Projeto de Cajucultura é aposta de pequenos produtores de Marco
Em dois anos de projeto, os resultados são animadores. Já são 48 famílias atendidas em seis comunidades rurais. Desde a implantação do projeto, duas marcas de cajuína foram lançadas. Para 2019, mais duas serão criadas
Focar no melhoramento genético, no manejo e transferir tecnologia para agregar valor ao caju, por meio dos melhores processos possíveis, é o que pretende o projeto de Cajucultura que atende a 48 famílias, distribuídas em seis comunidades da zona rural de Marco, na região Norte do Estado. Em seu segundo ano de instalação, entre outros resultados positivos, o projeto lançou no mercado cearense duas marcas de cajuína e pretende repetir o feito com outra nova marca de bebida de caju, a ser comercializada neste ano, dentro de uma atividade que tem crescido social e economicamente no Município.
Por meio das parcerias consolidadas nos últimos dois anos, a região tem redefinido ações que visam ao desenvolvimento socioeconômico com o aproveitamento do potencial do caju. O foco da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Marco é o pequeno produtor, peça importante nas atividades realizadas pelo Programa de Desenvolvimento da Cajucultura.
Desenvolvimento
Criado para corrigir, entre diversas outras deficiências encontradas por meio de estudos, o tipo de manejo utilizado, até então, no cultivo da fruta, o programa detectou entraves ao desenvolvimento, como a idade avançada das plantas, em sua maioria gigantes, e sua pouca produtividade, além da forte presença de intermediários (atravessadores), que terminavam por regular o mercado, retendo a maior fatia do lucro.
A mudança veio com as primeiras consultorias por parte do Sebrae. Os produtores familiares receberam orientação tecnológica por meio do programa Sebraetec.
O trabalho tem garantido o melhoramento genético do cajueiro com a substituição de copas pelo método da enxertia por borbulhas vegetativas, considerado de alto padrão produtivo.
Melhoramento
O agricultor Antônio Cordeiro de Sousa, 55, morador do assentamento Diamante, localizado a cerca de 18 quilômetros de Marco, além de plantar milho, feijão e mandioca, viu no cultivo de caju uma fonte de renda que enriquece a agricultura familiar. A comunidade com 48 famílias reservou uma área, com pouco mais de 200 hectares, para o cultivo da fruta; nesse caso, o cajueiro gigante, característico do Nordeste do País.
Por meio de cursos, os agricultores aprenderam a técnica da enxertia, que promove o melhoramento da genética vegetal, com a substituição da copa da antiga árvore, pela espécie Anão Precoce, o que muda completamente a forma de cultivo do caju na região. O agricultor passa a ter o clone de uma linhagem considerada melhor, em termos produtivos, aproveitando o sistema de raízes de uma planta de idade avançada, de difícil acesso aos frutos e pouco produtiva.
Técnica
O curso foi ministrado pelo também agricultor Antônio Mendes Sousa, da localidade de Aroeiras, no Município de Cruz. Com a ajuda de uma faca, parte do tronco escolhido recebe galhos jovens da planta a ser enxertada, aproveitando, assim, todo o sistema de raízes que vai ajudar no desenvolvimento da nova copa.
De acordo com Antônio Mendes, "o objetivo é repassar essa técnica para que a mudança alcance a todos os produtores familiares de Marco. A enxertia realizada entre o fim do mês de setembro e início de outubro já dará resultados a partir dos meses de junho e julho, com a floração da nova espécie", explica.
Para Antônio Cordeiro, que participa atentamente, o curso de enxertia tem ajudado a renovar a forma de cultivo do caju. "O cajueiro Anão Precoce é bem mais prático de manejo e aproveitamento dos frutos. Como todos daqui, eu lido com o cultivo de caju desde muito jovem, mas ainda não conhecia essa técnica", revela o agricultor, que aprendeu a fazer seu primeiro enxerto.
Projeto
Para Maurício Sousa, consultor do Projeto Intercaju, da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), uma das instituições parceiras, "tem sido possível incorporar na região a cultura de recuperação de pomares improdutivos, além de disseminar o conhecimento a respeito da identificação e controle de pragas e doenças, focando em metodologias naturais, utilizando a agroecologia como uma premissa".
Ainda conforme ele, ao estimular a gestão da produção e da propriedade rural, tendo o caju como principal fonte, o Município de Marco, conhecido pela produção de móveis e comercialização de castanha de caju "in natura" passa a agregar novos valores a sua economia.
Na mesma região de Marco, três comunidades também foram contempladas com ações do projeto Intercaju, que leva pesquisa e desenvolvimento para associações de produtores rurais, por meio de cursos, capacitação e oficinas de trabalho, onde o foco é o processamento da castanha de caju para extração da amêndoa.
Expectativa
O trabalho de campo em Marco tem acompanhamento de uma equipe do Escritório Regional Norte do Sebrae, que articula a implementação de novas tecnologias para o aumento da produtividade na Cajucultura. A parceria tem trazido bons resultados, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Marco, Júnior Osterno.
"Esses dois primeiros anos de inclusão de novas tecnologias ajudaram bastante os agricultores locais a obter novas possibilidades de emprego e renda. Trabalhamos muito com a castanha e a produção de cajuína, como dois produtos finais que ajudaram na comercialização de toda a safra do ano passado", observa o secretário. "É certo que foi uma pequena produção inicial, mas que já norteia os próximos investimentos em tecnologias no campo", conclui.