Governo faz pesquisa com alunos sobre retorno às aulas presenciais
A Secretaria Estadual da Educação, segundo a vice-governadora Izolda Cela, tem vistoriado as escolas estaduais e feito também um levantamento com os estudantes e as famílias sobre o desejo e a condição de volta às salas de aula
Não há um parecer definitivo de quando as aulas presenciais nas escolas da rede pública estadual no Ceará voltarão a ocorrer. Mas, conforme a vice-governadora do Estado Izolda Cela afirmou ao SVM, em termos práticos, há duas ações em curso que devem interferir de forma expressiva nesta determinação. Uma delas é a conclusão das vistorias nas estruturas dos prédios escolares da rede estadual, que trará um diagnóstico de quais unidades estão aptas ao retorno das atividades.
Outra é o resultado de um levantamento que está sendo feito com os estudantes das unidades estaduais e os familiares. A pesquisa indaga sobre o desejo e a condição de retorno dos alunos. A projeção, garante ela, é que as iniciativas sejam concluídas na próxima semana.
Conforme Izolda, a avaliação do Governo é que o recomeço das atividades presenciais na rede estadual, além de seguir o escalonamento de níveis e a restrição na quantidade de alunos por turma, como tem sido na rede particular, também não ocorrerá para todas as escolas públicas na mesma data.
Nesse processo, garante ela, será considerada a condição de cada unidade. Portanto, embora integrem a mesma rede de ensino, algumas escolas estaduais podem voltar e outras não, ou podem retornar, mas em períodos distintos. Na rede pública estadual há 728 escolas.
A necessidade de escalonamento, explica, é por conta da infraestrutura de cada escola, mas também em decorrência do perfil das equipes e dos servidores. Outra dimensão que faz com que o retorno não possa ser simultâneo é a condição de acesso dos alunos. "Como os alunos chegam àquela unidade, que tipo de transporte eles precisam acessar. Precisamos saber, em casos de escolas que ficam em distritos em áreas rurais, esse transporte está existindo", pondera. Para saber qual a condição de cada unidade, a Seduc tem feito escuta de alunos e das famílias.
A vice-governadora explicou que essa captura de informações, de modo geral, tem sido realizada através de um sistema online da Seduc, chamado "Aluno Online". Mas estudantes ouvidos pelo SVM disseram ter participado do levantamento, com as mesmas questões indicadas por Izolda, por meio do contato com os professores via WhatsApp.
"Tem também a reunião dos conselhos escolares, que são formados pela representação dos diversos segmentos da comunidade. Que também possam contribuir com essa reflexão. O que é definitivo é a Seduc poder prestar contas que aquela unidade tem condições de seguir os protocolos e a comunidade, os pais, desejarem a volta", garante.
Estudantes desejam voltar, indicam resultados parciais
De acordo com Izolda, a pesquisa é realizada escola por escola e tanto os alunos, como os pais, respondem se querem o retorno e também se têm possibilidade de garantí-lo. Questionada sobre as respostas obtidas até o momento, Izolda afirma que o resultado ainda é parcial, mas "em várias escolas visitadas, eles (a comissão) se surpreenderam com o percentual alto que deseja voltar. Tem escolas com 70% de manifestação do desejo de retornar", conta.
Conforme mostrado, esta semana, pelo Diário do Nordeste, o retorno das aulas na rede estadual tem sido motivo de impasse entre o Governo e os profissionais da educação.
O Sindicato dos Professores e Servidores da Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Apeoc) aguarda o desfecho de uma ação civil pública movida pela entidade, na qual é solicitado que as aulas presenciais permaneçam suspensas até o fim de 2020. A entidade alega também que nas inspeções escolares está sendo constatado que os prédios não têm estrutura adequada.
Opiniões
O estudante Geovane Rodrigues Xavier cursa o 3° ano do Ensino Médio na Escola de Ensino Médio e Fundamental (EEMF) Santo Amaro, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, e aguarda a definição sobre a data para a volta. "Minha professora falou comigo perguntando se eu ia poder participar das aulas, se tinha alguma doença crônica", lembra sobre a consulta feita no dia 25 de setembro em aplicativo de mensagens.
A decisão da família é pela volta às atividades na escola já que há ambiente mais adequado à concentração e pelo maior contato com os professores. "Eu acessei algumas aulas virtuais, mas eu preferi não acessar por não entender muito o conteúdo, prefiro quando o professor está explicando", avalia o estudante do ensino remoto.
Já para outra estudante, que preferiu não se identificar, do último ano na Escola Estadual de Ensino Profissionalizante (EEEP) Joaquim Nogueira, na Parquelândia, a resposta à consulta foi contrária ao retorno. "Tem pessoas de grupo de risco na minha casa e seria um perigo para elas e para mim", explica. A jovem mora com idosos e portadores de doenças crônicas. No preparo para o Enem, ela relata a dificuldade para concentração e acesso a materiais de apoio, como cursos na internet, mas opta por permanecer em casa pelo receio de infecção pelo novo coronavírus.
Na preparação tanto para o Enem quanto para o vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Maria Vitória Pimentel, de 18 anos, sente os prejuízos do ensino remoto. "Meu rendimento está baixo, mas estou esperançosa que aulas ainda voltem esse ano porque na escola é muito diferente. Em casa não consigo reconhecer que estou preparada para o vestibular", reforça. Por isso, ela demonstrou o interesse na retomada das aulas presenciais nos formulários enviados pelo celular e disponíveis na plataforma Aluno Online, da Seduc.
Maria Vitória estuda na Escola de Ensino Médio (EEM) Adauto Bezerra, no bairro de Fátima, onde são realizadas reuniões sobre quando será possível receber os alunos, como acompanha. "Eu passava o dia na escola e quando terminava a aula pela manhã, depois de almoçar, eu voltava para a biblioteca. Meus planos era passar o dia na escola e, à noite, fazer o pré-vestibular que a escola oferecia", acrescenta a estudante.
Protocolos
Conforme a presidente da seccional da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) no Ceará, Luiza Aurélia Costa, a entidade e a Seduc elaboraram juntas "de forma plural, com todas as coordenadorias regionais de ensino, um documento, que é o guia de referência, diretrizes para elaboração do plano de retomada das atividades presenciais nas redes municipais de ensino".
Ela ressalta que, no momento, os municípios já deliberaram junto com seus comitês o retorno ou não baseado, principalmente, nas condições sanitárias. "Estamos nesse primeiro momento, já que os protocolos pedagógicos estão sendo aplicados junto das nossas possibilidades, a cada dia melhorando o ensino remoto, formando nossos professores, adquirindo plataformas. Nesse momento, estamos ouvindo a comunidade, os pais, os alunos, os professores e servidores e, principalmente, os secretários de saúde para que eles nos sinalizem quando vamos poder ter uma volta adequada". Ela enfatiza que, no Ceará, não há sinalização de nenhum município para retomar as aulas em 2020.