
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, nessa terça-feira (4), que o país norte-americano "assumirá o controle" da Faixa de Gaza, proposta que poderia "mudar a história", segundo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Nesta quarta-feira (5), o presidente palestino, Mahmud Abbas, o movimento Hamas e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) rejeitaram o plano.
Na ocasião, Trump solicitou novamente que os mais de 2 milhões de moradores do território, devastado por mais de 15 meses de bombardeios israelenses, se mudem para países vizinhos, como Egito e Jordânia, apesar dessas nações serem opostas à sugestão, assim como os próprios palestinos.
"Os Estados Unidos assumirão o controle da Faixa de Gaza e também faremos um bom trabalho. [...] Seremos os donos dela e seremos responsáveis pelo desmantelamento de todas as perigosas bombas não detonadas e outras armas neste lugar", afirmou o presidente americano ao lado de Netanyahu, com quem se reuniu na Casa Branca.
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Lideranças palestinas rejeitam plano de Trump
O presidente palestino, Mahmud Abbas, se mostrou contrário às ideias apresentadas por Trump. "O presidente Mahmud Abbas e os líderes palestinos expressaram sua forte rejeição aos apelos para tomar a Faixa de Gaza e deslocar os palestinos para fora de sua terra natal", afirma um comunicado oficial.
"Em resposta aos apelos americanos para o deslocamento de palestinos de Gaza, não permitiremos que os direitos do nosso povo sejam violados", disse Abbas.
A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) também rejeitou qualquer projeto visando "deslocar os palestinos para fora da sua pátria". A liderança "manifesta sua rejeição a todas os pedidos para deslocar o povo palestino para fora de sua pátria. Nascemos aqui, vivemos aqui e ficaremos aqui", declarou Husein Sheikh, secretário-geral da OLP, em uma mensagem na rede social X.
O Hamas classificou a ideia do republicano como "racista". "A posição racista americana está alinhada com a da extrema-direita israelense, que consiste em deslocar o nosso povo e erradicar nossa causa", afirmou em um comunicado um porta-voz do movimento islamista palestino, Abdel Latif al Qanu.
Faixa de Gaza como 'Costa Azul do Oriente Médio'
Trump afirmou, sem revelar detalhes, que os Estados Unidos vão "nivelar o lugar e se desfazer dos edifícios destruídos" para desenvolver economicamente o território e ter "uma quantidade ilimitada de emprego e habitação para as pessoas da área". Ele, contudo, não especificou como pensa em fazer isso. Limitou-se a dizer que é um projeto "a longo prazo", e garantiu que gostaria de transformar o território na "Costa Azul do Oriente Médio".
No entanto, o presidente pareceu sugerir que não seriam os palestinos que retornariam à Faixa. "Não deveria passar por um processo de reconstrução e ocupação pelas mesmas pessoas que realmente estiveram ali e lutaram por ela, e viveram ali e morreram ali, e viveram uma existência miserável ali", disse.
Netanyahu, que classificou Trump como o "melhor amigo que Israel já teve", acredita que o plano de Washington para Gaza pode "mudar a história" e que vale a pena "prestar atenção".
Arábia Saudita reforça criação de Estado palestino
O primeiro-ministro israelense afirmou que um acordo de normalização das relações entre Arábia Saudita e Israel "vai acontecer". Em resposta à declaração, o país islâmico no Oriente Médio descartou formalizar as relações com Israel a menos que se estabeleça "um Estado palestino".
"A Arábia Saudita continuará seus esforços incansáveis para estabelecer um Estado palestino independente, com Jerusalém Oriental como sua capital, e não estabelecerá relações diplomáticas com Israel sem isso", afirmou o Ministério das Relações Exteriores saudita na rede social X.
A Faixa de Gaza é um território palestino governado pelo Hamas desde 2006, e alvo de bombardeios israelenses constantes após o movimento islamista palestino investir em um ataque contra Israel em outubro de 2023. Uma trégua entre Hamas e Israel foi firmada em janeiro e interrompeu o conflito que se arrastava por 15 meses na região.
ONU se manifesta
Um alto funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) descreveu, nesta quarta, como "muito surpreendente" a ideia apresentada pelo presidente dos Estados Unidos de assumir o controle da Faixa de Gaza e deslocar a população palestina do território.
"É algo muito surpreendente e ainda precisamos ver concretamente o que isso significa", disse à AFP o chefe da agência da ONU para refugiados, Filippo Grandi. "É muito difícil se expressar sobre essa questão, que é muito delicada", acrescentou.
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