Endometriose: é hora de falar sobre a dor invisível de milhões de mulheres

Apesar desses números alarmantes, ainda enfrentamos um grande obstáculo: a desinformação e a consequente desqualificação dos sintomas

Escrito por
Leonardo Bezerra producaodiario@svm.com.br
Professor da UFC, ginecologista especialista em saúde da mulher
Legenda: Professor da UFC, ginecologista especialista em saúde da mulher

Hoje, 7 de maio, celebramos o Dia Internacional da Luta contra a Endometriose, uma doença que afeta entre 6% e 10% das mulheres em idade fértil no mundo, cerca de 190 milhões. No Brasil, uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva sofre com essa enfermidade. Nos últimos anos, o número de atendimentos relacionados à endometriose no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentou significativamente. Em 2022, foram 82.693 atendimentos, que passaram para 115.765 em 2023 e já atingiram 145.744 em 2024, o que representa um crescimento de 76,24% em três anos. O diagnóstico mais efetivo com exames de imagem e a pesquisa mais diligente na escuta clínica tem aumentado esse diagnóstico.

Apesar desses números alarmantes, ainda enfrentamos um grande obstáculo: a desinformação e a consequente desqualificação dos sintomas. Dores menstruais incapacitantes são frequentemente confundidas com "cólicas normais", típicas da fase reprodutiva, o que leva a atraso médio de até 7 anos para o diagnóstico. Nesse intervalo, a dor se torna crônica, a qualidade de vida se deteriora, e as consequências físicas e emocionais se acumulam, incluindo infertilidade, depressão, absenteísmo no trabalho e dificuldades nos relacionamentos afetivos, até mesmo com disfunção sexual grave.

Como especialista em saúde da mulher, não posso deixar de enfatizar que a dor não deve ser normalizada. Mulheres que convivem com dores pélvicas intensas, cólicas menstruais severas, dor nas relações sexuais ou dificuldades para engravidar merecem ser ouvidas e investigadas com seriedade.

O tratamento da endometriose varia de acordo com a gravidade dos sintomas, a localização das lesões e os objetivos da paciente, como alívio da dor ou desejo de engravidar. Em muitos casos, é possível controlar os sintomas com o uso de medicações hormonais orais, como anticoncepcionais ou o DIU com progesterona, que ajuda a reduzir a menstruação e a inflamação local. Já em situações mais complexas ou quando há falha do tratamento clínico, pode ser indicada a cirurgia minimamente invasiva (por videolaparoscopia ou Robotica), que permite a retirada das lesões com precisão e menor tempo de recuperação.  

Neste 7 de maio, convido toda a sociedade – profissionais de saúde, gestores públicos, educadores, empresas e famílias a se unirem na luta contra o silêncio e o estigma que ainda cercam a endometriose. Informar é o primeiro passo. Ouvir é o segundo. E agir, com políticas públicas efetivas de diagnóstico, tratamento e acolhimento, é o terceiro e mais urgente. Porque endometriose não é "frescura", não é "coisa da cabeça", e não pode mais continuar sendo invisível.

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