Projeto indígena recebe R$ 25 mil para ações voltadas à segurança alimentar durante a pandemia

O projeto Cultura de Alimentar a Aldeia teve início e junho deste ano e tem duração de cinco meses

Escrito por Rodrigo Rodrigues , rodrigo.rodrigues@svm.com.br
Legenda: As ações devem atender cerca de 450 indígenas com projetos produtivos, ferramentas, cestas básicas e kits de higiene pessoal.
Foto: Luan de Castro Tremembé

O povo Tremembé da Barra do Mundaú, no Litoral Oeste do Estado, recebeu um incremento de R$ 25 mil para efetivar ações voltadas a cerca de 450 indígenas impactados durante a pandemia da Covid-19. O projeto Cultura de Alimentar a Aldeia, com ações previstas até o fim do ano, busca garantir a segurança alimentar e incentivo à agricultura familiar na região.

Em julho deste ano, as populações tradicionais presentes no território brasileiro foram reconhecidas como "grupos em situação de extrema vulnerabilidade" durante a pandemiaO objetivo é garantir a existências destas populações. Desde o início da pandemia, lideranças e entidades ligadas aos povos indígenas do Ceará relatam problemas estruturais.

Boletim atualizado:

O projeto Cultura de Alimentar a Aldeia é executado pelo Conselho Indígena Tremembé de Itapipoca, em parceria com o Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador (Cetra) do Ceará. O valor do repasse é fruto de um edital do Fundo Socioambiental Casa, que apoia iniciativas de todo o Brasil na garantia do desenvolvimento sustentável.

Iniciado em julho deste ano, o projeto tem duração de cinco meses.

Segundo Mateus Tremembé, liderança jovem e coordenador técnico da iniciativa, também foi criada uma campanha de comunicação, onde quatro jovens indígenas “receberam internet móvel para fortalecer os diálogos entre as aldeias de forma virtual, nesse momento de pandemia”. Mateus foi o responsável pela elaboração do projeto e afirma que este vem recebendo uma boa aceitação.

“Sabemos que estamos em uma pandemia, com a necessidade do isolamento social, mas a gente entende que é essencial se produzir o alimento, o conhecimento, se produzir vida”. 

Também foram criados dois roçados coletivos na Terra Indígena, além do fortalecimento de “15 quintais produtivos com a entrega de ferramentas agrícolas, sementes crioulas e mudas de frutíferas, hortaliças e medicinais”, destaca o tremembé.

Legenda: Foram fortalecidos 15 quintais produtivos com a entrega de ferramentas agrícolas, sementes crioulas e mudas de frutíferas, hortaliças e medicinais.
Foto: Luan de Castro Tremembé

Veja algumas ações desenvolvidas:

  • Distribuição de kits de higiene e equipamentos de proteção individual para 150 famílias, somando 450 pessoas atendidas.
  • Distribuição de 150 cestas básicas;
  • 15 famílias de agricultores familiares atendidos com quintais produtivos e incremento de equipamentos;
  • 15 famílias de pescadores artesanais fortalecidos com a compra de duas embarcações e ferramentas de pesca.

Fundo Casa

O Fundo Casa Socioambiental é uma Organização Não Governamental que promove ações de conservação e sustentabilidade ambiental no País. A entidade conta com apoio financeiro de iniciativas da sociedade civil na América do Sul. Durante a pandemia, o Fundo está fortalecendo projetos produtivos de alimentação familiar para antes e depois do isolamentoa.

“O projeto busca, sobretudo, fortalecer a cultura alimentar Tremembé. A importância de produzir alimentos antes, durante e depois da pandemia. Para isso, reativando os viveiros de mudas, fornecendo estercos para que as famílias possam produzir seus alimentos.  Estamos criando duas áreas de cultivo coletivo para que possam ser usadas para as famílias”, disse Mateus. 

Segundo ele, a dificuldade maior é realizar as compras do material a ser distribuído às famílias. “Ainda muito receosos. O uso das tecnologias tem sido muito importante nesse sentido”, ressalta.

Pandemia e povos indígenas

Segundo o último boletim da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince), divulgado na última semana, 574 indígenas já foram infectados pelo novo coronavírus no Ceará. Os dados levam em consideração indicadores da Secretaria da Saúde do Ceará e secretarias municipais, além de pesquisas com lideranças locais nos territórios

Segundo o balanço, pelo menos seis óbitos já foram confirmados e 17 dos 19 municípios com Território Indígenas já somam casos confirmados da doença na população originária.

Já segundo a Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, o Ceará soma 536 casos confirmados da doença e cinco óbitos. A diferença em relação aos dados da Fepoince se dá pelas metodologias adotadas - a Sesai só considera os casos em indígenas aldeados. Conforme boletim da Pasta, de ontem (24), 428 indígenas já se recuperaram da doença e 50 casos estão em investigação. 

A taxa de transmissão da doença no Estado é de 1.19 (para as populações indígenas), o que indica que o vírus continua circulando e que mais casos seguem sendo gerados no Estado. O maior índice do País é registrado na Terra Indígena do Vale do Javari, no estado do Amazonas, com um valor de 2.40. A média geral do País figura em 1.32, segundo Informe Epidemiológico da Sesai. 

O número de reprodução indica o número de casos secundários gerados a partir de um caso primário. 

  • Valores maiores que 1: há transmissão ativa e mais casos estão sendo gerados;
  • Valores menores que 1: há redução da incidência da doença;

Legenda: O projeto recebeu um incremento de R$ 25 mil e conta com a colaboração dos moradores da região.
Foto: Luan de Castro Tremembé

 

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