Recipientes e embalagens de plástico estão proibidos na Vila de Jeri

Decreto veta entrada, comercialização e uso de qualquer item descartável de plástico no local. O objetivo é fomentar o turismo sustentável e proteger o meio ambiente. Especialistas aprovam a medida, mas pedem mais ações

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Jeri
Foto: Edson Silva

A Vila de Jericoacoara se consolidou, nos últimos anos, como um dos principais destinos turísticos do Nordeste. No entanto, o grande quantitativo de pessoas atraídas pelas belezas naturais do local tem cobrado um alto preço ao ecossistema, cada vez mais ameaçado.

Para frear esse processo de degradação, especialistas sugerem ações restritivas, seja de consumo, comportamento ou até mesmo de acesso à Vila. Alinhado a essa diretriz, foi assinado na terça (26), decreto que proíbe a entrada, comercialização e uso de garrafas, copos, pratos, sacolas e talheres plásticos na Vila de Jeri.

A proibição se estende também para itens descartáveis de isopor. Canudos de plástico já eram proibidos. A medida se aplica a todos os estabelecimentos e atividades comerciais da Vila, "como restaurantes, bares, quiosques, lanchonetes, ambulantes, hotéis, pousadas, dentre outros". Moradores e visitantes também deverão se adequar à nova determinação em um prazo de até 120 dias. Após este período, não será mais permitida a circulação das embalagens e recipientes.

Para o gestor municipal, Lindbergh Martins (PSD), o decreto visa estimular o turismo sustentável e ambiental. "A Vila de Jericoacoara não aguenta mais o turismo sem o mínimo de consciência sustentável. O meio ambiente na região pede socorro, e a proibição do plástico será o pontapé inicial para que a nossa natureza não desapareça do mapa".

Beatriz Fernandes, oceanógrafa e assessora do Instituto Terramar, concorda que a ação trará benefícios, mas aponta que é preciso ir muito além.

"Toda medida que diminua a utilização de plásticos, ainda mais os descartáveis, são urgentes e necessárias. Mas outras medidas de sensibilização aos turistas, não só sobre os resíduos, são importantes. É preciso expor a insustentabilidade do turismo convencional e de massa, pois o equilíbrio e a dinâmica natural pré-existentes são diretamente impactadas pelo alto fluxo de visitantes".

Fluxo

A preocupação da oceanógrafa com o fluxo de turistas pode ser justificada em números. Em 2017, a Vila recebeu 693 mil visitantes. Dois anos depois saltou para mais de 880 mil, conforme dados da Secretaria de Turismo do Ceará.

Os números de 2020 ainda não foram consolidados. Beatriz analisa que este cenário deve-se "a promoção do turismo local que é feita sem estudos que definam a capacidade de suporte, no sentido de regulamentar o número máximo de visitantes diários, como acontece no Parque Nacional de Fernando de Noronha".

Para a integrante do Terramar, o processo de erosão acelerado da Duna Pôr-do-Sol é um exemplo do impacto causado pelo alto fluxo de visitantes. "O estudo sobre a capacidade de suporte contribuiria para partilhar orientações aos visitantes".

O procurador do Município, Ary Leite, reconhece essa problemática, mas ressalta que "diversas ações" já estão sendo tratadas para reverter esse cenário. Ele destaca a criação de um setor técnico que vai ficar responsável por elaborar estudo de capacidade da Vila e enumera medidas que visam "aumentar a capacidade de proteção do meio ambiente e tornar o turismo mais consciente".

"Recentemente aumentamos a taxa de entrada da Vila e instituimos novas diretrizes. Agora sabemos quem é o turista, onde vai ficar e quantos dias permanecerá. Implantamos a coleta seletiva com responsabilização aos grandes geradores e estamos em constante diálogo com a Setur para estudar medidas que protejam o meio ambiente, como é o caso da Duna. Não queremos ser o destino mais procurado, mas queremos ter os melhores turistas, os mais conscientes e isso trará ganho ao ecossistema", detalhou.