3 anos do Caso Jamile: 'nossas irmãs morreram, nossa mãe morreu e ninguém viu a Justiça ser feita'

Empresária morreu no dia 31 de agosto de 2019, em Fortaleza. O advogado acusado pelo crime segue em liberdade

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
jamile e aldemir
Legenda: Jamile e Aldemir tinham um relacionamento marcado por discussões.
Foto: Reprodução

Uma família marcada por uma série de tragédias e que se diz desacreditada na Justiça. Há três anos, parentes da empresária Jamile de Oliveira Correia esperam ver o advogado Aldemir Pessoa Júnior preso. Enquanto o processo pelo feminicídio tramita no Judiciário cearense, morreram mãe e duas irmãs da vítima assassinada a tiros, dentro do próprio closet.

Na última sexta-feira (26), foram ouvidas testemunhas de defesa, em mais uma audiência do caso. A ação penal segue em fase de instrução, segundo o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). A fase indica que até o momento não se sabe se o denunciado vai a júri popular e não existe previsão de data para julgamento. Hoje, Aldemir é mantido monitorado com uso de tornozeleira eletrônica, mas nunca chegou a ficar atrás das grades.

Aurimar Chaves de Oliveira, irmão da empresária, diz não entender como Aldemir permanece solto. Ele fala da série de perdas enfrentada pela família, desde a morte de Jamile e pede que o advogado acusado pela morte da irmã seja retirado do convívio da sociedade.

"Depois que a Jamile morreu, seis meses morreu uma irmã nossa, depois morreu nossa mãe. Agora, nesse Dia dos Pais, outra irmã nossa infartou e morreu. Nossa família está acabada. A gente tenta ficar bem na medida do possível, mas a família toda se foi e ninguém viu a Justiça ser feita"
Aurimar Oliveira
Irmão da Jamile

Jamile foi baleada nos primeiros minutos da madrugada de 30 de agosto de 2019. Chegou a ser socorrida ao Instituto Doutor José Frota (IJF), passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos. A mulher morreu no dia seguinte.

Legenda: A empresária Jamile Correia morreu por volta de 7h do dia 31 de agosto de 2019, no IJF
Foto: Foto: Reprodução

Naquele primeiro momento, o caso foi tratado como suicídio, mas não demorou até que investigadores da Polícia Civil do Ceará estranhassem os detalhes acerca do episódio. O relatório concluído no 2º Distrito Policial, Aldeota, apontou para um crime violento.

Veja também

O caso passou por reviravoltas até que chegasse a, de fato, ser tratado como um processo por feminicídio. Enquanto isso, Aldemir foi mais uma vez acusado de fazer uma nova mulher vítima de violência doméstica

Aldemir foi denunciado pelo Ministério Público por feminicídio, lesão corporal, fraude processual e porte ilegal de arma de fogo no caso Jamile. Na época do crime, o casal mantinha relacionamento conturbado.

"A GENTE SE SENTE COMO SE NÃO PUDESSE FAZER MAIS NADA"

A sensação de não poder interferir para celeridade da ação penal angustia os parentes e faz com que, muitas vezes, eles já nem acreditem mais ver o desfecho processual do caso: "a gente se sente como se não pudesse fazer mais nada. Um processo desse em segredo de Justiça e o cara aí livre, aprontando, andando em todo canto e se divertindo. Uma pessoa que já provou pôr em risco a sociedade e que já provou de novo ser alguém em quem não se pode confiar", conforme o irmão da vítima.

A defesa do Aldemir não comenta sobre o processo, alegando que tramita em segredo de Justiça

AGRESSÃO RECENTE

O novo caso ao qual Aurimar Oliveira se refere é uma recente agressão pela qual Aldemir Pessoa também passou a ser investigado. A atual ex-namorada, uma advogada, denunciou o advogado por agressão contra ela e ameaças contra ela e a mãe.

Aldemir teria filmado as próprias agressões protagonizadas por ele contra a ex-namorada e, em determinado momento, revelado a ela que teria sido responsável pela morte de Jamile. A reportagem do Sistema Verdes Mares teve acesso a um vídeo, no qual a mulher é ameaçada e agredida fisicamente.

VEJA IMAGENS E OUÇA OS ÁUDIOS

Foi a partir desta segunda acusação que a Justiça decidiu monitorar Aldemir por tornozeleira eletrônica. Agora. ele está proibido de se ausentar de Fortaleza e não deve manter contato com o advogado assistente da acusação, assim como com o adolescente filho da vítima.

O MPCE se pronunciou afirmando que o réu “revela nítido sentimento de desvalor e descaso em relação à Justiça Pública” – o que poderia ser deduzido do provável cometimento de novo crime depois do homicídio consumado".

A defesa do acusado nega que ele tenha agredido a ex-namorada advogada.

SUSPENSÃO NA OAB

No último mês de julho, após imagens e áudios de Aldemir e a ex-namorada repercutirem na imprensa, o Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Estado do Ceará (OAB-CE) suspendeu o acusado da condição de advogado.

O homem está com o Cadastro Nacional dos Advogados (CNA) suspenso, sem pode atuar na advocacia temporariamente. A decisão tem prazo pré-determinado, com tempo limite de 30 meses, conforme o código interno da Ordem.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados