A China está remodelando o mercado de habitação

Escrito por
Flávio Guerra producaodiario@svm.com.br
Flávio Guerra é administrador
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A imagem de um prédio de dez andares erguido em apenas 30 horas pode parecer saída de uma ficção científica. Mas foi real, na China. Somado ao feito de levantar 20 mil casas em apenas 72 horas, o episódio ajuda a mostrar como o país asiático está redesenhando as fronteiras da construção civil e, por consequência, do mercado de habitação.

Esse marco é fruto de uma aposta em construção modular e pré-fabricada, sistemas que permitem montar estruturas inteiras em poucos dias a partir de componentes industrializados. Segundo dados oficiais, em 2020 a área construída com esse método alcançou 630 milhões de metros quadrados na China, o equivalente à cerca de 20% dos novos empreendimentos, com previsão de ultrapassar 30% até 2025.

A vantagem não está só na velocidade: esse método gera menos desperdício de material, reduz custos e, cada vez mais, incorpora materiais sustentáveis, mais leves e resistentes, como painéis de isolamento térmico de baixo carbono ou telhados verdes capazes de refletir calor e reduzir consumo energético.

No que depender do novo planejamento urbano do país, essas não serão obras isoladas. Diante da crise imobiliária marcada pelo colapso da gigante incorporadora Evergrande, o governo chinês lançou um plano para redesenhar suas cidades até 2035. O objetivo é criar aglomerados urbanos interconectados (corredores metropolitanos conectados por trens de alta velocidade) e transformar centros urbanos em ambientes “habitáveis, bonitos, resilientes e inteligentes”, como consta no plano de metas.

Em lugares como Hangzhou, sistemas de “cérebro urbano” baseados em inteligência artificial já monitoram trânsito, poluição e até emergências em tempo real. O investimento é colossal: apenas a modernização de infraestrutura básica deve custar 4 trilhões de yuans (cerca de US$ 560 bilhões) nos próximos cinco anos.

Em paralelo, a China vem implementando o plano “IA+”, que busca integrar inteligência artificial em todas as etapas da produção industrial, incluindo a construção civil. Isso significa desde o uso de algoritmos para otimizar logística de materiais até a aplicação de sensores para medir a segurança de estruturas em tempo real.

O contraste com o Brasil é inevitável. Por aqui, convivemos com um déficit habitacional superior a 5,8 milhões de moradias, segundo a Fundação João Pinheiro, enquanto enfrentamos, por exemplo, altos custos de construção. Ao mesmo tempo, loteamentos são feitos sem o apoio de um Plano Diretor que flexibilize regras que burocratizam e impactam o desenvolvimento urbano.

As inovações chinesas oferecem, portanto, pistas valiosas. A pré-fabricação poderia reduzir custos e trazer mais previsibilidade aos empreendimentos. O aumento do uso de materiais sustentáveis ajudaria a alinhar o setor às metas de descarbonização. E, o que considero mais importante, um planejamento urbano de escala metropolitana permitiria que o Brasil se afastasse do modelo fragmentado que temos de boas habitações, construindo cidades mais harmônicas.

Claro que não se trata de copiar soluções, mas de adaptá-las. O Brasil tem diferenças de clima, geografia e estrutura institucional com relação à China. Nosso desafio é ter ambição suficiente para aprender com o modelo de desenvolvimento chinês. Ao acelerar a construção, eles estão também acelerando o debate, aliás, dando uma resposta, sobre como garantir que uma moradia de qualidade, com um entorno que entregue qualidade de vida, acompanhe as demandas do século 21.

Flávio Guerra é administrador

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