Capital registra 2 mil casos por semana desde novembro

Início de 2021 permanece com número de diagnósticos positivos para o coronavírus semelhantes aos verificados há 10 semanas, quando os níveis voltaram a aumentar

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Na semana passada, entre 10 e 16 de janeiro, os novos casos chegaram a 2,1 mil
Foto: Helene Santos

Desde o dia 8 de novembro, passando pelas festas de fim de ano e o início de 2021, Fortaleza vem registrando mais de dois mil casos confirmados de Covid-19 por semana. A partir de então, são 10 semanas consecutivas atingindo o indicador. Segundo a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), atualmente, a Capital está no nível "alto" de alerta para transmissão da doença. A incidência de casos diários, aponta ainda, segue tendência "crescente".

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Na semana de 20 a 26 de setembro, a Capital chegou ao menor índice após o pico da pandemia, com 483 casos semanais. Na sequência, os números voltaram a aumentar até ultrapassar as 3 mil confirmações da semana entre 15 e 21 de novembro. A última semana de 2020 foi finalizada com 2,1 mil diagnósticos. Na primeira de janeiro, entre os dias 3 e 9, foram 2,6 mil. Na passada, entre 10 e 16 de janeiro, chegou a 2,1 mil.

Os dados ainda podem ser revistos e atualizados à medida que novos exames forem liberados por laboratórios. O IntegraSUS recomenda ao município adaptar protocolos de rastreamento de contatos e monitorar casos suspeitos, bem como dimensionar equipamentos de saúde, adaptando a capacidade de resposta à possível demanda por cuidados hospitalares.

A taxa geral de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) estava em 84% e, a de enfermarias, em 71,6%, até as 14h dessa quarta-feira (20). Na rede privada, 87% das UTIs adultas tinham pacientes. Já na rede pública, 84%. Pelo menos 199 pessoas estavam acolhidas no suporte avançado à vida. Em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), havia três pacientes sendo tratados com ventilação mecânica.

Para Caroline Gurgel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Estado já vivencia uma segunda onda da doença, embora não se verifique a alta taxa de ocupação de leitos de outras unidades da federação. "Acredito que a cepa que circula no Ceará não é tão virulenta quanto a que está em Manaus, mas o fato de vários pacientes portadores da cepa de lá serem distribuídos para o Brasil inteiro preocupa porque ela pode circular e causar o mesmo caos", alerta.

Controle

A especialista também é enfática ao lembrar que o principal fator desencadeador de novos casos são as aglomerações, onde quer que ocorram.

"Mesmo com a vacinação, as pessoas não podem relaxar. A vacina não vai extinguir a doença, ela vai controlar os casos graves. Por um ou dois anos, precisaremos continuar com os padrões de higiene, utilizar máscaras e evitar aglomerações", indica a professora.

A gestora de recursos humanos Priscilla Moura, 31, testou positivo para a Covid-19 no início de janeiro - pela segunda vez. Na primeira, em agosto de 2020, ela realizou um teste sorológico e, mesmo assintomática, ficou em isolamento. Desta vez, o exame swab nasal forneceu um diagnóstico positivo e, com ele, vieram sinais fortes e claros da doença. Para ela, a falta de ar é o que mais incomoda.

"Mesmo não me aglomerando nas festas, acho que peguei o vírus voltando de viagem, no aeroporto, voos lotados, observa Priscilla. Segundo ela, a infecção "mexe com o organismo e muito com o psicológico", afirma.

Vigilância

Na leitura do médico internista e professor universitário Maycon Fellipe da Ponte, a transição de setembro para outubro trouxe uma nova ascensão de casos após quedas importantes desde junho, provavelmente relacionada ao aumento de contatos e viagens e à abertura de aeroportos. Contudo, ele ressalta que a assistência também evoluiu e, hoje, com mais conhecimentos sobre a doença, "interna-se relativamente mais rápido que no início da pandemia".

Para o médico, não é possível atribuir totalmente o incremento de casos à queda de adesão às medidas sanitárias. "Mas, conversando com pacientes, vivenciando os hospitais, a gente consegue perceber que eles estavam muito mais expostos, em decorrência da não rigorosidade de medidas que estavam instituídas. Sempre estamos reforçando o isolamento, detectando precocemente, vigiando os contactantes e testando no momento adequado para isolar o quanto antes", detalha.

Caroline Gurgel, da UFC, endossa a necessidade de desacelerar a quantidade de casos e evitar a repetição de um cenário como o de Manaus. "Por mais que exista um decreto estadual e esforço de agentes fiscalizadores, é uma quantidade muito grande de pessoas. Estamos permitindo que o vírus circule mais, e quanto mais ele circula, mais probabilidade tem de mutar e vir a ter uma cepa mais predominante. Não adianta ficar contando com a sorte", avalia.

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