Saúde mental e o impacto da modernidade

Vivemos em uma realidade cada vez mais única e múltipla, integrada e diversa, próxima e distante ao mesmo tempo, densa e fluida, leve e pesada, originária e original. Estamos mesclados, híbridos, confusos. O conceito de híbrido define a vida contemporânea.
Nosso “eu” se fragmenta diante da abundância. Não estamos preparados. Precisamos de uma evolução, como um pinguim que adapta seus pés para suportar o frio. As organizações já foram como Charlie Chaplin na fábrica, depois se tornaram Wall Street (Michael Douglas e Tom Cruise), obcecadas por status e narcisismo. Hoje, precisam ser sustentáveis para o planeta e para nós.
Antes éramos pré-definidos e obrigados. Hoje estamos perdidos, fluídos, meio robóticos. Tudo pode e, ao mesmo tempo, nada pode. Agora, fascinamo-nos por uma inteligência “alienígena” que promete sentir e pensar por nós, como se estivéssemos prontos para receber um cartão vermelho — seja do planeta, seja de um novo viajante que pode tomar nosso lugar.
Diante disso, reagimos. Nossa fragilidade nos coloca em crise. Se acolhida e compreendida, essa crise pode ser benéfica. Se frustrada e ignorada, torna-se dolorosa. Passamos de organizações que falavam para organizações que escutam, do narcisismo à depressão.
Precisamos mudar tudo. Voltar ao que é originário, à caverna, mas agora com internet e celular. Como diz Ailton Krenak: “O futuro é ancestral. Aquilo que sempre esteve presente no passado, está agora e estará depois, como uma eterna presença do ser”.
É necessário um novo híbrido, um novo “ao mesmo tempo”, uma autêntica ambidestria. Nossa grandiosa capacidade nasce da nossa fragilidade. Mas há um risco: a esquizofrenia do simultâneo, a explosão do nosso ser. Isso é o que chamamos de doença mental? Estamos reconhecendo os sintomas?
Precisamos de novos cuidadores. Os líderes atuais não são “boas mães” — não amam suficientemente suas crias, não sentem o bastante. Ainda vivem saudosos da decadente Wall Street dos anos 80.
Mas a vida é maravilhosa. Vá para o seu mato, para o seu mar, para onde quiser. Concentre-se no seu eu interior e reconheça o do outro. Juntos, seremos maravilhosos.
Marco Dalpozzo é professor da Fundação Dom Cabral