Com 94,9% de ocupação em Caucaia, profissionais da saúde e usuários relatam escassez de leitos
Com o crescimento dos números de casos no município e sem adoção de medidas mais restritas para isolamento social, a rotina das unidades de saúde em Caucaia tem apresentado um cenário difícil para quem trabalha ou busca atendimento contra a Covid-19
Com mais de 12 mil casos de Covid-19 confirmados, Caucaia está com quase 95% dos leitos destinados ao tratamento da doença ocupados nesta quinta-feira (11). Profissionais da saúde com atuação no município e habitantes que procuram atendimento para a doença relatam as dificuldades encontradas nos últimos dias, tanto para conseguir vaga nas unidades de saúde da cidade como para obter transferências para outros municípios cearenses.
Técnico de enfermagem, Messias Carlos atua como socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, no Ceará. Ele relata que tem observado o crescimento do número de ocorrências de pacientes com Covid-19 nos últimos quinze dias. Mesmo com a desinfecção de cada ambulância entre cada atendimento, ele chegou a realizar dez atendimentos em carro apenas com os equipamentos básicos.
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São cinco viaturas do Samu disponíveis para Caucaia: uma com suporte avançado, uma com suporte intermediário e três com equipamentos básicos. "Nós passamos o dia atendendo ocorrências, sobrecarregados e tem uma hora que não tem mais carro", relata. O tempo de espera por um leito para os pacientes também tem aumentado, segundo o socorrista.
Enquanto a média em outros meses era de poucos minutos para o paciente ser levado para atendimento nas unidades de saúde, agora os profissionais do Samu chegam a esperar duas horas. "O nosso medo é de chegar no hospital e (devido à demora) o paciente vir a óbito dentro do carro", afirma.
Ocupação
O quadro descrito pelo técnico em enfermagem é confirmado pelos números do IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Segundo a atualização desta quinta-feira (11) às 15 horas, Caucaia está com 94,9% dos leitos ocupados.
Desde o dia 2 de março, 100% dos leitos de UTI de Caucaia estão ocupados. A última vez que o município esteve com essa taxa de ocupação para a UTI foi no início de fevereiro, quando existiam apenas 5 leitos ativos destinados para a Covid-19 - metade dos existentes atualmente. No total, são 10 leitos de UTI e 25 de Enfermaria no Hospital Municipal Abelardo Gadelha da Rocha.
A dona de casa Elza Lima tem enfrentado dificuldades para conseguir leito para o marido, César Pinto de Mesquita. Ele está internado desde domingo (7) na UPA localizada no Centro de Caucaia. Com oxigenação baixa, a indicação é que ele seja transferido para um leito de tratamento intensivo.
"Nós temos tentado conseguir uma vaga de todas as formas", explicou a dona de casa. O marido, relata ela, trabalha no conserto de aparelhos hospitalares "e agora que ele está precisando, não tem". O atendimento na UPA tem sido bom, continua Elza, mas "o ideal é o leito de UTI".
Com atuação em unidades hospitalares de Caucaia, um enfermeiro que preferiu não se identificar afirmou que a estrutura das UPAs não são suficientes a depender do quadro do paciente. "A UPA é mais restrita", explica. "Não tem médicos especializados em UTI, por exemplo. Também não tem (disponíveis equipamentos para) exames mais complexos, como tomografia".
O objetivo da unidade é estabilizar o paciente, que deve permanecer internado no máximo 24 horas. "Mas tem demorado até seis dias para a transferência", relata.
Duas UPAs atendem pacientes com Covid-19 em Caucaia: a da Jurema e a do Centro da cidade. Juntas, elas possuem 24 leitos disponíveis, dos quais 23 estão ocupados.
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Emocional
Presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará (Sindsaúde/CE), Marta Brandão ressalta que um dos elementos a ser considerado neste novo pico da pandemia no estado é o emocional dos profissionais da saúde, que lidam com o atendimento de casos desde março de 2020.
"Quando chegou janeiro e com a notícia da vacina, a gente criou uma expectativa de que, em março ou abril, teríamos um cenário melhor. Mas a gente se depara com uma situação pior", aponta. "São longas jornadas, faltam profissionais para atender. Trabalhadores relatando que não tem mais condições, pacientes graves e dizendo que não sabem até quando vão resistir. Os profissionais estão no limite".
Para Brandão, é necessário que a Prefeitura de Caucaia adote medidas mais rígidas para evitar aglomerações no município. "Se não o lockdown, é necessário um isolamento mais rígido, fechar alguns estabelecimentos. A gente entende que o gestor, ao se deparar com uma situação dessas, precisa ter responsabilidade com a vida das pessoas", acrescenta.
Resposta
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Caucaia. Por meio de nota, foi informado que há um decreto em vigência no município até o próximo dia 18 de março, com o objetivo de evitar aglomerações.
Entre as medidas estão: o funcionamento de todo o comércio não essencial até às 15 horas; aulas e atividades presenciais suspensas; proibição de feiras livres e comércio ambulante; recomendação de trabalho remoto; Barreiras sanitárias nas principais entradas do município, entre outras.
Indagada se há previsão para decretar lockdown na cidade, a assessoria não respondeu. Sobre a ocupação dos leitos da cidade, a Prefeitura afirmou que "o município de Caucaia é polo, ou seja, recebe pacientes de outros 19 municípios".