Motoristas de APP, perseguição e linchamento: o que está por trás da morte de torcedor do Ceará
John Patrick afirmou que estava na sede Torcida Organizada do Fortaleza (TUF), quando homens pediram para ir para a Serrinha: "quando chegaram lá desceram porque viram torcedores do Ceará"
Ítalo Silva de Lima, torcedor do Ceará, se preparava para assistir ao jogo na tarde do último sábado (18), na Serrinha, quando foi surpreendido por um grupo criminoso: "torcedores vândalos do time rival, o Fortaleza", conforme depoimentos de policiais que atenderam a ocorrência e que a reportagem teve acesso. Espancado, com ferimentos na cabeça e linchado (morto por espancamento). Sem nem ter sido socorrido.
O homicídio passou a ser investigado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) e quatro suspeitos foram presos. Dentre eles, John Patrick Vieira da Silva e Jarlon Santos de Queiroz Junior, ambos motoristas de aplicativo e que seriam ligados a uma torcida organizada do Fortaleza Esporte Clube.
A Polícia teve acesso às imagens que mostram os torcedores de camisa de cor alvinegra sendo surpreendidos e perseguidos por outros que estavam com camisas vermelha e azul.
O Diário do Nordeste apurou que, segundo a versão de John, ele teria recebido R$ 100 para fazer uma corrida aos passageiros que teriam participado do homicídio. John e Jarlon negam ter envolvimento no crime.
COMO O CRIME ACONTECEU
Imagens indicaram aos investigadores que os criminosos estavam divididos em duas motocicletas e em um automóvel, modelo HB20, cor azul. A Polícia passou a buscar John, até ter informação que ele possivelmente estaria refugiado no Bom Jardim, na sede de uma torcida organizada do time. No entanto, o encontraram escondido na casa de um amigo dele.
O suspeito teria dito que "realmente pegou os torcedores que mataram a vítima, mas só fez a corrida e não sabia do homicídio".
As buscas continuaram até que a Polícia encontrou Jarlon, em posse do veículo usado pelos suspeitos no dia do crime e um revólver. Jarlon também negou o envolvimento na ação criminosa, mas que sabia de um linchamento.
VERSÕES
Jarlon falou aos investigadores que seu amigo, John Patrick o ligou desesperado dizendo que "achava que tinha matado alguém". Quando ele teria pedido explicações, o amigo disse que estava em uma sub-sede de uma torcida organizada do Fortaleza, quando alguém disse que haviam torcedores do Ceará por perto e que Patrick foi até estes torcedores e um morreu.
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Jarlon Santos foi preso e disse já na delegacia que já havia sido torcedor de torcida organizada, mas que atualmente, não mais: "ele acredita que o amigo não estava envolvido diretamente no crime, mas que "apenas" teria levado os envolvidos por ser motorista de APP".
John Patrick afirmou que estava na sede Torcida Organizada do Fortaleza (TUF), quando homens pediram para ir para a Serrinha: "quando chegaram lá desceram porque viram torcedores do Ceará. Ele acreditou que os ocupantes do carro tinham marcado uma briga. Eles desceram e o condutor teria ficado esperando para receber o dinheiro. Depois só viu as pessoas correndo e voltando para entrar no carro", de acordo com a versão do suspeito.
Ele confessou ser torcedor da TUF, mas que não está envolvido em briga.
Sobre a arma de fogo apreendida, ainda disse ter a comprado há meses, por R$ 1900, com intuito de se defender das facções criminosas, enquanto motorista que andava por toda a cidade.
Jarlon Santos Queiroz Júnior e John Patrick Vieira da Silva passaram por audiência de custódia nessa segunda-feira (20). Conforme decisão proferida na 17ª Vara Criminal de Fortaleza, as prisões em flagrante foram convertidas em preventiva.
OUTROS DETIDOS
Os outros dois suspeitos presos pela morte do torcedor são Antônio Gemesson Martins da Silva, de 23 anos; e Arão Bouzgaib Varela Maia, de 24 anos. Eles foram detidos nos bairros Serrinha e Pedras, respectivamente.
"Os alvos foram conduzidos para o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). A PC-CE segue em diligências com a finalidade de identificar e capturar outros indivíduos envolvidos na ação criminosa", conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).