Operação contínua tenta abrir vagas no Cemitério do Bom Jardim
Administração procura opções para o espaço, cuja capacidade inicial se esgotou em 2010, mas continua recebendo cerca de 12 sepultamentos por dia. Novos ossuários, incinerações e cremações estão entre as alternativas estudadas pela Prefeitura de Fortaleza
As folhas se despregam dos galhos, rodopiam no ar e descansam no chão do terreno na Regional V da Capital. Ali, morrem jovens, assim como Igor, que não queria morrer. Contava 15 anos no calendário quando seu dia chegou, encerrando o futuro de ser: atleta, biólogo, caminhoneiro, avô? Interrogações agora sem resposta. Assim como o caso de Victor, abreviado aos 16. E o de Daniel, a poucos passos dali, interrompido um mês antes de completar 17.
Hoje, os três ocupam alguns retângulos de terra dentro dos 82 mil m² do Cemitério Público Parque Bom Jardim, único ainda a receber sepultamentos na cidade. O equipamento também morreu jovem: em 2010, aos 16 anos, alcançou a vaga zero. A Secretaria Regional V, à época, chegou a sugerir um novo cemitério como saída para desafogá-lo.
Oito anos depois, o titular da área, Ronaldo Nogueira, reconhece que já não existem mais terrenos dentro de Fortaleza capazes de receber uma necrópole desse porte: com capacidade para 80 mil sepultamentos, já realizou mais de 114 mil - são, em média, de 3 a 4 mil por ano; doze por dia, com picos de mais de 30.
Em projeção simples, conforme o secretário, o cemitério ainda pode durar de sete a dez anos. "A preocupação da municipalidade é qual é o futuro. Se não partirmos para outro modelo, teremos muita dificuldade", revela. A Prefeitura vem buscando alternativas e pesquisando outros modelos de sepultamento, inclusive fora do Ceará.
Crematório
Há três caminhos. Um cemitério vertical, embora sepulte mais numa área menor, também cai no dilema do espaço. Pensa-se nas incinerações, a pulverização de um cadáver já exumado. O valor de R$ 0,50 seria cobrado por quilo (um corpo de 80 kg, por exemplo, passa a pesar de 18 kg a 25 kg depois de cinco anos), e a Prefeitura pagaria de R$ 9 a R$ 12 por procedimento.
Mais salgada, uma cremação custaria em torno de R$ 1 mil. Nesse caso, o corpo nem chega a ser enterrado; vai direto para um forno a 900 ºC. Para o secretário, diante de possível recusa das famílias, o ideal seria uma regulamentação que dissesse: "aqui, só sepultamos através de cremação". Nogueira já enviou à Procuradoria Geral do Município (PGM) um levantamento de custos para cerca de 20 mil incinerações.
Enquanto busca soluções para o quebra-cabeças, a demanda continua. E um dos motivos para a superlotação é que cerca de 20% dos sepultamentos são de membros amputados de pessoas diabéticas, com lesões graves ou envolvidas em acidentes de trânsito. Como não há jazigo específico para eles, os restos orgânicos são enterrados no mesmo espaço de um corpo inteiro. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece que peças anatômicas humanas sem valor científico devem ser encaminhadas para sepultamento, incineração ou cremação.
Outro fator para o excesso é o sepultamento de munícipes da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e do Interior do Ceará. Segundo Nogueira, algumas famílias em dificuldades financeiras conseguem atestado de moradia na Capital ou buscam apoio para parentes falecidos na cidade. Assim, a Prefeitura enterra "por solidariedade". Após cinco anos, a família pode pedir a exumação para translado, pela qual os restos são transferidos para outra cidade.