Entenda como funciona o soro contra a Covid-19 que o Butantan vai testar em humanos

Testes em animais foram satisfatórios, de acordo com o Instituto

Escrito por Redação ,
Fachada do Instituto Butantan
Legenda: O Instituto Butantan já é responsável pela produção de soros, como o antirrábico e o antitetânico
Foto: Divulgação

O Instituto Butantan, responsável também pela produção brasileira da vacina contra Covid-19 Coronavac, deve começar testes em humanos de um soro para tratamento de coronavírus. O aval para o início dos testes clínicos foi dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O soro deverá ser utilizado por quem já está com sintomas da infecção pelo vírus.

Com experiência no desenvolvimento e confecção de soros antirrábicos, antitetânicos, contra venenos de cobras, escorpiões e aranhas há 120 anos, os pesquisadores do instituto estão confiantes sobre a possibilidade de que este tratamento tenha eficácia contra covid. Em entrevista ao Jornal da USP, Ana Marisa Chudzinski Tavassi, diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Instituto Butantan, explica que o soro é necessário pois não há antivirais com eficácia garantida contra o vírus. 

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“A gente tem muita esperança que o tratamento nos pacientes que estejam já claramente com a infecção possa reduzir internação, possa reduzir o nível de inflamação e a gravidade” disse.

O que é o soro?

O soro oferece anticorpos prontos para defender o organismo de quem já está infectado por um vírus ou por toxinas. A proteção é diferente da promovida pela vacina, que procura estimular o organismo a produzir anticorpos contra a doença. Por isso, a proteção da vacina é indicada para que as pessoas consigam imunidade contra o vírus, buscando diminuir a transmissão dele entre uma população. Já o soro deve ser utilizado no tratamento de pessoas que estão sofrendo com a infecção no momento da aplicação. 

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Como o soro contra Covid-19 é feito?

O soro desenvolvido pelo Butantan é retirado do plasma de cavalos. O processo começou com o isolamento do vírus em um ser humano. Depois disso, o Sars-Cov-2 foi cultivado e inativado. O vírus então foi colocado em animais para que eles produzissem anticorpos. Por fim, o plasma, que é a parte líquida do sangue desses animais, é recolhido e processado para que o soro seja confeccionado. 

O Butantan conta com uma fazenda própria com diversos cavalos e uma fábrica própria para a produção do soro. Para o ensaio clínico já foram feitas mais de 3 mil doses. Atualmente, os soros utilizados para combater outros tipos de vírus ou venenos no Brasil são totalmente produzidos pelo instituto. 

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Quem deve receber o soro? 

O soro é pensado para pacientes adultos que estejam hospitalizados e apresentem sintomas claramente associados à Covid-19 há poucos dias. O objetivo é evitar que o estado de saúde do indivíduo seja agravado pelo vírus, bloqueando a infecção ainda nos primeiros sintomas. 

Em que fase de testes está o soro?

Ainda não foram feitos testes em seres humanos, mas com o aval da Anvisa, essa fase deve ser iniciada em abril. A pesquisa inicial, de acordo com o instituto, deve ser feita com pacientes transplantados do Hospital do Rim, em São Paulo, e com pacientes com comorbidades no Hospital das Clínicas da USP. Os médicos José Medina e Esper Kallas estarão à frente das pesquisas em cada hospital, respectivamente.

No entanto, estudos de como o soro funciona contra o coronavírus já foram realizados em animais, como hamsters e cavalos. Segundo a coordenadora do desenvolvimento, Ana Marisa Chudzinski, os resultados em hamsters foram positivos. “Um dia depois do tratamento já havia diminuição muito importante da carga viral nos pulmões e preservação das estruturas do pulmão”, contou em entrevista à Rádio da USP.  A Universidade de São Paulo também ajudou nesta fase de testes. 

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