Boi nos ares: o que fez mais de 300 touros viajarem de avião do Brasil a Senegal
Para o transporte foi utilizado um Boeing 777F da Ethiopian Airlines, com capacidade para transportar 102,8 toneladas. Poltronas foram retiradas e a temperatura era de 15 ºC
Touros voando. Dúvida? Pois no início deste mês, uma operação atípica fez com que 312 touros brasileiros viajassem mais de 5 mil quilômetros de avião para o Senegal, na África.
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Os animais foram transportados em dois voos exclusivos depois de uma compra do governo senegalês, que encomendou touros da raça Guzerá para o melhoramento genético dos rebanhos locais. As informações são do g1.
A logística, claro, precisou ser diferenciada: baias no lugar das poltronas, temperatura de 15 ºC e nada de lanchinho. Por sua vez, a escolha pelo avião para o deslocamento foi devido ao número de bovinos.
Para o transporte em navios, mais comum para cargas vivas, é necessário juntar pelo menos mil animais. O custo total da operação não foi divulgado.
Foi utilizado um Boeing 777F da Ethiopian Airlines, com capacidade para transportar 102,8 toneladas, segundo a própria fabricante.
Como aconteceu a viagem
A primeira viagem ocorreu em 7 de maio, quando 155 touros da raça Guzerá embarcaram. No dia 10, foram 157, sendo 155 touros Guzerá e um casal da raça Sindi.
Todos saíram do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e aterrissaram no Aeroporto Internacional Blaise Diagne, em Dakar, no Senegal. A opção por Viracopos é porque o aeroporto possui o maior terminal de cargas do país.
Segundo a direção da unidade, todo o trabalho de transporte de carga viva é realizado com a autorização e fiscalização do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Além dos touros, estavam a bordo somente o piloto, dois tripulantes e o dono da empresa que intermediou a compra dos animais.
Para organizar a viagem dos touros Guzerá, foi necessário checar as medidas do avião. Era preciso saber peso e densidade dos bichos para estabelecer o número de animais a cada 10 metros quadrados da aeronave, além das dimensões das baias.
No caso da operação para o Senegal, foram organizadas 33 baias de madeira, com capacidade para quatro ou cinco touros cada uma. Elas foram forradas com palha de arroz para evitar que os dejetos dos animais sujassem a aeronave e foram posicionadas no cargueiro conforme o espaço recomendado.
Quarentena
Outro detalhe importante: antes do embarque, os touros ficaram 20 dias em quarentena em uma fazenda em Ibitinga (SP), onde receberam vacinas contra a febre aftosa, contra a brucelose e a tuberculose. Além disso, todos fizeram exame andrológico para constatar a fertilidade.
Também receberam um chip na orelha para que o Ministério da Agricultura possa rastreá-los. O trajeto foi de mais de seis horas e, durante esse período, os animais ficaram sem alimentação. Apenas na fazenda do outro país eles recebem alimentação novamente, não sem antes se alimentar devidamente no Brasil.
Durante a operação, veterinários também ficaram à disposição para atender os touros no caso de alguma eventualidade. No entanto, a empresa garantiu que a operação foi concluída com sucesso, sem mortes de animais.
Na verdade, o trabalho com o gado teve início em 2015, quando o governo do Senegal entrou em contato com GBC Internacional, manifestando interesse em comprar touros brasileiros da raça Guzerá.
A raça se destaca por ter dupla aptidão, ou seja, pode ser usada tanto para produção de carne quanto de leite. Por isso, ainda em 2015, 360 bovinos dessa raça, entre touros, vacas prenhas e bezerros, foram levados do Brasil ao Senegal.
Neste ano, além dos 312 touros Guzerá, um casal da raça Sindi voou para a África. Com o êxito da operação, foi feito um contrato com o governo senegalês para a exportação de mil touros brasileiros por ano. E a intenção é expandir o programa para outros países do oeste da África.
Os touros Guzerá
Um touro Guzerá melhorador, ou seja, que vai servir para procriar e promover o melhoramento genético do rebanho, custa de R$12 mil a R$30 mil, de acordo com o pecuarista.
Os animais são catalogados pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que tem registros sobre a linhagem do touro e suas características.
Em dois anos, os bezerros já podem ir para o abate. O valor adquirido com a venda de carne da primeira gestação já deve pagar os custos da compra dos touros e da operação de transporte, e ainda gerar lucro.