Saiba quais cidades e regiões cearenses receberam os maiores e menores volumes de chuvas em 2021

Posição geográfica e influência de fenômenos ajudam a determinar quais localidades são mais beneficiadas com os eventos pluviométricos

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: Em Fortaleza, a Funceme registrou o acumulado de 1.281,7 milímetros em 2021
Foto: Camila Lima

Cidades com mais de 1.500 milímetros de chuva acumulado ao longo de 2021, e outras cujo volume observado não chegou a 300 milímetros no ano. O Ceará não possui uma homogeneidade quando se refere a pluviometria. São regiões com chuvas dentro da média, outras com precipitações abaixo e, em algumas localidades, pluviometria com volumes consideráveis.

Mas, o que explica essa ausência de padrão nas chuvas no Ceará? Qual foi a cidade com maior média de volume de chuva observado ao longo dos 365 dias de 2021? E qual o município que menos choveu? Das oito macrroregiões em que a Funceme divide o Estado, qual recebeu o maior volume acumulado?

O Diário do Nordeste entrevistou um grupo de meteorologistas que explica os motivos de uma determinada região ser mais propícia a receber chuvas em detrimento de outras, e realizou um levamento exclusivo sobre os volumes pluviométricos de cada uma das 184 cidades.

Apenas Cariri acima da média

Das oito macrorregiões do Estado, apenas o Cariri terminou o ano com chuvas acima da média histórica anual. Na região, a normal climatológica é de 904 milímetros e, em 2021, a Funceme registrou 939,6 mm, um desvio positivo de 3,5%. 

Essa positividade nos índices decorre, conforme explica o grupo de especialistas que compõem o Setor de Meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), da influência de áreas de instabilidades que o Cariri sofre proveniente do interior do Nordeste do Brasil, na pré-estação chuvosa do Ceará (dezembro e janeiro).

"Os sistemas neste período que auxiliam para formação dessas instabilidades são as frentes frias, os Vórtices Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) e a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)", explica o grupo. Esses fatores favorecem as chuvas na região.   
  

O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, acrescenta que o Cariri é a região em que as chuvas começam a cair mais cedo, já no fim de novembro - antes mesmo do início da pré-estação chuvosa, que se inicia em dezembro e termina em janeiro - e segue até o fim da quadra chuvosa, em maio.

Essa janela estendida de precipitações geralmente favorece com que a macrorregião feche o ano com chuvas dentro ou acima da média histórica. Contudo, não é uma regra.

Em 2019, por exemplo, Cariri encerrou aquele ano com precipitações 13% abaixo da média. Já no ano passado, a macrorregião fechou com 25% acima da média (1.134 mm), com índices ainda superiores aos de 2021.

No lado oposto, está a macrorregião do Sertão Central e Inhamnus, com o menor volume observado (555,9 mm) dentre as oito. Já o maior desvio negativo, isto é, a maior diferença entre a chuva registrada neste ano em comparação à média histórica, o Litoral do Pecém lidera. Naquela macrorregião, a Funceme anotou o acumulado de 619,1 mm, ficando 28,4% abaixo da média histórica.

Atrás do Cariri, completam a lista das quatro macrorregiões com maiores volume de chuva acumulados no ano o Maciço de Baturité (917 mm), Litoral de Fortaleza (909 mm) e Litoral Norte (816 mm). 

O setor de meteorologia da Funceme explica que o fato de as macrorregiões localizadas na faixa litorânea apresentarem maiores acumulados "está relacionada à proximidade do oceano Atlântico, devido a circulação dos ventos transportarem umidade do oceano para o continente. Este mecanismo é primordial para formação de precipitações". 

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Já para as macrorregiões do Maciço de Baturité, da Ibiapaba e do Cariri, "a influência da topografia elevada é o que favorece a formação de nuvens convectivas, as quais muitas vezes, podem ser responsáveis pelos maiores acumulados", acrescenta a Funceme. 

Cidades em destaque

A cidade de Moraújo, no Litoral Norte, foi a que obteve o maior volume acumulado do ano dentre todos os 184 municípios do Estado. Em 2021, foram registrados 1.770 milímetros. O volume é 56% superior a média histórica anual da cidade (1.130,8 mm). Segundo a Funceme, uma das explicações para este volume considerável de chuva é "a localização geográfica".

Em seguida, aparece a cidade de Palmácia, no Maciço de Baturité, com 1.625,2 mm registrado, isto é, 30% acima da média histórica, que é de 1.242,2 milímetros. Mas, qual a explicação para tão volumosas chuvas nessas duas cidades?

O setor de Meteorologia da Funceme detalha que, no período chuvoso (fevereiro a maio), "as regiões do Litoral, Maciço de Baturité e da Ibiapaba, sofrem influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal sistema meteorológico indutor de chuvas no Ceará e na região norte do nordeste brasileiro".

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Essa influência é preponderante para incidência de boas chuvas ao longo do primeiro semestre do ano. Das dez cidades com maiores índices acumulados em 2021, seis estão em uma dessas três regiões citadas acima: Moraújo (Litoral), Palmácia (Maciço), Ubajara (Ibiapaba), Pacoti (Maciço), Fortaleza (Litoral), Barroquinha (Litoral).

Longe de serem beneficiados por este fenômeno, estão cidades do Sertão Central e Inhamuns. Das 5 com menores volumes acumulados, quatro são desta macrorregiões: Parambu, Madalena, Independência e Itatira. 

"Em termos de volume acumulado anual, o Sertão Central e Inhamuns foi a macrorregião que apresentou os menores volumes de chuva até o momento. Historicamente esta região apresenta os menores acumulados anuais, em torno de 700 mm", detalhou o Setor de meteorologia da Funceme. 

Pré-estação chuvosa

Iniciada neste mês de dezembro, a pré-estação se estende até 31 de janeiro do próximo ano. Ela antecede o período chuvoso no Ceará, conhecido como estação chuvosa (fevereiro a maio). Em dezembro, os dados parciais da Funceme mostram que os volumes pluviométricos estão 26,3% acima da média histórica.

Para o último mês do ano, o órgão aponta a normal climatológica em 31,6 milímetros. Até o momento, o acumulado observado está em 39,9 mm. Em janeiro, mês que fecha a pré-estação, a média histórica é de 98,7 milímetros. 

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