Cidade fragmentada: desigualdades e desafios para Fortaleza em ano de eleição

Escrito por Clelia Lustosa ,
Clelia Lustosa é coordenadora do núcleo Fortaleza do Observatório das Metrópoles e Professora do Departamento de Geografia - UFC
Legenda: Clelia Lustosa é coordenadora do núcleo Fortaleza do Observatório das Metrópoles e Professora do Departamento de Geografia - UFC

Cresce a segregação social e a autossegregação, com a construção dos condomínios de luxo, verdadeiras fortalezas dentro de Fortaleza, fragmentando o espaço urbano. Antes a capital se caracterizava por um centro e uma periferia. Atualmente, a cidade é um arquipélago, com ilhas de riqueza num mar de pobreza. Condomínios de luxo estão justapostos espacialmente a favelas, alojamento de trabalhadores domésticos e prestadores de serviços, mas separados socialmente, pois a população vulnerável não tem acesso aos mesmos serviços. Nos bairros da regional 2, estão sedes de grandes grupos econômicos, redes de hotéis, restaurantes, galerias de arte e shopping centers e nas proximidades, as favelas das Placas, Pau Fininho, Verdes Mares, Castelo Encantado, Campo do América, Poço da Draga.

Enquanto no Meireles, bairro mais homogêneo, a renda média mensal domiciliar, em 2010, variava de R$ 2.133,00 a 9.550,00, no Vicente Pinzon a desigualdade é mais chocante, com renda variando de R$ 56,00 a 2.593,00, em razão do maior número de favelas, aponta Rebeca de Oliveira, em sua dissertação (2023). Os vinte setores com os piores Índices de Vulnerabilidade social (2010), segundo Rachel Araujo (2015), estavam dispersos por vários bairros, inclusive nos de renda média e alta.

Fortaleza, com 2.428.678 habitantes, é a terceira cidade do Brasil em número de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família (347.408), atrás apenas de São Paulo (11.451.245 hab) e Rio de Janeiro 2.617.068 hab) (DN, 07.02.2024). Ao mesmo tempo, o Ceará, o 6º do Brasil em números bilionários (17), acumulando uma fortuna de R$ 48,7 bilhões (DN, 10.9.2023). Estes dados revelam a contradição social, apresentando de um lado concentração de renda e de outro, baixos indicadores socioeconômicos.

O aumento da desigualdade na RMF, registrado pelo Observatório das Metrópoles, acirra a violência, impactando nos novos arranjos espaciais. Há um aumento

da fragmentação social e espacial na RMF, como demonstra Fabiano Freitas (2019), em sua tese defendida na Pós-graduação da Geografia da UFC. O discurso da violência e a sensação de insegurança e medo são usados na publicidade para venda dos chamados enclaves fortificados, termo utilizado por Tereza Caldeira, em “Cidades dos muros”. Os condomínios urbanos são cidades muradas que se articulam por meio do sistema viário com outros grandes equipamentos privados (escolas, torres de serviços, shopping centers, hospitais, parques aquáticos, condomínios litorâneos e serranos), também vigiados, contribuindo para que os moradores vivam em “bolhas”.

Clelia Lustosa é coordenadora do núcleo Fortaleza do Observatório das Metrópoles e Professora do Departamento de Geografia - UFC

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