Pacientes diabéticos denunciam insulinas vencidas e a falta do medicamento nos postos de Fortaleza

Secretaria de Saúde de Fortaleza também reconheceu que houve um problema logístico no transporte da medicação

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Medicamentos comprados de forma individual pesam no orçamento mensal, segundo pacientes.
Foto: Talita de Moisés/Reprodução

A falta de insulina nos postos de saúde e o recebimento da medicação próximo à data do vencimento são algumas das questões enfrentadas por pacientes diabéticos desde março, em Fortaleza. Muitos deles estão tendo que arcar com os custos elevados dos remédios por conta própria.

A Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) informou que o abastecimento dos medicamentos na Capital é de única responsabilidade da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

A SMS esclarece que, desde dezembro de 2020, o Ministério da Saúde tem encaminhado a insulina Asparte com data de validade muito próxima ao vencimento, “apesar do requerimento do medicamento ser realizado no período correto pelo município”, informa.

Além disso, a Secretaria relatou que houve um problema logístico no transporte da insulina Glargina, e que ela deverá ser entregue pelo fornecedor durante a próxima semana às redes municipais de saúde.

O Diário do Nordeste entrou em contato com o Ministério da Saúde, que não deu um retorno sobre a questão até a publicação desta matéria.

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O médico endocrinologista Victor Rezende ressalta que a diabetes é uma doença silenciosa e bastante comum decorrente do aumento das taxas de glicose no sangue.

A elevação da glicemia é relacionada à produção deficitária ou à dificuldade na ação da insulina, que é um hormônio produzido naturalmente pelo pâncreas dos seres humanos”.
Victor Rezende
Endocrinologista

Rezende pontua ainda que não há como garantir que o medicamento desempenhe a ação dele de forma adequada após o período de validade estabelecido pelo fabricante. “Sendo assim, insulinas vencidas não devem ser utilizadas”.

A preocupação dos pacientes

De acordo com a estudante de pós-graduação de Políticas Públicas e paciente diabética tipo 1, Talita de Moisés, está sendo comum ocorrer atrasos no recebimento da medicação.

“Espera uma hora para o atendimento e, quando chega lá, dizem que não chegou ainda. Pedem para ir dois dias depois. Nesse mês, o diferente é que não houve recebimento, não está sendo só um atraso”, conta.

Mês passado, para você ter uma ideia, eu recebi insulina vencida, essa que vem do Governo Federal. Ela estava com prazo de validade até março e o dia do meu recebimento foi 30 de março”
Talita de Moisés
Estudante

Talita explica ainda que o remédio é de suma importância para ela, pois seu pâncreas não produz insulina por conta própria. “Se eu não tomar, realmente [a glicose] vai para um pico, eu vou me hospitalizar, esse é o padrão. Não é uma questão de não comer coisas doces. Tudo o que é carboidrato vai virar açúcar no sangue e não tem como não se alimentar, não há essa opção”.

O nutricionista e mestrando em Nutrição e Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Alexandre Danton, ressalta que a alimentação dos pacientes deve ser seguida de forma vinculada à prescrição de insulina em muitos casos.

“A alimentação, mesmo considerada saudável e equilibrada, não irá substituir, de alguma forma, a insulina. Estamos falando de um hormônio que é essencial para o metabolismo de nutrientes. Assim, sem a ação efetiva do medicamento a célula não terá substrato energético para desempenhar suas funções, causando prejuízo direto a diversas funções em todos os sistemas corporais”, continua.

Gastos financeiros com as medicações

A estudante Talita de Moisés relata também que teve de arcar com os custos dos remédios devido à falta do insumo nos postos de saúde.

“Cada caneta [de insulina] custa R$120, é uma medicação de alto custo. O pacote inteiro desse tipo de tratamento é uma média de R$1.200, R$1.300 mensais. Se eu fosse arcar do meu bolso, realmente seria pesado financeiramente falando”.

Essa situação também foi enfrentada pela dona de casa Elisabeth Cavalcante, mãe de Jeferson - paciente diabético tipo 1. A falta de insulina nos postos de saúde afetou os gastos da família no período. “É R$130 um frasquinho. Nós compramos as duas [insulinas]. Uma é R$130 e a outra é R$41, a unidade. Fica muito caro”.

A mãe descreve ainda que o remédio é a vida do filho. “Se ele não tomar a insulina, ele entra em coma. É a vida, é a vida mesmo. Não tem como deixar de tomar, é por uma vida até morrer”.

Complicações da diabetes

Segundo o endocrinologista Victor Rezende, se a diabetes não for tratada adequadamente, ela poderá ocasionar inúmeras complicações de curto e longo prazo, como infarto, acidente vascular cerebral, insuficiência renal e cegueira.

“No entanto, existe uma complicação aguda, sobretudo para os portadores de diabetes tipo 1, que pode levar ao coma e até morte, chamada cetoacidose diabética, que ocorre quando os níveis de glicose no sangue estão bastante elevados, levando à produção de corpos cetônicos que tornam o sangue ácido. Ela pode se desenvolver e evoluir em poucas horas, tendo como uma de suas causas a não aplicação da insulina”, explica.

Victor alerta aos pacientes que estão sofrendo com a falta de insulina nos postos de saúde que procurem um médico para avaliar o uso temporário de outros tipos do insumo também disponibilizados pelo Governo, como as insulinas NPH e Regular, “a fim de minimizar os riscos para desenvolver complicações agudas da doença”.

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