Vaqueiros rezam e pedem regulamentação da profissão

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Foto: Antônio Vicelmo

Cerca de 500 vaqueiros do Ceará e Pernambuco participaram da 35ª Missa do Vaqueiro, realizada no último domingo, no Parque Estadual João Câncio, no Sítio das Lages, Município de Serrita, a 550 km do Recife. As festividades começaram na sexta-feira, 22, com uma programação que incluiu vaquejada e apresentações de forrozeiros como Flávio Leandro, Joquinha Gonzaga e Santana. Este ano, eles estão reivindicando a regulamentação da profissão.

Montados em seus cavalos e vestidos a caráter, com gibão, chapéu de couro, peitoral e perneiras, os vaqueiros se postam em frente ao altar, construído de alvenaria, onde seis padres participam da concelebração. A voz do forrozeiro Santana ecoa no coração do sertão pernambucano, do outro lado da Serra do Araripe, cantando a música “A Morte do Vaqueiro”, de Luiz Gonzaga. O gibão do padre João Câncio, que foi um dos idealizadores da missa, é colocado numa cruz de madeira. O vaqueiro João Agripino dos Santos, que veio do Sítio Mameluco para participar da cerimônia, não resiste à emoção. Enxuga as lágrimas com a luva de couro.

O padre anuncia que a missa está sendo celebrada em sufrágio das almas de Raimundo Jacó, Luiz Gonzaga e Padre João Câncio. Em cima do palco, o poeta Pedro Bandeira, que participou do trio de fundadores da missa, afina a viola e saúda os vaqueiros com repentes. É a presença forte do Cariri no evento. O celebrante faz o seu primeiro comentário dizendo: “Caríssimos irmãos vaqueiros, homens sertanejos fortes e destemidos. Estamos aqui na fé e na esperança para celebrarmos o amor que Cristo tem por cada um de nós. O reino de Deus é um tesouro a ser procurado a todo custo. Rogai pelo vaqueiro, Senhor, viajante e mensageiro de um mundo tostado e cedente, figura profundamente humana”.

A voz de Santana, acompanhado por dois sanfoneiros e pelo Coral de Aboiadores de Serrita, enternece o público, cantando a música “Jesus Sertanejo”. Na hora do ofertório, um grupo de vaqueiros, montados em seus cavalos, sobe a rampa do altar e entrega aos celebrantes peças do seu vestiário: chapéu, guarda-peito, gibão, perneira, luvas, sapato, sela, alforje, chicote, cabeçada, chocalho e búzio. Na homilia, o sacerdote faz uma analogia do vaqueiro com a mensagem evangélica. “Os vaqueiros são pérolas preciosas, lembrando que o reino dos céus, é como um tesouro escondido no campo”.

No momento da comunhão, a hóstia é substituída por queijo, rapadura e farinha de mandioca, alimentos do cotidiano sertanejo. Terminada a missa, o vaqueiro volta para casa para tanger o gado e a vida. No próximo ano, eles estarão de volta para realimentar, com orações, os mesmos sonhos, os mesmos desafios.

A estudante suíça, Muriel Kaiser, diz que nunca viu nada parecido. “É emocionante”, sintetiza.

Antônio Vicelmo
enviado a Serrita/PE