológica, nos territórios mais periféricos o sufrágio busca melhorias locais. Por isso, bairros com maior número de eleitores são cobiçados voto a voto pelos postulantes.

Em Fortaleza, a 1ª zona eleitoral é a que detém a maior quantidade de eleitores: um total de 125 mil. A divisão administrativa eleitoral agrupa bairros como Mucuripe, Cais do Porto, Cidade 2.000, Vicente Pinzón, Papicu e Varjota. Em seguida, estão a 113ª zona, com 114 mil eleitores, que abrange bairros como Benfica, Damas, Centro, Jardim América, Bom Futuro e Parquelândia; e a 112ª zona, que soma 113 mil eleitores. Esta compreende Jardim das Oliveiras, Cidade dos Funcionários, Sapiranga e outros bairros.

Diferenças por bairro 

Dentro de uma mesma zona, inclusive, há eleitores de territórios distintos em IDH. É por isso que os candidatos não miram na divisão administrativa feita pela Justiça Eleitoral da cidade, e sim nos bairros, como explica Leurinbergue.

“São motivações realmente diferentes. Cada um vai numa pegada diferente. O eleitor de classe média costuma ter um voto um pouco mais livre. Tanto é que você vai encontrar um certo perfil desse eleitor, uma parte é bem clara de centro-esquerda e outra parte de direita. O eleitor das periferias leva mais em conta se é um conhecido, se é um cara que já tem um serviço prestado na rua, se é a pessoa do posto de saúde”, avalia.

A socióloga Paula Vieira, que é pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (Lepem/UFC), pondera que o voto de eleitores das periferias também tem viés ideológico, mas pautado na busca por melhorias diretas na realidade da população.

“Nos bairros das comunidades existe uma busca por alguém que conheça a realidade. São bairros que têm problemas de saneamento, que estão querendo asfaltar uma rua, que têm uma praça a ser melhorada, um posto de saúde. [...]Mas com isso não estou dizendo que nas comunidades não têm questões ideológicas, porque questões de Saúde e Educação são ideológicas e passam pelas comunidades”, esclarece a pesquisadora.

As pautas dos eleitores de cada localidade, inclusive, tendem a conduzir as propostas dos candidatos, principalmente ao cargo de vereador. É por isso que, segundo Leurinbergue Lia, às vezes, um bairro sozinho consegue eleger um representante para o Legislativo Municipal. Os representantes das comunidades são também cabos eleitorais para os candidatos ao Executivo.

“O vereador acaba tendo uma ligação com o local de acordo com a história dele, então, se você nasceu em determinado bairro e ainda mora nele, você acaba tendo naquele lugar sua base eleitoral. [...]Muitos bairros de Fortaleza são maiores que muitas cidades, (têm) 30 mil, 40 mil, 60 mil habitantes. Então, cada candidato, parte (o seu) projeto a partir da célula local, da minha rua para o meu bairro, para a minha regional”, diz.

Com a pandemia da Covid-19, a campanha teve que se adequar às regras sanitárias impostas. Os dois analistas acreditam que não houve tantos impactos nas atuações nos territórios, já que o trabalho corpo a corpo foi reduzido, mas não aniquilado.

No entanto, para Leurinbergue Lima, os candidatos mais conhecidos tiveram vantagem diante da situação sanitária. “Como a gente teve pouca campanha, ainda mais que está proibido tudo tem uns dez dias, então foi bom para quem já tem um nome conhecido”.

Já Paula Vieira considera que não houve “vantagem” para candidatos veteranos e aponta que as dificuldades enfrentadas por novos postulantes são comuns em todos os pleitos. “A inserção de novos nomes é difícil em qualquer candidatura, porque na verdade as campanhas continuaram (na pandemia). Os candidatos continuaram conversando com os eleitores. Não tem como medir se é isso que vai favorecer candidatos que já são conhecidos”, enfatiza. 

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