Tá esquecida? Especialista indica 5 atividades para memória e concentração
Mulheres estão mais propensas a este tipo de transtorno
Viu que era o aniversário daquela amiga querida, mas só lembrou de mandar a mensagem dias depois? Marcou uma reunião virtual e tomou um susto quando chegou o link porque já tinha esquecido do compromisso? Bem-vinda ao grupo! Você não está sozinha, e a pandemia de Covid-19 potencializou e muito esses processos.
Afinal, não é nada simples recordar todos os fatos enquanto assiste a um noticiário, vê atualizações em redes sociais, fala ao telefone, escuta música e ainda cuida da casa, tudo ao mesmo tempo.
“O excesso de informação dificulta o foco da atenção, além de sobrecarregar as nossas vias de fixação da memória, o que leva, naturalmente, a maior fragmentação daquilo que somos aptos a memorizar”, explica o neurologista e médico do sono Samir Magalhães.
Segundo o especialista, os processos de aquisição, processamento e evocação (lembrar) são extremamente complexos e envolvem diversas áreas do nosso cérebro.
Logo, para que esta máquina funcione bem, precisamos deixá-la o mais propensa possível a receber, trabalhar e buscar essas lembranças. Mas diversas situações podem fragilizar tais funções.
“O estresse emocional e a perda das pistas de memória que a rotina nos oferece são fontes fundamentais de problemas para que isto não ocorra de modo adequado”, alerta o neurologista.
Ainda segundo ele, o desenvolvimento de sintomas relacionados a transtornos mentais, como ansiedade, tristeza, isolamento social, sensação de vazio e insônia, exacerbam as dificuldades de memória e atenção.
Os desafios de ser multitarefa
E é bem aí que a pandemia tem exigido bastante de nós. “Não estamos propriamente mais esquecidos, estamos mais expostos à informação e à necessidade de funcionar em um modo ‘multitarefas’”, explica Samir Magalhães.
As muitas atividades solicitadas, porém, esbarram em um limite de produtividade e, naturalmente, de qualidade. Portanto, segundo o neurologista, de um modo geral, estamos fazendo mais processos, com menos qualidade e eficiência, simultaneamente.
“Estudos cerebrais com ressonância funcional demonstram que indivíduos, ao serem submetidos a tarefa única repetitiva ou múltiplas tarefas, têm maior ativação de áreas de processamento frontais quando submetidos a múltiplas atividades, o que gera maior consumo metabólico e maior ativação neural de forma difusa do que ao repetir uma tarefa única. Assim, a multiplicidade de tarefas compromete o benefício da eficiência e automaticidade de estar focado em uma tarefa única”, teoriza.
Outra coisa que os estudos científicos já confirmaram é que as mulheres estão mais suscetíveis a problemas de saúde como depressão, ansiedade generalizada, pânico e dificuldades de memória e atenção, ainda que os homens sofram, habitualmente, com a maior gravidade dos casos.
“A predisposição feminina a estes transtornos é explicada por diversos fatores, desde atributos genéticos, a questões culturais e sociais”, pontua o especialista.
Quando procurar ajuda
Mas a dificuldade de se lembrar de fatos da vida pode ocorrer em pessoas saudáveis e não necessariamente implica em um problema de saúde, segundo Samir Magalhães.
“Devemos nos preocupar quando estes esquecimentos impactam de modo relevante nas atividades de vida diária do indivíduo. Por isso, é muito importante observar a limitação decorrente desse tipo de sintoma”, diz.
Se o transtorno estiver ligado a um quadro clínico reversível, tal como um problema da tireoide, um déficit vitamínico ou outra disfunção do organismo que seja tratável, o neurologista indica que há melhora após a correção do distúrbio.
Da mesma forma, se o esquecimento estiver associado a eventos estressores, privação crônica de sono e fatores ambientais que venham a ser corrigidos, o especialista também enxerga a reversão do quadro.
“Já o esquecimento associado a condições degenerativas como a demência de Alzheimer, Demência de Lewy ou até mesmo a Demência vascular são passíveis de tratamento para ajudar no controle do sintoma, porém, até então não temos tratamentos modificadores do curso da doença”, explica.
Assim, o profissional recomenda que sempre que os sintomas forem persistentes - não sendo visualizados a partir de uma causa fácil e brevemente reversível, como, por exemplo, uma semana com noites de sono mal dormidas -, o indivíduo deve procurar ajuda especializada.
Atividades
Para prevenir ou remediar, vale a dica do neurologista: trabalhar a mente não significa exclusivamente fazer atividade mental.
A realização de atividades físicas prazerosas, especialmente as aeróbicas, segundo ele, são muito importantes nesse processo.
Vamos então conferir cinco estratégias indicadas pelo médico para melhorar a memória e a concentração?
1) Jogos de tabuleiro são muito interessantes para o raciocínio e para trabalhar habilidades visuoespaciais;
2) Cozinhar, seguindo ou não receitas, exige concentração e criatividade;
3) Jardinagem é relaxante, propicia contato com a natureza e incentiva a atividade física;
4) Tocar instrumento musical favorece o foco, o aprendizado motor fino, o ritmo e tem caráter lúdico;
5) Fazer leituras ou assistir filmes e depois realizar um breve resumo em papel ou narrado para alguma pessoa favorece as vias de evocação de memórias, capacidade de síntese e interação social.