Policial militar mata cachorro a tiros durante abordagem no bairro Montese, em Fortaleza
Corporação afirma que o cão da raça Pitbull avançou na direção de um PM, mas a família nega e denuncia que houve abuso de autoridade

Um cachorro da raça pitbull foi morto a tiros por um policial militar durante uma abordagem realizada em uma casa no bairro Montese, em Fortaleza, na última terça-feira (14). Enquanto os tutores do animal denunciam abuso de autoridade, a Polícia Militar do Ceará (PMCE), por sua vez, alega que os disparos ocorreram porque o cão avançou contra o agente de segurança.
A Corporação justifica, em nota, que o PM efetuou dois disparos "nas proximidades" para "afugentar" o animal, mas ele seguiu avançando. "Diante dessa situação, o policial efetuou mais dois disparos de arma de fogo, atingindo o animal".
O atestado de óbito do animal, assinado por uma médica veterinária, ao qual o Diário do Nordeste teve acesso, aponta que ele faleceu em decorrência de quatro disparos de arma de fogo.
Os tiros causaram "pneumotórax traumático, hemotórax, hemorragia intensa e choque hipovolêmico" no cachorro, que morreu aos 2 anos e se chamava Bolt.
'Em nenhum momento o cachorro esboçou que ia avançar'
A autônoma e estudante Bárbara Shelda Lopes de Andrade, uma das tutoras do cão, relatou à reportagem que o PM atirou assim que percebeu que era um Pitbull. "Ele tava só com a cabecinha para olhar também, na porta junto comigo, mas em nenhum momento o cachorro esboçou que ia avançar nele [no policial]", relata. Ela conta ainda que um dos disparos quase a atingiu.
A família criou o cachorro desde filhote e conta que o considerava como um filho: "Por isso que tá doendo muito, entendeu? [...] A gente deu tanto amor, tanto carinho, tanta atenção para ele morrer assim de tiro sem ter feito nada".
"Até hoje meu filhos estão traumatizados por causa dos tiros e do cachorro morrendo. Meu filho estava na sala e viu tudo. O meu [filho] mais velho ficou retraído e não quer mais falar sobre o cachorro, ele meio que ficou com trauma, sabe?", desabafa.
Ainda por nota, a PMCE informou "que foi aberta uma investigação preliminar para apurar os fatos relacionados à denúncia".
Casal teria sido ameaçado por PMs
De acordo com o boletim de ocorrência (B.O), os PMs entraram na casa de Bárbara e do marido, Luiz Fernando Amorim Magalhães, pois receberam uma denúncia de drogas na residência do casal. A PMCE informou que fazia diligências no bairro Montese, quando um suspeito fugiu e se abrigou em uma casa da região.
Conforme o relato do B.O, os agentes que entraram na moradia do casal não encontraram ilícitos no local, mas ameaçaram levá-los para a delegacia se eles denunciassem a morte do cachorro.
Na denúncia, feita por Fernando, ela reforça que não possui mais envolvimento com tráfico de drogas, após um antecedente em 2015. "Ele [policial] tirou um saquinho com drogas do colete e disse 'você quem sabe, se você for atrás da morte desse cachorro, eu vou levar você e seu marido agora para a delegacia'", comentou Bárbara.
A mulher contou ainda que a viatura dos policiais da ocorrência estão rondando a casa dela, como forma de intimidação: "Todo dia eles estão indo lá de noite, e ficam de 10 a 15 minutos com a viatura parada em frente à minha casa e eu já não sei mais o que fazer".
O caso foi registrado como abuso de autoridade no 25º Distrito Policial (DP), no bairro Vila União.
Por nota, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou que o caso está em investigação no âmbito administrativo.
Entidades de proteção animal denunciam caso
A Organização Não Governamental (ONG) Anjos da Proteção Animal (APA) de Fortaleza, e a Sociedade Protetora Ambiental no Ceará (SPA-CE) repudiaram o caso e informaram por meio das redes sociais que denunciaram o caso à CGD.
"O pobre cachorro levou quatro tiros no peito, sem mostrar qualquer tipo de agressão, pois era um animal dócil, que vivia livremente em casa, inclusive com crianças. Estamos tomando as medidas cabíveis e exigimos justiça", afirmou a fundadora da APA, Stefanie Rodrigues.
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*Estagiário sob a supervisão dos editores Felipe Mesquita e Mariana Lazari