Conselhos repercutem decisão de suspender vacinação de profissionais fora da linha de frente

Entidades ressaltam riscos mesmo para trabalhadores e avaliam recursos contra a determinação

Escrito por Redação ,
Vacinação
Legenda: A decisão da Justiça Federal ocorreu após pedido para que houvesse a prioridade de das pessoas idosas
Foto: Camila Lima

Após a Justiça suspender a vacinação para profissionais da saúde que não atuam na linha de frente, conselhos ligados a estes trabalhadores ressaltaram a necessidade da continuidade da imunização mesmo naqueles que estão distantes do atendimento a pacientes com Covid-19. Algumas entidades avaliam recorrer da decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5).

A decisão da Justiça Federal ocorreu após pedido do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e do Ministério Público do Trabalho (MPT) para que houvesse a prioridade de das pessoas idosas, acima de 60 anos, no Plano de Imunização contra a Covid-19 no Ceará. 

A justificativa para a decisão foi o risco maior de letalidade entre pessoas infectadas nessa faixa etária. Para a epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Caroline Gurgel, a decisão acompanha os dados epidemiológicos coletados até aqui. 

Ela cita, por exemplo, que houve uma redução de mais de 50% da faixa etária de idosos imunizados até agora (acima de 75 anos). "Esse olhar diferenciado veio devido a essa resposta. A partir do momento que você reduz internação e óbito, (o sistema de saúde) consegue respirar melhor", explica. 

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Recurso contra a decisão

Por enquanto, não há recurso apresentado ao tribunal contra a decisão tomada pelo desembargador federal Fernando Braga neste domingo. 

No entanto, o Conselho Regional de Educação Física pretende recorrer da determinação judicial. "O Conselho irá mover uma ação de medida liminar, pois os profissionais estão no plano de vacinação do governo federal", afirma a presidente da entidade, Andréa Benevides. 

Ela ressalta que os profissionais possuem atividades com maior risco de contágio. "(Existe) Enorme relevância que temos na manutenção da vida das pessoas bem como diante do árduo trabalho e enorme risco que esses profissionais se sujeitam diariamente", acrescentou. 

Riscos mesmo fora da linha de frente

Presidente do Conselho Regional de Medicina do Ceará, Helvécio Neves considera a decisão "complicada". "Os médicos que não estão na linha de frente são pacientes que estão potencialmente contaminados", argumenta. 

Vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará, Ana Paula Lemos concorda. "Os profissionais da atenção básica são suscetíveis, porque atendem todos os pacientes", exemplifica. 

Para ela, além da preocupação com a exposição dos profissionais da saúde, existe também o risco de déficit de profissionais da saúde, devido ao alto número de casos entre este grupo. Desde o início da pandemia, foram mais de 21 mil casos confirmados entre profissionais da saúde no Ceará. 

"As pessoas aplaudem, dizem que somos heróis, mas nós somos pessoas. Também estamos com medo e não somos imunes, precisamos ter esse olhar e proteção do governo", ressalta Lemos.

Os dois conselhos avaliam quais medidas jurídicas serão adotadas a respeito da decisão. "O ideal é que todo mundo fosse vacinado. O que deveria ocorrer é andar no mesmo passo (a vacinação dos dois grupos)", afirma Helvécio Neves. 

Já o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional iniciou levantamento para saber a situação dos profissionais da área. De acordo com o presidente da entidade, Ricardo Lotif, a intenção é saber a situação geral da categoria - tanto quanto a imunização quanto ao trabalho realizado nesta pandemia. 

O objetivo é levar a questão tanto ao Ministério Público quanto às prefeituras para garantir a vacinação. "Além de atuarmos na pandemia, nós atuamos em outros pacientes. O problema é que o profissional fica desprotegido", critica Lotif. 

Ele ressalta que fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais prosseguem entre as atividades consideradas essenciais pelo governo do estado e, portanto, continuam atuando mesmo com as medidas mais restritas de isolamento. "Como estamos abertos e não estamos vacinados?", questiona. "Precisamos vacinar todos". 

O Conselho Regional de Fonoaudiologia da 8ª Região, por meio de nota, corroborou com o posicionamento de outras entidades. "É de extrema importância a manutenção da vacinação a todos os profissionais de saúde que estão diariamente se colocando em risco, independente da área e local de atuação", informa o texto. 

Priorização da vacinação a Idosos

Presidente do Conselho Regional de Psicologia, Nágela Evangelista aponta que é necessário "obedecer aos critérios estabelecidos pelo governo do Estado". Ela explica que alguns profissionais do segmento procuraram a entidade, mas a recomendação é seguir as regras definidas pelo Plano de Vacinação. 

A epidemiologista Caroline Gurgel ressalta que os profissionais de saúde que estão na linha de frente possuem "exposição máxima" ao vírus, por isso a necessidade urgente de imunização. Contudo, outros trabalhadores possuem uma atuação mais flexível quanto a atendimentos. 

"Eles trabalham em regime eletivo", afirma. A epidemiologista cita ainda que, nestes casos, é possível garantir todas as medidas sanitárias adequadas e não atender pacientes sintomáticos como cuidados possíveis neste caso. "A decisão de deixar de vacinar os profissionais de saúde seria só por um momento, para vacinar os idosos", afirma.  

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