8 a cada 10 acidentes com VLT no Ceará são colisões; saiba linhas com mais ocorrências

O VLT de Sobral, que realiza 84 viagens por dia, lidera em número de acidentes: foram 110 registros entre 2016 e 2021

Escrito por Theyse Viana e Nícolas Paulino , theyse.viana@svm.com.br
VLT Fortaleza
Legenda: Atropelamentos são segundo tipo de acidente mais frequente envolvendo VLTs no Ceará
Foto: Natinho Rodrigues

A expansão gradual do número de linhas e viagens realizadas pelos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) no Ceará aumenta, por efeito, os pontos das cidades expostos a acidentes: em seis anos, foram 249 colisões, atropelamentos e outras ocorrências. Os dados são da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor).

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O VLT de Sobral, que realiza 84 viagens por dia, lidera em número de acidentes: foram 110 registros entre 2016 e 2021. Uma das razões, como aponta o Metrofor, é o fato de a linha ter 29 passagens de nível (PNs), os cruzamentos entre a via férrea, ruas e avenidas. É o maior número entre todas as operadas pela companhia.

Em seguida, a Linha Oeste do metrô de Fortaleza concentra mais acidentes, com 54 registros no período; mais que o dobro do VLT do Cariri, que se envolveu em 25 ocorrências. O VLT Parangaba-Mucuripe, inaugurado em 2017, soma 12 registros.

Em 2021, as colisões/abalroamentos corresponderam a 79% das ocorrências, seguidas pelos atropelamentos, com 9%, conforme o Metrofor. “As outras ocorrências são 12% do total, como vandalismo e problemas operacionais”, pontua a companhia.

No último dia 18 de outubro, um carro foi arrastado por um VLT, no bairro Quintino Cunha, em Fortaleza, deixando três pessoas feridas. Testemunhas afirmaram que não havia sinalização nem sinal sonoro no local, informação negada pelo Metrofor.

Um mês antes, um ciclista havia sido atropelado por um VLT da linha Parangaba-Mucuripe, no bairro São João do Tauape, na Capital. Ele ficou preso embaixo do vagão. O Metrofor informou, à ocasião, que o homem “ignorou a sinalização e invadiu a passagem de nível”.

Sinalização deve ser reforçada

Uma das queixas mais constantes de condutores após acidentes com trens é sobre a sinalização das vias, que não deve ser apenas visual – com instalação de cancelas, placas e símbolos no asfalto –, mas também sonora.

De acordo com o Metrofor, todos os cruzamentos de vias férreas com ruas e avenidas do Ceará contam com esses recursos, incluindo a “cruz de Santo André” e as inscrições “pare, olhe e escute”; mantidos periodicamente “para garantir o funcionamento correto”.

Praticamente na totalidade dos casos de abalroamento (quando carros invadem a via férrea), havia sinalização operante, visualizada pelas câmeras de monitoramento. Por isso, destacamos o papel fundamental dos motoristas para se evitar colisões com trens.
Metrofor
Em nota

Entre as condutas proibidas aos motoristas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) está “deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea”. A infração à determinação, que consta no artigo 212, é gravíssima, com multa de R$ 293,47 mais 7 pontos na carteira de habilitação.

Segundo o Metrofor, todas as ocorrências estão sendo monitoradas, e servirão como base para um estudo dos pontos em que os acidentes são mais recorrentes. A ideia é desenvolver e adotar estratégias para minimizar os riscos, aponta a companhia.

Viadutos: soluções muito caras

Colisão VLT Fortaleza
Legenda: Colisão frontal entre dois trens do VLT Parangaba-Mucuripe ocorreu em setembro de 2019
Foto: Carlos Marlon

Cruzamentos entre vias férreas e rodoviárias “não são como outro qualquer”, e exigem um nível muito maior de cuidado por parte dos condutores, como salienta Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O especialista pontua que “é preciso diminuir bastante o número de passagens de nível no ambiente urbano”, e que as possíveis soluções para isso incluem o fechamento total das vias e a construção de viadutos – a primeira “radical”, a segunda “muito cara”.

Mário recobra que parte dos VLTs é construída “aproveitando uma linha de trens de carga”, em locais da cidade “que talvez antigamente não tinham tanto movimento”, mas hoje têm um novo perfil de ocupação do solo.

“O que temos que fazer para diminuir os acidentes é eliminar a possibilidade de conflito ou, caso não seja possível, reforçar a sinalização. Reforçar também a comunicação com os motoristas e a população: o ferroviário é um veículo diferente, não se pode brincar de enfrentar um trem”, alerta o professor.