A (má) ideia de Tarcísio

Felizmente a sensatez prevaleceu, diante do recuo do governador em decorrência da mobilização de políticos de oposição que interpuseram uma ação popular contra sua decisão

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, anunciou, recentemente, sua decisão de abandonar o uso de livros impressos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), adotando apenas material didático digital produzido pela Secretaria de Educação do Estado. O político paulista não poderia ter tomado medida mais infeliz. Logo foi duramente rechaçado por especialistas ligados à educação. Tarcísio resolvera abrir mão de uma verba federal, no valor de R$ 120 milhões, destinada à aquisição de livros do PNLD para uso dos alunos do ensino fundamental, do sexto ao nono ano daquele nível de ensino. Sua intenção de rejeitar o uso dos livros impressos sofreu duras críticas da parte dos profissionais em pedagogia. Para estes, os livros digitais que seriam impostos aos alunos não contribuiriam positivamente no processo de aprendizagem, como acontece com os impressos, que favorecem a retenção de conteúdo com eficiência muito superior.

Um outro aspecto que o governador parece ignorar - talvez mal assessorado ou por puro desconhecimento mesmo - é o fato de que, embora São Paulo seja o Estado mais rico e desenvolvido da federação, padece, como os demais, de diversas dificuldades estruturais. Entre elas, a inacessibilidade de parte da população à internet e aos computadores. Há muitas regiões onde a precariedade de acesso à rede mundial é evidente, o que já inviabilizaria o desejo do político do Republicanos em implantar mudança tão radical. Questionado sobre esta limitação tecnológica, o secretário de Educação, Renato Feder, declarou que as escolas poderiam imprimir os livros para os alunos que deles precisassem, como se esta fosse uma solução simples. Em muitas escolas paulistas, todavia, faltam papel e impressoras, outra barreira a impossibilitar o projeto de Tarcísio.

Felizmente a sensatez prevaleceu, diante do recuo do governador em decorrência da mobilização de políticos de oposição que interpuseram uma ação popular contra sua decisão. A liminar concedida pelo juiz Antônio Augusto Galvão de França defende que tal mudança acarretaria, se efetivamente adotada, muitos prejuízos à formação escolar. De tudo isto se pode tirar facilmente uma conclusão: políticos como Tarcísio de Freitas e outros parecem viver num mundo irreal, como se fosse possível, com um estalar de dedos, alterar a realidade social e desigual em que vivem muitos segmentos populares. Além disso, o livro didático impresso tem sido, ao longo de décadas, eficiente e democrático instrumento para difusão do conhecimento nas escolas. Absurda e até má, pois, qualquer intenção em contrário.

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