São Paulo atinge recorde de mortes causadas pela Covid-19 em 24 horas

O estado registrou 1.021 óbitos causados pela doença

Escrito por Monica Bergamo, Patrícia Pasquini e Patrícia Campos Melo/Folhapress ,
Profissionais de saúde cuidam de paciente COVID-19 que permanece na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Emilio Ribas em São Paulo, Brasil
Legenda: De acordo com as últimas projeções, os leitos de UTI no estado podem se esgotar em três dias se novas estruturas não forem abertas
Foto: AFP

São Paulo bateu o recorde morte causadas pela Covid-19 em 24 hora. O estado registrou 1.021 óbitos causados pela doença. O dado supera as piores expectativas da equipe de saúde do governo paulista, que previa que o número de óbitos poderia chegar a 800.

O Brasil vive atualmente o pior momento da epidemia do novo coronavírus. Só em São Paulo há 28.738 pacientes internados se tratando da doença. Destes, 16.570 estão em enfermarias e 12.168 estão em UTIs.

O salto nas UTIs foi de 40% apenas em março. No dia 8, 8.657 pacientes estavam em tratamento intensivo. Agora, são 12.168. A taxa de ocupação de leitos de UTI era de 91,2% no estado e de 91,3% na Grande São Paulo.

De acordo com as últimas projeções internas, os leitos podem se esgotar em três dias se novas estruturas não forem abertas.

As internações de pacientes subiram em ritmo explosivo. Na semana passada, elas chegaram à média diária de 3.086 novas internações. Descontadas as altas e as mortes, havia um acréscimo de até 300 pacientes por dia nos hospitais

Ações restritivas

O governador de São Paulo, João Doria, baixou medidas restritivas rigorosas. O isolamento social, no entanto, atingiu apenas 47% no sábado (20) e 51% no domingo (21). 

As projeções internas do governo de SP mostram que diminuiu a velocidade de aumento da curva de internações de pacientes com Covid-19 em UTIs no estado. No sábado, 238 internados se somaram ao total. No domingo, foram 92. Na segunda-feira (22), 100 doentes a mais, sempre descontadas as altas e os óbitos que abrem vagas no sistema hospitalar.

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O dado indica que a curva poderia estar alcançando um platô, no pior momento da epidemia até agora. Ela, no entanto, segue subindo de forma preocupante, ainda que em velocidade mais lenta. E as UTIs seguem lotadas. Por isso, as informações de um ritmo mais lento são tratadas com cautela.

Ainda assim é possível, segundo um técnico, que a curva comece a ser achatada e que o cenário de guerra atual ao menos não se agrave.

São Paulo já registrou até agora 2.332.043 casos confirmados de Covid-19. Do total de doentes, 68.623 morreram. E 2.025.301 se recuperaram.

Falta de oxigênio

Funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA ) Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, afirmam que faltou oxigênio na unidade por pelo menos 30 minutos, na noite de sexta-feira (19).

Isso levou à morte de três pacientes internados com Covid-19, afirmaram profissionais de saúde da unidade à reportagem da Folhapress em caráter reservado.

Segundo eles, a falta de oxigênio levou à morte de um paciente que estava na emergência, outra na observação e um terceiro enquanto era transferido para outra unidade. No total, dez pacientes precisaram ser transferidos às pressas para outros hospitais, oficialmente como medida preventiva.

O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, afirmou em entrevista à TV Globo no sábado (20) que, como a fornecedora White Martins não conseguia fazer a entrega de oxigênio a tempo, os profissionais da UPA decidiram pela transferência dos pacientes.

"O problema não é o oxigênio; é o esgotamento logístico da entrega do produto que está causando a demora. Numa UPA como essa nós enchíamos o tambor de oxigênio uma vez por semana; agora, chega a três vezes por dia e não está dando conta. Nós conseguimos avaliar o caso e tomar a decisão adequada e rápida para a transferência dos pacientes", declarou Aparecido.

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Servidores dizem que o temor dos funcionários pela falta do oxigênio começou perto de 17h45, porque o estoque estava chegando ao fim. Às 20h15, foi dado um alerta aos médicos para economizarem o produto, pois o caminhão da White Martins ainda não havia chegado com nova carga.

Logo em seguida, começaram os procedimentos de transferência. Às 20h40, o oxigênio acabou, e um caminhão com suprimento da White Martins só chegou às 21h12.

Neste meio tempo, médicos e enfermeiros tiveram de recorrer a um equipamento de ventilação manual conhecido como Ambu (da sigla em inglês Artificial Manual Breathing Unit).

Eles realizaram um procedimento conhecido informalmente como "ambuzar" os pacientes, ou seja, usar manualmente o equipamento, que lembra um fole.

Além das mortes, muitos pacientes que estavam usando máscara de oxigênio tiveram uma piora no estado, porque ficaram muito tempo sem o insumo, e precisaram ser intubados depois. As chances de sobrevivência dos pacientes com Covid-19 caem acentuadamente após entrarem em ventilação mecânica.

Funcionários do local relataram estar com muito medo de trabalhar nessa situação de falta de insumos e de oxigênio, que descreveram como "uma guerra".

Em nota enviada no sábado (20), a White Martins afirmou que a UPA Ermelino Matarazzo foi notificada formalmente sobre a necessidade de informar previamente qualquer incremento de consumo do produto à fornecedora, para avaliação e adequação dos seus equipamentos instalados e malha logística.

Segundo a White Martins, a UPA Ermelino Matarazzo multiplicou o consumo do produto na unidade por 16 -de 89 metros cúbicos por dia em dezembro de 2020 para 1.453 metros cúbicos por dia no dia 18 de março (última atualização).

Procurada pela reportagem, a direção da UPA Ermelino Matarazzo negou a falta de oxigênio na sexta (19) e que tenham ocorrido óbitos em decorrência do problema. "Nessa data, em todo o dia, foram registrados dois óbitos, nenhum deles devido à falta de oxigênio", diz o texto.

A Secretaria Municipal da Saúde afirmou que a Prefeitura de São Paulo estruturou todas as UPAs para que as suas emergências se transformassem em UTIs com o objetivo de suportar a alta demanda de pacientes com Covid-19.

Segundo a Secretaria, as Organizações Sociais de Saúde que administram as UPAs foram autorizadas a adquirir mais equipamentos e aumentar os recursos humanos com especificidade em Unidade de Terapia Intensiva para permitir que o paciente internado tenha o atendimento adequado.

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