Investindo na vida
A verdade é que o envelhecimento, por si só, não deveria ser visto como vilão
O Brasil deve encerrar 2024 com movimentação na saúde acima de R$ 451 bilhões, 8,8% a mais que em 2023, segundo o IPC Maps. A princípio, pode parecer sinal de progresso, mas é essencial analisar essa cifra com olhar mais crítico e humanizado. O que está por trás desse crescimento? E mais: quais são as implicações para o futuro da nossa saúde?
A narrativa dominante atribui parte desse aumento ao envelhecimento da população, como se o simples fato de viver mais fosse, por si só, causa inevitável para aumento dos gastos. Mas será que essa é a história completa? Ao invés de aceitarmos passivamente essa explicação, precisamos questionar: e se tivéssemos investido mais em medidas preventivas e promoção da saúde nos últimos anos? Será que nossos idosos não estariam envelhecendo de forma mais saudável, demandando menos intervenções médicas e, assim, reduzindo a pressão sobre o sistema de saúde?
A verdade é que o envelhecimento, por si só, não deveria ser visto como vilão. Pelo contrário, representa um triunfo da sociedade, mas o que estamos observando, contudo, é reflexo de uma falha coletiva em priorizar a prevenção ao longo da vida.
O SUS tem sido fundamental na promoção da saúde. Porém, a falta de políticas públicas robustas e a fragilidade no financiamento têm levado a um sistema de saúde que, muitas vezes, se vê sobrecarregado e que depende, em parte, da iniciativa privada.
A crescente mercantilização da saúde é crucial nesse cenário. Com a expansão dos planos de saúde e da rede privada, temos visto uma mudança perigosa na forma como a saúde é tratada. A abertura de farmácias e ampliação dos serviços privados pode parecer bom para o mercado, mas para o cidadão, muitas vezes, se traduz em acesso mais caro e menos equitativo a cuidados essenciais. O que deveria ser direito de todos está se tornando, cada vez mais, privilégio de poucos.
Se queremos realmente mudar esse cenário, precisamos rever prioridades e fortalecer o SUS deve ser o centro das atenções.
A saúde não pode ser reduzida a cifras e gráficos. Deve ser medida pela qualidade de vida que proporciona, com a garantia de que todos, do nascimento à velhice, terão acesso ao cuidado que precisam.