Técnicos apontam "buraco" de quase 12 metros de altura na Duna da Lagoinha, em Paraipaba
A equipe do Programa Cientista-Chefe visitou, na última sexta-feira (11), o local e entregarão um relatório com propostas a serem para mitigar os impactos ambientais na região
Uma equipe do Programa Cientista-Chefe visitou, na última semana, a Duna da Lagoinha, importante cartão-postal do município de Paraipaba. Os técnicos detectaram a presença de voçorocas, fenômeno geológico de formação de grandes buracos de erosão causados pela água da chuva, o que leva ao risco de desabamento de residências próximas. Nos últimos anos, a Duna está desaparecendo por conta do barramento eólico que impede que ela seja alimentada.
A equipe está elaborando um relatório técnico com propostas de intervenções na área. O documento deve ser entregue ao Município nas próximas duas semanas.
“Encontramos um buraco (voçoroca) de quase 12 metros de altura. Corre risco não só de destruição da Duna, mas de desabamento de algumas casas no entorno, na próxima quadra chuvosa”, explica Marcelo Soares, coordenador do Cientista Chefe e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Tem ocupações no entorno que estão impedindo a vinda de areias de outras dunas”, destaca o professor, explicando como acontece o processo natural.
“O vento vai transportando areia, normalmente para o sentido Oeste, e essa duna era alimentada por outras dunas de Leste. Tem loteamentos no entorno que estão impedindo o processo natural que era alimentada”.
Monumento natural
Localizada no Litoral Oeste do Estado, a duna é considerada um Monumento Natural, Unidade de Conservação (UC) municipal estabelecida a partir de Lei de 2009. A visita técnica foi uma solicitação do Município e da Assembleia Legislativa do Ceará dirigida à Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Nas próximas duas semanas, a equipe entregará um relatório técnico com a análise da situação e sugestões de ações mitigatórias para o problema.
Segundo ele, o processo ocorrido no espaço é semelhante ao que acontece com a Duna do Pôr do Sol, em Jijoca de Jericoacoara, outro importante atrativo turístico no Estado. Na década de 1980, a Duna tinha cerca de 60 metros, mas, atualmente, essa altura foi reduzida à metade. Sem medidas de preservação, a Duna do Pôr do Sol pode se extinguir nesta década. No caso da Lagoinha, é preciso ser feito “um processo de gestão e revegetação”, defende Marcelo Soares.
“Já detectamos o problema, que é grave, que é o fim deste cartão-postal em poucos anos e o risco de desabamento de casas”.
Algumas medidas que serão propostas são:
- Controle de acesso de pessoas para não subir no local
- Plantio de espécies de plantas para poder controlar a erosão
- Obras para a drenagem de água das chuvas
- Sugestões para desobstrução do fluxo de areia permitindo a alimentação e recuperação natural da duna.
Incremento
A gestora da Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoinha, Ana Michelle, que não contempla a UC municipal, ressalta que essas visitas são fundamentais e que a demanda partiu da própria comunidade. “Houve uma reunião onde alguns moradores buscaram atenção à essa área em questão. O cuidado que a comunidade e o próprio município estão tendo é um fator que contribui para que se tenha uma melhora, que se busque uma alternativa para àquela região”.
Segundo ela, mesmo estando fora da poligonal da APA da Lagoinha, que é uma UC estadual, o secretário do Meio Ambiente, Artur Bruno, pediu atenção para que o Monumento Ambiental (UC municipal) passe a integrar o Cadastro Estadual de Unidades de Conservação, que é mantido pela Sema com parcerias públicas e privadas e consiste em um banco de dados oficiais. “É um cadastro de grande importância em níveis federal, estadual e municipal”.
O processo para o ingresso aconteceu em 2 de setembro. Quando finalizado, a UC municipal também integrará o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, recebendo um “olhar diferenciado” do poder público, ressalta Michelle.
Cientista-Chefe
O programa Cientista-Chefe foi lançado no início de setembro e irá atuar em quatro projetos específicos: Planejamento Marinho e Costeiro; Covid-19 e Saneamento Urbano no Ceará; Sistema de Informações Geográficas Ambientais, com o objetivo de construir uma base de dados para orientar políticas públicas; Lista Vermelha da Fauna e Flora Ameaçada. O objetivo do programa é unir o meio acadêmico e a gestão pública no Estado.
Também participaram da visita técnica à Duna da Lagoinha os pesquisadores Dr. Eduardo Lacerda e Dr. Renan Guerra, a Gestora da APA Ana Michelle, da SEMA, e o técnico da Secretaria de Turismo, Cultura e Meio Ambiente de Paraipaba, Claudemir Silva.