No Dia da Enfermagem, profissionais compartilham experiências no enfrentamento à Covid-19

Apesar de estarem mais seguros do manejo clínico dos pacientes infectados, profissionais comentam desafios que ainda enfrentam

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Equipe de enfermagem do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA) prestando apoio a infectados pela Covid-19.
Legenda: Equipe de enfermagem do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA) prestando apoio a infectados pela Covid-19.
Foto: Arquivo pessoal

Combatentes da linha de frente da pandemia de Covid-19, enfermeiros representam uma das categorias profissionais mais determinantes na melhora dos infectados pelo novo coronavírus. Isso porque são eles que cuidam ininterruptamente dos doentes em diferentes aspectos, sejam clínicos ou emocionais. Consequentemente, os enfermeiros são os segundos profissionais da saúde mais acometidos pela doença em número de casos (2.165), de acordo com dados do IntegraSUS nesta terça-feira (11). Técnicos e auxiliares de enfermagem são os profissionais mais afetados (6.321 casos). 

Nesta quarta-feira (12), em que se celebra internacionalmente o Dia da Enfermagem e do Enfermeiro, o Diário do Nordeste convidou profissionais para relatarem suas vivências no enfrentamento à pandemia e expor como se sentem após um ano de trabalho exaustivo.

Nancy Costa de Oliveira Caetano gerencia uma equipe de 400 enfermeiros no Hospital São José, referência no tratamento de doenças infecciosas em Fortaleza. Mesmo atuando há 15 anos no hospital e tendo de lidar diariamente com a epidemia de Aids/HIV, ela conta que jamais imaginou um dia enfrentar algo como a Covid-19.

“O primeiro momento foi extremamente assustador. As condutas [hospitalares] tinham de ser reajustadas a cada dia”, lembra a enfermeira e gerente de enfermagem do HSJ. Hoje, ela diz, “a gente está um pouco mais confortável no que diz respeito ao manejo dos pacientes com Covid-19, apesar de que tudo ainda é um mistério, uma vez que a cura não é conhecida”.

Nancy Costa, à dir., vacinando contra a Covid-19 uma de suas colegas de profissão.
Legenda: Nancy Costa, à dir., vacinando contra a Covid-19 uma de suas colegas de profissão.
Foto: Diego Sombra/Hospital São José

Apesar do “fôlego” adquirido no manejo clínico, os desafios pessoais dos enfermeiros persistem. E Nancy, às vezes, precisa driblar os próprios para ajudar os colegas a enfrentarem os deles. “Estar numa gerência faz com que você tente se superar a cada momento porque nós temos nossos medos, questionamentos, mas tudo isso tem que ser trabalhado para que você passe segurança e tranquilidade para aquelas pessoas que veem você como líder”, comenta.

Como outros profissionais da saúde, Nancy se sente vulnerável e diariamente teme levar a doença do hospital para sua filha, esposo e pais idosos. No entanto, conta, com orgulho, que nunca teve dúvida em relação à sua profissão e que justamente essa realização é o que tem dado força e motivação para continuar enfrentando a pandemia, apesar dos medos. 

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“O compromisso e essa sensação de realização plena enquanto profissional nos impulsiona a continuar na luta, a dar o nosso melhor para os pacientes que estão sob nossa responsabilidade”, garante a enfermeira, que defende, ainda, que a categoria seja apoiada em todos os aspectos, do técnico ao psicológico. “Os profissionais estão exaustos. Muitos adoeceram”, compartilha.

“Jamais pensei que fosse sair dos livros”

A coordenadora de enfermagem do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), Aline Freitas Campelo, 39, nunca imaginou que enfrentaria uma pandemia. “Durante o período da faculdade a gente lia, estudava. Jamais imaginava que um dia pudesse vivenciar algo assim. Uma pandemia, realmente. Jamais pensei que fosse sair dos livros”.

Como Nancy, a profissional garante que, hoje, os enfermeiros estão mais habituados aos protocolos clínicos de tratamento da infecção. Porém, um dos momentos recentes mais difíceis para ela foi o de ter de reativar leitos devido ao aumento no número de novos casos. “Aquilo nos entristeceu”, partilha Aline, destacando que o fator psicológico ainda abala muito.

Aline Freitas Campelo, gerente de enfermagem do HMJMA, e sua equipe.
Legenda: Aline Freitas Campelo, gerente de enfermagem do HMJMA, e sua equipe.
Foto: Arquivo pessoal


Por isso, Aline diz que o hospital tem feito um trabalho multidisciplinar continuado com os profissionais, tanto prestando suporte psicológico como nutricional e motivacional. Neste último aspecto, ela diz, quem acaba sendo beneficiado, também, são os pacientes internados na unidade — lá, são duas enfermarias e um setor de terapia intensiva (UTI) para a Covid-19. “Temos alguns enfermeiros que, no decorrer do plantão, tocam violão para os pacientes”, diz. 

Além disso, a gestora conta que faz questão de passar em cada unidade de tratamento agradecendo à equipe pelo apoio e desempenho.

A enfermagem faz parte da minha vida, em todos os sentidos. Poder estar na linha de frente e contribuir nesse momento de pandemia vai ser algo para a história. A história do País, do mundo. Me sinto muito honrada”.
Aline Freitas Campelo
Coordenadora de enfermagem do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA),

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