Mediação escolar é saída para resolver conflitos de estudantes

Entre os problemas mais comuns estão discussões, ameaças, agressões físicas, bullying e conflitos entre alunos e professores. Atendimento é promovido por mediadores nos seis distritos de educação da Capital

Escrito por Renato Bezerra , renato.bezerra@diariodonordeste.com.br
Legenda: Além de buscar a resolução pacífica dos conflitos, a mediação ajuda a aprimorar as habilidades emocionais dos estudantes
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

Contribuir na pacificação e na democratização da escola, estimular a comunicação de paz, assim como trabalhar habilidades emocionais e sociais nos estudantes são os principais ganhos de um processo cada vez mais necessário nos dias atuais: a mediação escolar. Nos últimos cinco anos, essa perspectiva de resolução de conflitos demandou à Secretária Municipal de Educação (SME) 852 atendimentos, sendo 334 deles somente no ano passado.

Entre os problemas mais comuns estão discussões, ameaças, agressões físicas, bullying e demais situações de violência, práticas essas combatidas pela Célula de Mediação Social e Cultura de Paz do Município. O atendimento às escolas é promovido por uma equipe de mediadores em atuação nos seis Distritos de Educação de Fortaleza.

"São casos que poderiam ter se transformado em manifestações de violência, em alunos fora da escola, em situações de grave exclusão e violência psicológica promovida por bullying e indisciplina dos alunos e, no entanto, através desse cuidado, esses meninos permanecem nas escolas", destaca a técnica da Célula de Mediação Social e Cultura de Paz da SME, Joelma Gomes.

Conforme explica, a segunda linha de atuação tem como eixo a prevenção, através do projeto Escola Mediadora que Promove a Paz (Empaz). O objetivo da iniciativa é prevenir a violência e promover a resolução pacífica dos conflitos escolares para criar um ambiente seguro e propício ao crescimento intelectual, humano e social dos atores envolvidos no processo educacional, sejam eles alunos, professores ou gestores. Atualmente, são 26 as escolas participantes do Projeto, com meta de expansão para 40 até 2020.

A metodologia passa pela capacitação de alunos do 6º ao 9º ano, gestores, coordenadores, orientadores educacionais, professores, funcionários e até familiares dos estudantes. "A gente capacita essas pessoas a partir de três grandes temáticas. A mediação de conflitos; os círculos de construção de paz, que tem base na justiça restaurativa; e a comunicação não violenta", diz Joelma Gomes.

Desafio

Um trabalho realizado também com eixo nas competências emocionais, ainda segundo a técnica da SME, visa vencer um dos grandes problemas verificados pela Célula, o da fragilidade emocional dos estudantes. Cerca de 70% a 80% dos conflitos de indisciplina, detalha ela, decorrem de jovens que não conseguem lidar com suas emoções, extravasando-as em brigas ou em casos de bullying.

"Em 2018 percebemos um aumento de adolescentes muito frágeis emocionalmente, a questão da automutilação promovida por questões de inteligência afetiva. Não é nem por uma questão pedagógica em si, são casos de muita carência afetiva, famílias muito emocionalmente desestruturadas. São adolescentes carregando um peso que eles não têm estrutura emocional para carregar", avalia.

É do Vicente Pinzón que vem um bom exemplo da redução de conflitos no ambiente escolar. Entre 2015 e 2016, a Escola Matias Beck viu cair em 60% seus índices de violência, segundo dados do Instituto Terres des Hommes Brasil, organização não governamental parceira da Secretaria da Educação do Estado (Sesa) na criação da sua Célula de Mediação Social e Cultura de Paz.

A queda, segundo o Instituto, se deu pelas ações de sensibilização junto à comunidade escolar, a formação de professores e membros do núcleo gestor em mediação de conflitos e a construção de círculos de paz. Das 108 ocorrências registradas em 2016, segundo o Instituto, verificou-se a ausência do uso de suspensão e aplicação de práticas restaurativas em 15% dos casos; e de advertência em 75% das ocorrências.

Atualmente, o Terres des Hommes Brasil atende a escola por meio do projeto "Mucuripe da Paz", realizado em cinco instituições de ensino do bairro e de áreas adjacentes. No ano passado, 1.083 crianças e adolescentes foram assistidos pelo projeto, que identificou, entre os conflitos na região, embates entre alunos e professores, ameaças e agressão física entre os meninos, bullying, uso de drogas e brincadeiras de cunho sexual.

As escolas estão sob o contexto, ainda, da violência comunitária, que também impacta negativamente dentro das unidades de ensino. Para a psicóloga e assessora especializada em Justiça Juvenil do Terres des Hommes Brasil, Lastênia Soares, sejam fora ou dentro da escola, são conflitos que trazem prejuízos ao desenvolvimento do aluno.

"Dentro de um contexto comunitário violento, muitas vezes os alunos não conseguiam ir até a escola por não se sentirem seguros. Essa violência impacta na aprendizagem ou no sentido de pertencimento", afirma a psicóloga.

Ela pontua que a criança, o adolescente, o próprio profissional e a comunidade escolar, como um todo, não se sentem pertencentes àquele lugar se é um espaço de grandes conflitos. "Toda situação de violência impacta no nível de concentração, de vinculação com o aprender. As relações ficam fragilizadas".

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