Quase metade dos cearenses hospitalizados por Covid em 2021 tem menos de 60 anos
Até março, mais de 8,8 mil pessoas foram internadas com síndrome respiratória aguda grave pela doença
Com a segunda onda de Covid-19 no Ceará atingindo em cheio os mais jovens, as hospitalizações de pessoas com menos de 60 anos já correspondem a 48% do total de 2021, segundo boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde (Sesa) divulgado na quinta-feira (1º).
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Entre janeiro e 27 de março, 8.838 pacientes foram hospitalizados no Ceará para tratamento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada pelo coronavírus. Do total, 4.211 delas tinham entre 0 e 59 anos de idade, e as outras 4.627 eram idosas.
A faixa etária que concentra mais internações, porém, é a de 60 a 69 anos: em pouco menos de três meses, 1.671 cearenses neste intervalo de idade precisam ser hospitalizadas por complicações da Covid. Em seguida, vêm idosos de 70 a 79 anos, com 1.579 registros no boletim oficial.
No panorama geral, os homens respondem por 54,4% das internações no Estado, com 4.804 casos de janeiro a março, contra 4.034 mulheres (45,6%).
Casos crescem entre mais jovens
De março a setembro de 2020, intervalo de incidência da primeira onda da Covid no Ceará, a proporção de pessoas não-idosas internadas pela doença era de 40%: dos 19.802 pacientes hospitalizados no período, 8.005 tinham até 59 anos, e os outros 11.797 tinham 60 ou mais.
A porcentagem se mantém mesmo quando 2020 inteiro é observado. Do início da pandemia no Estado até dezembro do ano passado, 25.161 pessoas com SRAG por Covid foram internadas, das quais 15.111 (60%) eram idosas e 10.050 tinham menos de 60 anos de idade. Os dados são de boletins epidemiológicos da Sesa.
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As infecções têm crescido entre cearenses mais jovens. Na primeira onda pandêmica, foram confirmados 115.910 casos de Covid em pessoas de 15 a 39 anos. Em seis meses de segunda onda, ativa desde outubro, já são mais de 127 mil novas infecções, quase 10% a mais.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, o infectologista Keny Colares, que atua no Hospital São José (HSJ), alertou que a influência da gravidade das novas variantes nesse cenário ainda não é comprovada cientificamente, mas pode ocorrer.
O principal fator para crescente acometimento de jovens, ele analisa, é o comportamento.
“Os cuidados com isolamento estavam sendo muito negligenciados, no final do ano passado, principalmente entre os mais jovens. As variantes são mais contagiosas, sim, mas nenhum estudo mostra 'predileção' delas por essas faixas de idade.”
Já o médico Jorge Henrique de Carvalho, preceptor da residência médica de cardiologia e emergência no Hospital de Messejana (HM), aponta que "isso é creditado às variantes".
"Era algo descrito como não-comum na primeira onda. Outra coisa é a agressividade de como a doença tem acometido esse paciente, alguns, com semanas internados, sem sinais de recuperação. A suspeita fortíssima baseada na literatura é de que esses pacientes foram acometidos por variantes diferentes", pontua.
Samuel Arruda, microbiologista e biomédico, alerta para o impacto dessa “virada de chave” entre as faixas etárias mais hospitalizadas para a resistência do sistema de saúde, principalmente no que se refere a leitos de UTI.
“Muitos profissionais já dizem que precisam avaliar qual paciente tem mais chances de sobreviver. Os jovens levam maior tempo de internação nas UTIs, reduzindo as vagas disponíveis. Isso é muito sério”, frisa.