No Ceará, 1 em cada 5 meninas já sofreu violência sexual, segundo IBGE
Além disso, 9,5% das adolescentes relataram já terem sido forçadas ao sexo. Maioria por namorado
No Ceará, uma em cada cinco adolescentes já sofreu importunação sexual, seja com toques, manipulações, beijos ou exposições de partes de seu corpo sem autorização. O dado está na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019 divulgada nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, a partir de respostas de estudantes entre 13 e 17 anos de idade de escolas públicas e privadas do Estado, o estudo constatou que 9,5% das meninas já chegaram a ser forçadas ao sexo, principalmente por namorados, ex-namorados, ficantes, “crushs” e até amigos. O percentual baixou para 4,7% quando os meninos é que foram as vítimas.
A pesquisa ouviu os adolescentes de maneira sigilosa, protegendo suas identidades, o que facilitou descobrir, por exemplo, que a maior parte das importunações sofridas tanto por meninas (21,6%) quanto por meninos (9,2%) é cometida por quem eles consideram amigos.
Para a psicóloga escolar e mestre em psicologia Lorena Lopes, que tem experiência clínica em atendimento infantojuvenil e de adultos, a violência sofrida por amigos pode ser explicada pelo fato de que a escola é o lugar onde acontecem as primeiras experiências sociais dos adolescentes, com aproximações, inclusive, relacionadas à paquera e ao namoro.
“Pode ser que aconteça de uma menina se aproximar e o menino, talvez, não ter traquejo, forma de chegar, e ela sentir isso como uma violência”, pontua a profissional. Contudo, Lopes acredita que os jovens, atualmente, já conseguem diferenciar melhor o que é carinho e o que é abuso e têm mais consciência sobre a importância do consentimento.
A gente observa que os adolescentes de hoje já conseguem verbalizar que aquilo não foi legal. Que aquele abraço foi fora do que queria, se esperava”
Denúncia
Justamente por ser um espaço de proteção social, a escola precisa estar preparada para identificar as violências, acolher as vítimas e notificar os casos ao Conselho Tutelar, que é responsável por dar os devidos encaminhamentos para a apuração do crime e responsabilizar quem cometeu, independentemente de ter sido outra criança e adolescente, visto que esse grupo é passível de cometer atos infracionais e pode ser culpabilizado conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Amanda Oliveira, assessora jurídica do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), diz que educadores devem ser profissionais capacitados para identificar sinais de violência sexual e orienta à escola agir tanto de forma preventiva quanto de forma a acolher as vítimas.
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“O adolescente pode não se sentir confortável pra falar, a gente sabe que existem estigmas em torno do tema. [...] E é importante, também, que na escola tenha uma rede de apoio psicossocial, de não culpabilizar a vítima, mas ouvi-la, deixar que sua voz tenha protagonismo naquele momento, porque é muito difícil”, sugere a assessora, que defende que a família também seja incluída no processo e que também ampare o adolescente e não o revitimize.
Diálogo aberto
Uma violência sexual sofrida na adolescência pode provocar impactos psicológicos sérios como depressão, traumas e bloqueios relacionais.
Para prevenir isso, de acordo com a psicóloga escolar Lorena Lopes, é preciso que se fale ainda mais, tanto na família, em casa, como nas escolas, sobre sexualidade.
Às vezes, a gente tem a ideia de que sexualidade é sexo, falar sobre sexo pra crianças, e não é isso. Nas escolas, nas famílias, esse debate precisa ser aberto no sentido de que eu preciso conhecer o meu corpo, preciso me posicionar sobre quem pode ou não acessar, porque existem lugares que são muito íntimos”
Saúde sexual e reprodutiva
Ainda segundo dados do IBGE, as escolas cearenses precisam avançar mais não só no que diz respeito a questões de sexualidade e violência como, também, de saúde sexual e reprodutiva. Nas escolas públicas e privadas do Estado, em 2019, 72,1% dos estudantes disseram ter recebido orientação sobre prevenção de gravidez, 79,3% sobre HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e 61,8% sobre aquisição gratuita de preservativo.