Campanha vacinal, quarta dose e efetividade: tire dúvidas sobre a dose de reforço contra a Covid-19

Nova rodada de aplicações já foi confirmada pelo Ministério da Saúde para este ano

Escrito por Nícolas Paulino e Lucas Falconery , metro@svm.com.br
Legenda: Segundo especialistas, vacinas devem ser atualizadas de acordo com o surgimento de novas variantes do coronavírus.
Foto: Thiago Gadelha

Quase 1,5 milhão de doses de reforço - a terceira dose - contra a Covid-19 já foram aplicadas no Ceará, de acordo com o vacinômetro estadual, até o último dia 10 de janeiro. Mas, afinal, qual é a garantia de imunização que essa vacina dá? Serão necessárias mais doses para prevenir a doença? Ao que tudo indica, sim.

O Ministério da Saúde informou, em outubro de 2021, que a campanha de vacinação contra a Covid-19 continuará em 2022. A Pasta prevê aplicar mais duas doses na população acima de 60 anos, com intervalos de seis meses, e outra dose de reforço na população de até 59 anos.

“A lógica da vacinação em 2022 deixará de seguir o critério de grupos prioritários para considerar a imunização por faixa etária decrescente'', considera o órgão.

Num simpósio organizado pelo Instituto Butantan, que desenvolveu a Coronavac, cientistas da China, Chile e Brasil avaliaram que a vacina contra Covid-19 pode se tornar anual desde que os imunizantes disponíveis sejam atualizados contra as novas variantes de preocupação, como a Delta e a Ômicron.

Nessa terça-feira (11), especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiram comunicado alertando que combater a pandemia de Covid-19 com doses de reforço das vacinas atuais não é uma estratégia viável, e pediram vacinas que previnam melhor a transmissão. 

O próprio Ministério da Saúde brasileiro reconhece que “existe uma tendência a redução da efetividade das vacinas contra a Covid-19 com o passar do tempo”.

Vou ter de tomar novas doses de reforço depois da 3ª aplicação?

Os cientistas e autoridades da saúde analisam a questão, mas novas doses do imunizante contra a Covid-19 devem sim ser aplicadas, na análise de Paulo Magalhães, médico de família e comunidade e doutorando em Saúde Coletiva. 

Segundo ele, existe até mesmo a possibilidade de reunir a proteção contra o coronavírus e as influenzas em uma mesma vacina.

“A dose de reforço vai ser, provavelmente, aplicada com periodicidade. Fizemos vacinas em tempo recorde devido à situação emergencial e elas funcionaram, mas precisamos de vacinas mais eficazes que tenham proteção mais prolongada”, explica.

A infectologista Melissa Medeiros, do Hospital São José (HSJ), reforça que, na perspectiva atual, os pesquisadores detectaram que a imunidade fornecida pela vacina não é tão duradoura como esperavam. 

“A gente pensou que a vacinação com pelo menos duas doses poderia nos dar proteção de um ano e meio, mas os anticorpos começam a cair depois de seis meses”, aponta.

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Por quanto tempo a pessoa com 3 doses está protegida?

Ainda não é possível afirmar com certeza. De acordo com o Ministério da Saúde, diversos países têm recomendado intervalos diferentes para a dose de reforço com base na situação epidemiológica, disponibilidade de vacinas e surgimento de novas variantes de preocupação, como a Ômicron.

No geral, notam-se intervalos entre 3 e 6 meses recomendados pelos países:

  • Estados Unidos e Canadá - 6 meses
  • Austrália e Israel - 5 meses
  • Inglaterra - 3 meses

No Brasil, em dezembro de 2021, o Ministério da Saúde passou a recomendar a redução do intervalo do reforço de cinco para quatro meses após a D2 e, em alguns casos, da D3.

A decisão considera a “redução da efetividade das vacinas Covid-19 e consequentemente maior risco de adoecimento, absenteísmo e complicações da doença”.

Já existe uma quarta dose da vacina?

Sim. Fora do país, Chile e Israel já iniciaram esse processo. No Brasil, o Ministério da Saúde autorizou a aplicação de uma quarta dose após 4 meses da aplicação da terceira, para indivíduos imunossuprimidos acima de 18 anos de idade, como quem passa por hemodiálise, vive com HIV ou está em quimioterapia contra o câncer.

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Alguns municípios já se organizam para a aplicação em janeiro deste ano, uma vez que a D3 começou a ser utilizada em setembro de 2021, em idosos e imunossuprimidos.

Porém, ainda não há previsão para aplicar a quarta dose na população geral.

Será preciso reiniciar o esquema vacinal? 

“Provavelmente”, responde a infectologista Melissa Medeiros. Isso porque não há uma vacinação igualitária entre países. Enquanto nações desenvolvidas têm altos índices, há países da África com menos de 30% de cobertura vacinal, “o que permite que a gente tenha um número maior de variantes surgindo”.

“Enquanto a gente não contiver a pandemia por completo, provavelmente, a gente vai precisar de reforços vacinais. Tivemos esse (reforço) depois de seis meses e não sabemos se a 3ª dose vai ser suficiente”, pensa.

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Quem recebe a dose de reforço pode relaxar no uso de máscaras?

O médico Paulo Magalhães explica que a vacina dá uma sensação de conforto e de proteção, e o ser humano em geral tende a relaxar nos cuidados. Porém, reforça, os imunizantes não impedem a transmissão da doença, apenas minimizam quadros mais graves ou óbitos.

“É hora de a gente continuar mantendo as medidas de lavar as mãos, de utilização das máscaras, distanciamento e tentar ser bem racional nas nossas festividades”, completa a infectologista Melissa Medeiros.

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