Grupo criminoso que atuava com exploração de mulheres na Europa recebia até R$ 1 milhão

Entre a vítimas estão, principalmente, mulheres do Ceará. Os responsáveis eram empresários que atuavam em empresas de fachada ou agências de turismo.

Escrito por Redação ,

A Polícia Federal no Ceará (PF/CE), em conjunto com autoridades da Itália e Eslovênia, deflagrou, nesta quarta-feira (15), a Operação Marguerita. A PF desarticulou um grupo criminoso internacional especializado em tráfico de pessoas para fins de exploração sexual que atuava no Ceará, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

As investigações, iniciadas em 2013, culminaram com a prisão de 14 pessoas, sendo duas de forma preventiva. Além disso, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e 18 mandados de condução coercitiva expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal no Ceará. Ao todo, a operação contou com 92 policiais federais divididos entre os quatro estados.

Entre os presos estão cinco estrangeiros, dos quais 3 eslovenos e dois italianos. No Ceará, os envolvidos no crime foram encontrados em apartamentos de luxo na Capital e no Cumbuco, no litoral da cidade de Caucaia.

Atuação

De acordo com a delegada da PF Juliana de Sá Pereira, responsável por conduzir as investigações, as vítimas eram resgatadas em Fortaleza e em outras cidades do Brasil com destino a Nova Gorica, na Eslovênia. Lá, atuavam em pelo menos duas casas de prostituição: Marguerita e Faraon.

‘Várias vítimas iam para esta região por meio do Aeroporto de Fortaleza, inclusive tem vítimas de outros estados que vinham para Fortaleza por meio da organização criminosa e saiam daqui, porque as agências que promoviam as facilidades para comprar [as passagens] são localizadas em Fortaleza”, explica a delegada da Polícia Federal.

Parte das mulheres usadas pelo grupo criminoso já atuava com prostituição em Fortaleza. Quando recrutadas, elas acreditavam que poderiam ter melhores condições fora do país, mas, chegando à Europa, a condição era outra.

“Elas tinham uma liberdade limitada. Em determinado horários, tinham que ficar restritas. Se elas quisessem voltar para casa não podiam, porque tinham que fazer programa até tal horas para eles [os agenciadores] obterem o lucro deles.”, explica Juliana de Sá.

Conforme ainda a Polícia Federal, as mulheres recebiam cerca de 200 euros por noite. Porém, 50% do apurado ficava com os organizadores da exploração sexual. Parte do dinheiro ficava com os donos das boates eslovenas e outra parte era enviada para o Fortaleza, onde ficavam os donos de agências que resgatavam as vítimas.

Além de ter que obter o lucro para divisão com os agenciadores, as mulheres tinham que conseguir dinheiro para o pagamento de despesas básicas como alimentação e moradia, que girava em torno de 480 dólares. O valor geralmente era dividido com outras vítimas que dividiam o mesmo apartamento na Eslovênia.

Histórico

O grupo criminoso atuava desde 2010, segundo relatos apurados pela PF com pelo menos 22 cearenses que já retornaram da Europa. A delegada Juliana de Sá afirma que há ainda diversas mulheres que evitaram voltar ao Brasil, seja porque já conseguiram deixar a prostituição ou porque preferiram atuar no ramo.

“O que a gente tem no inquérito já são mais de 30, 40, 50 mulheres. Isto é o que a gente sabe. Porque não é somente em um período. O esquema não foi interrompido, muitas vítimas continuam indo. Algumas fogem para a Embaixada, outras resolvem fazer outra coisa.”, explica a coordenadora da Operação Marguerita.

Prisões

Entre os primeiros identificados estão duas brasileiras que recepcionavam as vítimas em Milão, na Itália. Um terceira está foragida. Para prender as acusadas fora do Brasil, a Polícia Federal contou com a participação de autoridades policiais da Itália e Eslovênia, acionadas pelos canais de cooperação internacional que envolvem a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e a Adidância da PF em Roma.

Entre os demais envolvidos presos estão estrangeiros que vinham a Fortaleza, montavam empresas de fachada, solicitavam visto de permanência com a justificativa de investimentos, mas acabavam atuando com o tráfico internacional de pessoas. 

O chefe da organização, cujo nome não foi divulgado, era um esloveno que foi preso em Fortaleza e, segundo a PF, já tinha deixado o esquema há alguns anos, mas que já respondia pelo crime na Europa. Além dos 5 estrangeiros, os outros 13 atuavam no Brasil.

A PF afirmou que as pessoas denunciadas chegaram a resistir às prisões e negar o envolvimento, mas por meio da quebra de sigilo bancário fiscal, foram identificadas transações bancárias da Europa para Fortaleza destinadas às contas dos empresários envolvidos no crime. De acordo com a Polícia Federal, as transferências chegavam a R$ 1 milhão.

“As pessoas de lá que recebiam esse dinheiro mandavam para os agenciadores aqui, às vezes por transferência e em quantias enormes. Tem uma delas de R$ 1 milhão. E desse valor, foi sacado todo à vista. Foi transferido para uma empresa de fachada, sacado todo à vista.  Verificamos também vários depósitos em dinheiro e o saque no mesmo dia para não deixar transparecer.”, explica Juliana de Sá sobre a atuação dos criminosos.

Entre os materiais apreendidos estão celulares e computadores que serão investigados como um desdobramento da operação, pois a Polícia Federal acredita que mais pessoas possam estar envolvidas, mesmo que 100% dos alvos tenham sido identificados.

Punições

Os presos serão indiciados por crime de tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual (Art. 149A, V, §1º, IV, do CPB), associação criminosa (Art. 288 do CPB) e lavagem de dinheiro (Art. 1º, da Lei nº 9613/98), com pena prevista de até 25 anos de reclusão.

A operação foi batizada de “Marguerita” em alusão ao nome da principal boate (Margerita) na Eslovênia onde se exploravam sexualmente as vítimas.

Alerta

O superintendente Regional da Polícia Federal (PF) no Ceará, delegado Delano Cerqueira Bunn, indica que casos como este sirvam de mulheres que recebem promessas de vida melhor na Europa por meio da prostituição. Segundo ele, é necessário que as vítimas tenham coragem para denunciar possíveis criminosos.

Além disso, para evitar o aumento da exploração sexual, Delano Cerqueira afirma que a Polícia Federal está constantemente em campanha para que a rede hoteleira, donos de barraca, por exemplo, colaborem com atitudes suspeitas para que criminosos sejam identificados.

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