Pássaros raros são alvos de caçadores e podem desaparecer
Única ave endêmica do Estado, ou seja, 100% cearense, o Soldadinho-do-Araripe - Antilophia bokermanni - está na Lista Nacional de Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção, do Ibama, classificada como Criticamente Ameaçada. No mesmo caminho da extinção estão pássaros como a Asa Branca, Zabelê, Ferreiro, Acauã, o Sabiá, entre outros, que inspiraram poetas e músicos como Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e encantam por sua beleza e delicadeza. O Carcará, apesar de muito perseguido, ainda está a salvo da lista negra. Segundo o Ibama, o Brasil lidera o ranking com 114 espécies de aves ameaçadas de extinção, sendo que 23 estão em estado crítico.
Antônio Vicelmo
sucursal Crato
A Asa Branca, ave que serviu de fonte de inspiração para Luiz Gonzaga interpretar uma das mais belas toadas do cancioneiro popular, está cada vez mais rara, embrenhada na Caatinga, empurrada pela ação predadora do homem. Ela não volta mais no ronco do primeiro trovão, ou no faro do cheiro da chuva dos pés de serra do Cariri, hoje invadidos por clubes sociais e a especulação imobiliária.
No mesmo caminho estão outras aves, como o Sabiá que fazia parte do cotidiano do sertanejo que, na volta para casa, com uma enxada nos ombros, entoava a música de Jair Rodrigues: Tô indo agora pra um lugar todinho meu, Quero uma rede preguiçosa pra deitar Em minha volta sinfonia de pardais, cantando para a Majestade, o Sabiá.
Já não há clima para a “Canção do Exílio” , de Gonçalves Dias que , morrendo saudade do seu Maranhão, declamou: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”. Num instinto de sobrevivência, as aves estão abandonando do convívio humano, desertando para outras terras, onde não seja preciso furar os olhos do “assum preto” para cantar melhor.
A exemplo da sociedade humana, a selva tem também as suas leis suas desigualdades, privilégios, oprimidos e opressores. Um dos símbolos dessa supremacia dos fortes contra os fracos é o carcará ou Polyborus plancus, seu nome científico, é uma ave de rapina, muito elegante. Ela pode facilmente ser reconhecida pelo penacho de penas negras que possui na cabeça. Esta ave é bastante semelhante e um falcão, porém tem suas pernas e pescoço mais compridos. Sua cor é parda sendo em algumas partes de coloração mais clara.
Diferente do adulto, o carcará jovem tem sua cor um pouco mais clara, e a pele da face arroxeada, a do adulto é vermelha ficando amarela quando está excitado. Seu bico é em forma de gancho e passa a maior parte do tempo no chão, onde consegue seus alimentos. Esta ave se alimenta de restos de lixos, animais mortos ou mesmo carcaças de cadáveres deixadas pelos corvos e ainda lesmas e insetos.
Devora tudo o que encontra, sendo um problema para moradores de algumas localidades rurais. Aves domésticas, pássaros, filhotes de ovelha, de cordeiros, roedores, cobras, lagartos, insetos, aranhas, minhocas, lesmas. Nada lhe escapa. Quando caça, o Carcará mata sua presa com diversas bicadas na nuca. Seu sistema digestivo é muito bom, tudo aquilo que a ave não é capaz de digerir, é regurgitado pelo seu organismo.
O carcará vive em casais que depois de formados andam sempre juntos. O casal, em sua época de reprodução, põe em média dois ou três ovos, de coloração branca, avermelhada, em um ninho feito de galhos em meio a árvores altas. O carcará precisa cuidar dos ovos por cerca de 30 dias, quando finalmente os filhotes eclodem. Mesmo pondo mais ovos, geralmente os pais escolhem apenas um filhote por ninhada para ser criado. É um severo controle da natalidade. Mesmo assim, o carcará não está em extinção. Não faz parte da mira dos caçadores de pássaros.