Em 2010, Ceará vacinou 3 milhões contra gripe A em 100 dias; campanha contra Covid é mais lenta
A campanha de imunização contra a pandemia da gripe A foi a maior do Ceará. Especialista aponta que falta de doses atrapalhou andamento contra a Covid-19
Até a última segunda-feira (14), o Ceará aplicou 3.371.070 doses de vacina contra a Covid-19, de acordo com o vacinômetro estadual. Em termos individuais, foram 2.279.206 de pessoas contempladas com a primeira dose até o 148º dia de campanha. Nesses quase cinco meses, em média simples, foram 15,4 mil imunizados e 22,7 mil doses aplicadas por dia.
No entanto, o recorde de vacinação no Estado permanece sendo o da campanha de 2010 contra a gripe A (H1N1), chamada de “gripe suína”. À época, segundo o Governo do Estado, foram imunizadas 3.158.724 pessoas entre 8 de março e 17 de junho, um intervalo de 101 dias. Ou seja, uma média de 31,3 mil aplicações diárias.
Para atingir a marca, os municípios montaram estratégias especiais. Em Fortaleza, parte dos postos de saúde passou a vacinar no "terceiro turno" e aos fins de semana, além de equipes volantes vacinarem em terminais, faculdades e até locais de trabalho.
Em 5 de julho daquele ano, o Governo do Ceará informou que havia atingido 90,72% de cobertura do público-alvo, tendo vacinado 3.560.022 de pessoas.
A campanha de vacinação contra a gripe A registrou a maior mobilização por imunização no Ceará, em toda a história. A estrutura da campanha foi grandiosa, com 1.692 postos fixos no Estado e 30 mil trabalhadores envolvidos”, informou.
Mesmo após atingir a meta dos grupos prioritários, a campanha continuou para qualquer pessoa com idade acima de 9 anos “até o fim dos estoques de vacina”, conforme recomendação da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) aos municípios.
A gripe A foi considerada uma pandemia durante 14 meses, de junho de 2009 a agosto de 2010. A imunização contra o vírus H1N1 começou em março de 2010 para impedir uma segunda onda de casos no país. Mais de 2 mil brasileiros morreram na primeira.
À época, foram elencados cinco grupos prioritários para a vacinação, totalizando 92 milhões de pessoas: indígenas, gestantes, portadores de doenças crônicas, crianças entre 6 meses e 2 anos de idade e pessoas entre 20 e 39 anos.
Idosos não foram considerados grupo de risco, como ocorre no cenário da Covid-19, mas foram vacinados paralelamente na campanha anual contra a gripe sazonal.
Em junho de 2010, o então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou que a meta de vacinação em todo o País havia sido superada: em três meses, a campanha imunizou 88 milhões das 92 milhões de pessoas previstas. O gestor disse que o Brasil estava livre de sofrer uma nova epidemia da doença.
Desta vez, já são 15 meses de pandemia, e o grupo prioritário envolve toda a população brasileira acima de 18 anos, o equivalente a 160 milhões de pessoas, segundo estimativa do Ministério da Saúde. Só no Ceará, são estimados 6,8 milhões de indivíduos nessa faixa etária.
Além da maior quantidade de vacinados, a campanha contra a Covid-19 é importante pela gravidade da doença. Em 2009 e 2010, nove pessoas morreram por influenza, no Ceará. Pela Covid-19, já foram 21,6 mil mortes desde março de 2020, segundo a plataforma IntegraSUS.
Para a médica epidemiologista Lígia Kerr, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), a demora na ampla vacinação contra a Covid-19 decorre de atrasos na distribuição de vacinas.
“O mais rápido que a gente puder é o mais importante. Estamos comemorando quase 6 meses de vacinação e temos um percentual em torno de 12% com as duas doses no País. Se tivermos vacina, a fila costuma andar depressa”, comenta.
Calendário anual
A vacinação contra a gripe (influenza) foi inserida no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 1999, primeiramente para reduzir internações, complicações e óbitos pela doença entre idosos. Com o tempo, ela passou a beneficiar outros grupos prioritários, como gestantes, indígenas, crianças e trabalhadores da saúde.
Atualmente, a vacina busca combater três subtipos do vírus: H1N1, H3N2 e Influenza B. Desde 2014, cerca de 2,2 milhões de pessoas são vacinadas por ano, no Ceará, durante a campanha nacional, segundo os registros do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (Sipni), do Ministério da Saúde.
Uma exceção foi 2020, que teve 2,9 milhões de cearenses imunizados, mesmo com a pandemia. Além da disponibilização da vacina em postos de saúde, a estratégia de Fortaleza, por exemplo, envolveu a aplicação em escolas municipais, sistema drive thru em shoppings e vacinação domiciliar para idosos com mais de 80 anos ou acamados.
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Lígia Kerr considera que, por outro lado, um dos principais problemas para combater a Covid-19 foi a falta de vacinas. Ela lembra que o Governo Federal orientou aos Estados e Municípios a utilizarem todas as doses com a promessa de receberem mais no futuro, mas, no momento de aplicar a segunda dose, não houve imunizantes suficientes.
Tendo vacina, as unidades de saúde têm grande capilaridade e rapidez. Nosso maior problema não é a capilaridade, é a falta de vacina, que tem levado a várias exigências.
Para a especialista, se houvesse doses à disposição, a população-alvo poderia ser vacinada nas unidades básicas de saúde, principalmente o grupo mais jovem “porque é o que mais sai e mais leva e traz a doença para casa”.
Vacinação contra a gripe
Em 2021, a campanha de vacinação contra a gripe no Ceará acontece até 9 de julho de 2021. Na terceira etapa, devem ser imunizadas 922.591 pessoas dos seguintes perfis:
- pessoas com comorbidades,
- pessoas com deficiência permanente,
- caminhoneiros, trabalhadores de transporte coletivo rodoviário,
- portuários,
- forças de segurança, salvamento e Forças Armadas,
- funcionários do sistema de privação de liberdade, população privada de liberdade
- adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas.
A meta é vacinar pelo menos 90% de cada um dos grupos prioritários. Além de prevenir complicações, óbitos e sobrecarga dos serviços de saúde decorrentes da influenza, a vacinação também busca minimizar sintomas que podem ser confundidos com os da Covid-19.
Neste ano, como as duas campanhas ocorrem simultaneamente, é preciso respeitar o intervalo de 14 dias entre os imunizantes diferentes.
Segundo a Sesa, quem pertence às duas fases anteriores da campanha e ainda não se vacinou contra a gripe também pode procurar a unidade básica de saúde mais próxima:
- crianças a partir de 6 meses e menores de 6 anos;
- gestantes e puérperas;
- povos indígenas;
- trabalhadores da saúde;
- idosos acima de 60 anos;
- professores.