Mais da metade das pessoas que esperam por leitos de internação no Estado para Covid-19 são da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O Ceará contabiliza um total de 845 solicitações até esta sexta-feira (9). Destas, 448 vieram da Grande Fortaleza, somando 53% dos casos. Os dados são do IntegraSUS, plataforma da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa).
Dentre os requerimentos na RMF, 318 são por unidades de terapia intensiva, o que representa 70,98% das solicitações de UTIs nos municípios. A cidade mais afetada é Maracanaú, com 39 pessoas na fila de espera por leitos, seguida de Maranguape, com 26, e Horizonte, com 25.
Para a médica clínica da Unidade de Saúde Familiar Luiz de Queiroz Uchoa em Maracanaú, Taís Matos, especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal do Ceará (UFC), o cenário delicado demonstra a carência de leitos nas cidades da Grande Fortaleza, para o enfrentamento ao novo coronavírus.
“Na Região (Metropolitana), a maioria dos hospitais não tem um número de leitos que absorva toda a demanda da população. Sem contar que há cidades que não têm nem UTI, daí a gente imagina como fica a situação desses pacientes que dependem de uma unidade de terapia intensiva que a cidade não dispõe. Infelizmente, eles acabam entrando para as estatísticas de espera de leito”.
Isolamento social
Taís ressalta ainda que nem todas as pessoas estão conseguindo manter o isolamento social rígido nesse período e que muitas delas necessitam do trabalho para garantir algum recurso financeiro. Além disso, a médica conta que os especialistas já imaginavam que as unidades de saúde poderiam entrar em crise no Estado.
“Nem todo lugar tá fechado, porque muitas pessoas do comércio precisam vender pra ter algum recurso. Assim, já se havia imaginado que o sistema ia entrar em colapso, porque a Covid-19 é só uma doença diante das inúmeras outras que já existem. Inclusive estamos tendo muitos casos de dengue, zika e chikungunya neste ano”.
De acordo com a especialista, uma das causas para o problema é o fato de o isolamento social ter sido retomado muito tardiamente nas cidades do Ceará, além de não estar sendo cumprido efetivamente, o que ainda tem propiciado a disseminação do vírus.
“A ocupação de leitos se dá por conta da falta de medidas efetivas nesse cenário do lockdown. A disseminação do vírus tem ocorrido de forma abrangente, porque muitas pessoas não cumprem o isolamento social”.
Mortalidade maior
A médica comenta ainda que, na segunda onda, os casos estão ainda piores na unidade básica de saúde onde trabalha em Maracanaú. “Eu vejo que o vírus está causando uma mortalidade maior agora, com um número crescente de óbitos que eu não vi na primeira onda aqui”.
Taís pontua que essas unidades são a linha de frente contra o vírus nas comunidades mais vulneráveis. “Elas deveriam ter um investimento maior, com mais médicos, enfermeiros e medicamentos, além de atividades de educação pras pessoas compreenderem a letalidade do vírus numa linguagem específica para essas populações”.
Para ela, a situação do Estado só vai começar a melhorar quando a população tiver sido vacinada em massa. “O ritmo de vacina tá muito lento e a mortalidade do vírus tem sido alta, então, não acredito num panorama de melhora enquanto a gente não tiver imunizado a população brasileira em peso”.