Mulheres se vacinam mais contra a Covid-19 do que homens no Ceará; 56% dos óbitos são masculinos
Eles são afetados pelos quadros mais graves da infecção por coronavírus – e morrem mais pela doença
O avanço da vacinação contra Covid-19 no Ceará, em números, é liderado por um gênero: o feminino. Mulheres cearenses têm comparecido mais aos postos de vacinação do que os homens. Cerca de 1,58 milhão de doses foram aplicadas nelas, e 1,11 milhão neles.
Os dados são do Integra SUS, da Secretaria da Saúde (Sesa), e consideram as quase 2,7 milhões de aplicações de D1 e D2 até domingo (20) no Estado. Do total, 59% foram em mulheres e 41% em homens, resultando numa diferença de 478.313 mulheres a mais vacinadas.
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O balanço foi alvo de alerta do secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, durante live de atualização do cenário da pandemia no Ceará, no último sábado (19).
É muito importante lembrar aos homens da importância de se vacinarem, porque em geral os quadros têm sido mais graves na população masculina do que na feminina.
A fala do gestor é reforçada pelas estatísticas: são as mulheres que mais adoecem, mas, em paralelo, a gravidade com que o coronavírus incide sobre os homens é maior.
Até o dia 20 deste mês, dos 864.305 casos confirmados com gênero informado à Sesa, 478.589 atingiram mulheres (55%) e 385.716 homens (45%), uma diferença de 92.873 pessoas do sexo feminino infectadas a mais.
Por outro lado, dos 22.064 óbitos por Covid-19 com gênero informado até o dia 20, 12.298 foram de homens (56%), e os 9.766 restantes de mulheres.
Crenças e comportamentos prejudicam homens
O imunologista Edson Teixeira, professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), alerta que a negligência da população masculina com o autocuidado é histórica, indo além da Covid-19.
“Homens vão muito menos a consultas, por exemplo. Fazem menos prevenção – e, inclusive, tomam menos vacinas”, pontua o especialista.
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Os possíveis motivos para isso vão desde o mercado de trabalho, onde os homens ainda predominam e, por isso, em teoria, teriam “menos tempo” para cuidar da saúde; até o próprio machismo, ainda predominante entre os nordestinos.
Tem toda essa questão comportamental do Nordeste de que o homem é forte, não pega doença, não tem pra que se prevenir, só remediar, se for o caso. Não é uma coisa da Covid, é histórica.
Um estudo realizado com 2.259 cearenses em abril de 2020 apontou que, com base em crenças e comportamentos locais, homens, pessoas com baixa escolaridade, idosos a partir de 80 anos e moradores do interior estariam mais vulneráveis à Covid-19.
Entre os que acreditavam que "temos alguma proteção ao vírus diferente dos outros lugares", 24% eram homens e 19% mulheres. "Nosso clima quente favorecerá a diminuição da pandemia?" Disseram "sim" 48% dos homens e 40% das mulheres.
dos homens acreditavam que a contaminação por coronavírus seria menor no Ceará do que em outros estados.
A pesquisa foi elaborada antes do primeiro decreto de isolamento social no Estado, pelos professores Danilo Lopes Ferreira Lima e Jiovanne Rabelo Neri, do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza e da Unichristus.
Para o imunologista Edson Teixeira, é necessária uma campanha específica de conscientização da população masculina, para que o alcance da imunidade geral não seja prejudicado.
“Temos que ir vacinar nas empresas, usar os agentes de saúde da família para buscar os indivíduos em casa. Colocar todo o bloco na rua pra ampliar esse acesso às vacinas”, avalia.
Por que homens morrem mais de Covid?
A tendência de homens serem atingidos por quadros mais graves da Covid-19 é biológica, como explicou a infectologista Melissa Medeiros, do Hospital São José (HSJ), em entrevista ao Diário do Nordeste em maio deste ano.
Os homens têm mais receptores do vírus, evoluem pra casos mais graves. E talvez existam subnotificações. Os homens, se têm casos mais leves, não procuram sistema de saúde.
Segundo Melissa, a procura por assistência hospitalar na primeira onda da pandemia em Fortaleza era igual entre os gêneros, mas “muito mais homens eram internados e eles tinham maior tendência de evoluir para óbito”.
Outro fator também considerado pela infectologista são as comorbidades: justamente por não terem cuidado de rotina com a saúde, doenças como hipertensão e diabetes, por exemplo, os afetam de formas mais severas.