O Voto é Livre na Era da Inteligência Artificial?

Escrito por
Yury Rufino Queiroz producaodiario@svm.com.br
Yury Rufino Queiroz é procurador do Estado e advogado Mestre em Direito
Legenda: Yury Rufino Queiroz é procurador do Estado e advogado Mestre em Direito
Em uma manhã de eleições, um cidadão caminha até a urna eletrônica com a certeza de que sua escolha por determinado candidato é livre. Mas será que é? Nos últimos anos, a internet, associada as redes sociais e, agora, a inteligência artificial tem transformado radicalmente a maneira como as pessoas se informam e emitem suas opiniões. Tal transformação impactou direta e imediatamente o cenário político.
 
É bem verdade que a disputa pelo controle da narrativa política e da persuasão do eleitorado, em nosso país, não é nenhuma novidade. Se antes ocorria com o voto de cabresto, passando pela influência midiática, com discursos cuidadosamente planejados por equipes de marketing e o reforço à imagem dos líderes, através da rádio e televisão, hoje a popularidade na internet é capaz de catapultar uma candidatura, transformando-a em verdadeiro fenômeno.
 
A questão que se impõe é: até que ponto as escolhas dos eleitores são fruto da autonomia individual da vontade ou serão agora da influência silenciosa dos algoritmos? 
 
Cada vez mais, a guerra pelo voto sai dos panfletos e comícios em praças públicas e passa a acontecer no território invisível dos dados. Empresas de tecnologia coletam informações sobre nossos gostos, medos, hábitos e até nossas fragilidades emocionais. Com isso, algoritmos são capazes de personalizar propagandas comerciais com a maior probabilidade de nos convencer.  
 
Não é demais pensar que passem a personalizar também discursos políticos, garantindo que cada eleitor receba a mensagem adequada a sua persuasão. A campanha eleitoral passaria a não mais ser um ato coletivo, mas uma experiência individualizada, projetada sob medida para a psique de cada cidadão. 
 
Com o avanço das IAs generativas, mensagens políticas podem ser criadas e distribuídas em escala industrial, sem que sequer percebamos que estamos sendo persuadidos. Se as fake news já eram uma ameaça, a inteligência artificial elevou essa estratégia a outro patamar. Hoje, vídeos falsos hiper-realistas podem colocar palavras na boca de qualquer candidato ou destruir a imagem de outros. Perfis automatizados podem simular interações humanas para inflar discursos extremistas ou gerar uma falsa sensação de consenso social. 
 
A influência da IA nas eleições pode não se resumir à desinformação. A frequência e a forma com que os algoritmos de busca organizam os resultados tem a capacidade de influenciar a intenção de voto dos eleitores indecisos.  
 
Governos ao redor do mundo tentam reagir. Na União Europeia, novas leis exigem maior transparência no uso de algoritmos em campanhas políticas. No Brasil, há debates sobre como coibir a desinformação sem comprometer a liberdade de expressão. Mas será que as regras conseguirão acompanhar o ritmo vertiginoso da evolução tecnológica? 
 
A inteligência artificial não é, em si, inimiga da democracia. Se bem utilizada, pode ajudar na checagem de fatos, ampliar o acesso à informação e até combater a manipulação digital. No entanto, sem regras claras e uma sociedade atenta, será que o seu uso indevido não pode tornar o detentor da tecnologia no grande arquiteto de eleições futuras, definindo vencedores antes mesmo do primeiro voto ser depositado? 
 
Yury Rufino Queiroz é procurador do Estado e advogado Mestre em Direito
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