Amamentação na primeira hora de vida ajuda no desenvolvimento das crianças, aponta estudo
Foi verificado ainda o efeito “catch up”, que acontece quando crianças de baixo peso ou prematuras conseguem se recuperar de forma saudável, com os estímulos corretos, além da amamentação logo após o nascimento
Uma pesquisa realizada em parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Escola de Saúde Pública de Harvard e o Centro Universitário Christus (UNICHRISTUS) comprovou que amamentar o bebê nos primeiros 60 minutos de vida, traz bons resultados durante o desenvolvimento a longo prazo. O estudo foi publicado na BMC Pediatric e financiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
O trabalho vem sendo desenvolvido oficialmente desde 2017 e defende que a amamentação na primeira hora de nascimento é essencial para aproximar a mãe do filho e estimular uma conexão emocional. Outro benefício é a presença de anticorpos no leite da mãe, disponível somente nesses primeiros 60 minutos, que funcionam como uma espécie de vacina, já que o leite é rico em anticorpos.
Segundo o professor do curso de Medicina da UFC e um dos responsáveis pela pesquisa, "existe uma justificativa biológica e psicológica. A justificativa biológica é porque a composição do leite materno na primeira hora é diferente e não se repete mais. Outro ponto biológico é que existem neurotransmissores e hormônios atuando naquela primeira hora após o parto, que também não ocorrem em outro momento". E completa:
.As justificativas emocionais, é que tanto a mãe, quanto o recém nascido estão sob forte ação e isso cria um vínculo empático muito grande entre os dois, se houver esse contato, que também não se repete mais”
Efeito “catch up”
Foi verificado ainda o efeito “catch up”, que acontece quando crianças de baixo peso ou prematuras conseguem se recuperar de forma saudável, com os estímulos corretos, além da amamentação logo após o nascimento.
“Nesse nosso trabalho a gente também avalia prematuros, e a gente vê que, já pelo fato de serem prematuros, um déficit, mas que eles podem acompanhar as outras crianças, com o passar do tempo. Eles precisam ainda mais desse estímulo”, destaca. Segundo o especialista, os resultados podem ser vistos a longo prazo, até dois ou três anos depois do parto.
A conclusão dos pesquisadores vai contra um comportamento comum que ainda acontece após os nascimentos, quando o bebê é levado para realizar exames e só depois retorna para ser amamentado. Além disso, nem sempre a mãe pode amamentar por estar sob efeito de sedação após um procedimento cirúrgico.
“Nós identificamos que, quando o parto é cesariano, menos mães têm oportunidade de amamentar na primeira hora”, informa. O ideal é que, caso a mãe queira amamentar logo em seguida ao parto, informe os obstetras com antecedência.
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Processo
Para realizar o trabalho, os pesquisadores analisaram dados da Pesquisa de Saúde Materno-Infantil do Ceará (PESMIC), de 2017, para avaliar a associação entre gravidez, fatores neonatais e desenvolvimento infantil. Foram observadas 3.566 crianças em cinco domínios: comunicação, coordenação motora ampla, coordenação motora fina, resolução de problemas e habilidades pessoais e sociais. As informações foram retiradas do questionário Ages and Stages Questionnaire (ASQ-BR).
O próximo passo da pesquisa é analisar a necessidade de realizar intervenções e estimulação em crianças que tiveram permanência prolongada em unidades de terapia intensiva neonatal ou incubadora, foram reanimadas, usaram antibióticos ou tiveram infecções após o nascimento.
“Vamos estimular um grupo a fazer a amamentação na primeira hora e vamos ver o que acontece com as mães quando forem estimuladas, e as que não foram, por conta de quaisquer fatores, o que foi que aconteceu com elas. Vamos acompanhar essas crianças ao longo do tempo e verificar se alguma intervenção que estimule a amamentação, é efetiva e eficiente para melhorar o desenvolvimento infantil”, ressalta Hermano Rocha.
Também são autores do artigo o Prof. Christopher Sudfeld, da Escola de Saúde Pública de Harvard; o Prof. Álvaro Leite, do Departamento de Saúde Materno-Infantil da UFC; os docentes Luciano Correia, Márcia Machado e Sabrina Rocha, do Departamento de Saúde Comunitária da UFC; e Jocileide Campos e Anamaria Silva, professoras do Centro Universitário Christus (UNICHRISTUS).