Após ataques, padre deve entrar em programa de proteção a defensores de direitos humanos
O padre Lino Allegri tem sido perseguido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em Fortaleza; entenda o caso
Após ataques, o padre Lino Allegri, de 82 anos, deve ingressar no Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (PPDDH). No último dia 11, o sacerdote foi hostilizado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante missa na Paróquia Nossa Senhora da Paz, no bairro Aldeota, em Fortaleza.
O sistema visa garantir às pessoas que defendem os direitos humanos e estão em situação de ameaça ou risco a continuidade do trabalho sob proteção do Estado.
O padre relata que as ameaças contra ele e membros da igreja são constantes e ocorrem através das caixas de diálogo dos perfis da paróquia nas redes sociais, e, também, por meio do WhatsApp.
"Espero que isso possa ajudar nessa proteção diante das ameaças que nós [da Paróquia Nossa Senhora da Paz] estamos recebendo. Elas são concretas", disse o padre, neste sábado (17), ao Diário do Nordeste.
Padre Lino informou que a iniciativa para o pedido de ingresso no PPDDH partiu de membros do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH), da Defensoria Pública do Ceará (DPCE) e do Ministério Público do Estado (MPCE).
Segurança do padre está garantida, diz DPCE
A defensora-geral da DPCE, Elizabeth Chagas, informou acompanhar o caso. Segundo ela, o secretário da Segurança, Sandro Caron, já foi comunicado sobre a situação e disse ter tomado todas as providências para garantir a segurança do padre Lino.
"Continuamos fazendo esse diálogo para que não haja nenhuma morte e nenhuma ofensa aos direitos humanos e à liberdade religiosa", afirmou.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que, desde o momento em que foram registradas as ameaças contra o padre, a pasta determinou apuração imediata pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), por meio do 2o Distrito Policial (DP).
"Já a Polícia Militar do Ceará (PMCE) reforçou, desde o último domingo (11), o policiamento na região onde está situada a paróquia, especialmente nos horários de missa", afirmou.
O Diário do Nordeste procurou o MPCE para comentar sobre o acompanhamento do caso e aguarda retorno.
Entenda o caso
Padre Lino explicou que é acusado de mesclar religião e política por mencionar a atuação do Governo Federal no combate à crise de saúde pública em razão da pandemia de Covid-19.
“São acusações infundadas. Não estou fazendo política dentro da minha pregação. O que estou fazendo é tentar contextualizar a Palavra de Deus do Evangelho com a vida que nós estamos vivendo”, afirmou o padre.
No último dia 4 de julho, o pároco foi agredido verbalmente por um grupo de cerca de oito pessoas enquanto celebrava uma missa na Paróquia da Paz. Na ocasião, ele lamentava a morte de mais de 500 mil pessoas pela Covid-19 no Brasil, e classificava como algo “não cristão” o descaso político em meio à tragédia nacional.
“Ao meu modo de ver, eles que estão politizando a religião. Para eles, a religião não deve se meter na vida. Para essas pessoas, o papa [Francisco], que coloca o dedo nas feridas dos problemas concretos da sociedade de hoje, é comunista tanto quanto eu. Mas, para nós, é exatamente o contrário: a religião deve ser uma luz, uma força, para entrar na vida e transformá-la”, defendeu.
Uma semana após o primeiro ataque, no último domingo, um homem foi expulso por fiéis da igreja após gritar com os sacerdotes que celebravam a missa das 8h. O caso aconteceu durante a leitura de notas em apoio a Allegri.
"Este padre [Lino Allegri] transformou o altar em um palanque político", gritou o manifestante. A assessoria da Arquidiocese de Fortaleza taxou o episódio como "inadmissível".