PM tentou evitar prisão de homem por roubo à Base Aérea, diz MPCE

Conforme a denúncia, um traficante pediu proteção para um sargento da Polícia Militar, que contactou colegas de farda para alcançar o objetivo. Tratativas foram descobertas no bojo da Operação Maçãs Podres

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.Br
Legenda: A Base Aérea de Fortaleza (BAF) foi invadida por homens armados e roubada na noite de 20 de maio de 2016. Dois soldados participaram do crime
Foto: Foto: Kléber A.Gonçalves

A quadrilha formada por policiais militares na Região do Grande Bom Jardim, em Fortaleza, desarticulada na Operação Maçãs Podres, praticou diversos crimes em conluio com traficantes, segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE). Essa relação criminosa teria feito um PM tentar evitar que um homem fosse preso por um roubo de armas de fogo da Base Aérea de Fortaleza (BAF), ocorrido na noite de 20 de maio de 2016.

Conforme a denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, contra dez policiais, o traficante Leandro de Sena Braga ligou para o líder da quadrilha militar, o sargento Jeovane Moreira Araújo, para pedir que a investigação do roubo à Base Aérea não respingasse nele, já que o seu irmão Paulo de Oliveira Braga, o 'Paulinho', era um dos participantes do crime. A conversa foi interceptada por autorização da Justiça Estadual.

Jeovane promete a Leandro que ele não será detido e orienta o mesmo a pedir ao seu irmão para se desfazer das armas roubadas - três fuzis e uma pistola 9 mm - e avisar à Polícia sobre a localização.

Em seguida, o PM liga para um amigo, o também sargento Glaydson Eduardo Saraiva, o 'Gordinho' (também denunciado pelo MPCE), para solicitar que o militar recue "desse B.O." (referindo-se ao caso). 'Gordinho' responde que Leandro "tá voando" e que vai respingar nele. Então, Jeovane volta a ligar para o suposto traficante para alertá-lo: "o negócio vai fechar aí".

A denúncia detalha que o militar líder do esquema criminoso chegou a entrar em contato com um amigo do Serviço Reservado da Polícia Militar, o tenente Edmílson de Souza Amaro (outro acusado), para também pedir que Leandro não fosse preso. Edmílson propõe que o traficante indique a localização de 'Paulinho' e diz que irá conversar com os outros policiais militares.

"O contexto dos áudios deixa claro o empenho dos policiais em afastar o nome do traficante Leandro das investigações com o objetivo de conseguirem com isto alguma vantagem. Como se vê, a teia criminosa estabelecida entre policiais e traficantes é estável, bem estruturada e, muitas vezes, autossustentável, operando numa simbiose perfeita", conclui o Gaeco, apesar das investigações não apontarem como terminou o caso.

Os sargentos Jeovane e Glaydson, o tenente Edmílson e mais sete PMs estão presos desde o último dia 2 de agosto, por participarem de uma quadrilha que se ligava a traficantes, para cometer crimes como tráfico de drogas, extorsão e porte e posse ilegal de arma de fogo. Os advogados de defesa dos três militares não foram localizados. Já Leandro Braga foi assassinado no dia 28 de maio de 2017.

Roubo

A Base Aérea de Fortaleza, localizada na Avenida Borges de Melo, foi invadida por homens armados e roubada, em 20 de maio de 2016. Três fuzis e uma pistola 9 mm foram levados. As investigações descobriram que dois soldados da Aeronáutica e mais quatro pessoas participaram da ação ousada. Em julgamento realizado em julho de 2017, os soldados foram condenados a 18 anos e 16 anos de reclusão e outro réu, a nove anos de prisão.

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