Pandemia gera incerteza quanto à volta da pesca da lagosta no Ceará
Com o fim do período de defeso, os cerca de seis mil pescadores artesanais do Estado estão liberados, a partir de hoje, para retornarem ao mar. Porém, muitos receiam não ter mercado para escoar o pescado e temem se contaminar no mar
Termina neste domingo (31) o período de defeso da pesca da lagosta, um dos crustáceos mais caros e apreciados na gastronomia marítima. Embora os pescadores tenham, a partir de agora, permissão para a pesca, muitos não sabem se irão ao mar. As incertezas advêm da pandemia, cujo efeito é sentido no mercado interno e externo.
O impacto financeiro, segundo associações, é incalculável. O Ceará é um dos expoentes da exportação do crustáceo. Mas, neste ano, a projeção com as vendas não deve atingir o patamar de 2019, quando no primeiro semestre o Estado exportou mais de 6 mil toneladas, com faturamento de mais de US$ 47,1 milhões.
O novo coronavírus trouxe crise sanitária e econômica e, atualmente, não há, sequer, definição de preço no quilo a ser exportado. Além disso, os pescadores relatam ter medo de se lançar ao mar em embarcações pequenas e com muitas pessoas e acabarem se infectando com a Covid-19.
O assessor técnico do Sindicato das Indústrias de Frios e Pescado do Ceará, Carlos Eduardo Vilaça (Cadu), avalia que o cenário atual é desfavorável. "O mercado interno não existe com restaurantes, hotéis e barracas fechados. Realmente está tudo muito ruim", expôs.
Embora a valorização do dólar frente ao real possa ser um fator favorável à exportação da lagosta, o presidente da Federação dos Pescadores Artesanais do Ceará, Raimundo Félix, avalia que a "[retomada] não deveria começar agora". "O pescador não tem a quem vender e não se sabe o preço que vão pagar. Além disso, há o risco para os pescadores, caso fiquem doentes no mar".
Sílvio Carlos, secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (Sedet), também mostrou preocupação com as questões sanitárias. "As embarcações são pequenas, aglomeram cinco, seis pescadores e isso traz risco. Estamos preocupados com a situação neste ano".
O presidente da Colônia de Pescadores de Icapuí, Adailton José de Lima avalia que "deveria haver uma união e ninguém ir para o mar, pelo menos por mais um mês".
Cadu lamenta o cenário e projeta que este ano "tinha tudo para ser um dos melhores". Diante da análise de que os pescadores artesanais não deveriam se lançar ao mar, ele e Félix apontam uma alternativa que garantiria amparo financeiro aos pescadores. "O correto seria ocorrer a prorrogação do fim do defeso", pontua Cadu. Neste período de impedimento da pesca (1º de dezembro a 30 de maio), o Governo Federal paga auxílio no valor de um salário mínimo.
Representantes dos setores empresarial e dos pescadores pediram à Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a prorrogação para até o fim de junho. A solicitação, entretanto, foi negada. O Sistema Verdes Mares solicitou esclarecimentos ao Mapa, mas até o fechamento não houve retorno.
O assessor técnico da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Antônio Ney, lamentou a negativa e disse ser "um pleito geral diante de tantas incertezas". Segundo ele, a classe irá pedir novamente o adiamento do auxílio.