Além da linha de frente: técnico de enfermagem leva musicoterapia para pacientes internados

Mesmo com o cansaço excessivo e tendo que conviver com o caos da pandemia de Covid-19, profissionais da saúde encontram força interna para fazer mais do que cuidar dos pacientes

Escrito por Agência de Conteúdo DN ,
Legenda: O assistente de enfermagem Efraim Freitas toca piano para os pacientes do Hospital Leonardo Da Vinci
Foto: Acervo pessoal

Em meio ao desespero que a pandemia trouxe a pacientes e familiares, profissionais se revezam em escalas de plantão lutando para acompanhar cada vida e, mesmo exaustos físico e psicologicamente, conseguem explorar, interiormente, um talento, um algo a mais para diminuir o sofrimento em UTIs e enfermarias. Enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, dentre muitas outras especialidades, lutam contra um cenário de hospitais lotados e com a incerteza da sobrevivência de centenas de milhares de vidas.

Quem diria que um piano de cauda, encostado no canto de uma sala de materiais num hospital, poderia se tornar um alento a pacientes e profissionais, em meio ao caos de uma pandemia. 

Efraim Freitas, que trabalha na linha de frente do setor de enfermagem no transporte de pacientes para a realização de exames do Hospital Leonardo da Vinci, da rede estadual de saúde, referência no tratamento da Covid-19, decidiu, literalmente com as próprias mãos, tentar mudar a realidade naquele lugar. Com 23 anos, e desde os seis tocando piano, o jovem descobriu um piano em desuso no hospital e pensou como poderia ajudar os pacientes de uma outra maneira. Foi quando os seus plantões passaram a ter música ao vivo. “A ideia de começar a tocar no Hospital foi inusitada. Eu estava passando pela ala principal quando avistei o piano. Praticamente todos os dias eu ia trabalhar com a missão de conseguir autorização para tocar aquele instrumento. Quando consegui comecei a tocar em cada final do meu plantão e na passagem para a próxima equipe de trabalho”, disse Efraim.

Segundo Efraim, à medida que sua apresentação ia chegando aos ouvidos das pessoas, o cenário de caos ia mudando. “Quando comecei a tocar percebi que aquelas pessoas que eu levava para fazer exames tinham escutado o piano. Elas achavam até que era a música ambiente do hospital. O repertório é sempre com músicas cristãs para trazer mais esperança aos pacientes. Alguns até fazem seus pedidos musicais.”, explica.

Musicoterapia

A música sempre fez parte da vida de Efraim, mas foi somente na pandemia que ele colocou em prática a empatia pela musicoterapia. “Eu sempre estive ligado à música de alguma maneira e uma das minhas vontades era trabalhar a musicoterapia nas pessoas. Só agora, em meio a uma pandemia, foi que verdadeiramente explodiu e fez parte da minha rotina de trabalho.

A perda do pai no Leonardo Da Vinci

Tocar piano no hospital passou a ter um significado especial para o técnico de enfermagem. Efraim conta que não teve a oportunidade de tocar para o próprio pai, que é uma das vítimas da Covid, falecido exatamente no Hospital Leonardo da Vinci. “Eu posso dizer que sou fruto do meu próprio trabalho. Cada vez que toco o piano, penso no meu pai e nos outros pacientes. Infelizmente, não tive a oportunidade de tocar na alta dele, como tenho feito com tantos outros que estão aqui. Ele ficou um mês internado, mas não resistiu”, disse Efraim.

Hoje, o Leonardo da Vinci é conhecido entre pacientes recuperados e seus profissionais da saúde, como o hospital que cura ao som do piano.

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