Operação Carro-Pipa está paralisada no Ceará, afirma Sindicato dos Pipeiros

Suspensão das atividades atinge 350 pipeiros e 250 mil famílias em áreas rurais. Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) ainda não se manifestou sobre a situação

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
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Legenda: A paralisação do programa de distribuição de água afeta 350 pipeiros
Foto: Honório Barbosa

Responsável pela assistência a 250 mil famílias rurais, a Operação Carro-Pipa está paralisada no Ceará. A informação foi confirmada pelo Sindicato dos Pipeiros do Ceará (Sinpece), que alerta para o impacto no interior do Estado. A Associação dos Municípios do Ceará (Aprece) manifestou preocupação com a decisão, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) não enviou esclarecimentos sobre a paralisação do programa.

Apesar das últimas chuvas ocorridas neste mês, há milhares de moradores em áreas isoladas da zona rural que dependem do abastecimento. A suspensão do serviço, por tempo indeterminado, segundo o Sinpece, decorre da falta de transferência de recursos do Governo Federal para os quartéis que gerenciam o programa no Estado. A entidade afirma que a paralisação começou no último dia 16 e hoje atingiu todo o Estado.

“A situação é crítica porque as chuvas foram isoladas e não beneficiaram todas as regiões”, disse o diretor da entidade, Eduardo Aragão. “O pior é que os pipeiros não receberam o pagamento referente aos meses de dezembro de 2020 e de janeiro deste ano e há uma parte que não recebeu o mês de novembro passado”.

Além das 250 mil famílias atingidas, a paralisação total do programa de distribuição de água afeta também 350 pipeiros. O Sincepe informou que as regiões do Sertão Central e dos Sertões de Canindé são as áreas mais críticas e que ainda necessitam de distribuição de água por meio dos caminhões-pipa.

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Legenda: Segundo sindicato da categoria, os pipeiros estão desmotivados
Foto: Thiago Gadelha

Eduardo Aragão observou também que “os pipeiros estão desmotivados, não estão atendendo às chamadas públicas feitas pelo Exército em razão do atraso, da insegurança no programa e da alta do diesel”.

Preocupação

A suspensão do programa e a previsão recente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), de que há 50% de probabilidade para a ocorrência de chuvas abaixo da média até o mês de maio, amplia o temor entre os secretários de Agricultura e coordenadores de Defesa Civil no interior cearense.

O vice-presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), José Hélder Máximo, pontuou que “a paralisação do programa traz preocupação. O inverno mal começou e as cisternas e açudes estão secos em muitas áreas rurais do Estado”. O gestor disse ainda “esperar a sensibilização do Governo Federal para a retomada dos serviços”.

Uma das áreas críticas é o Sertão Central. O presidente do Sindicato Rural de Quixadá, Cirilo Vidal, considerou a situação atual “muito preocupante, sem água nas cisternas para os moradores e até para 'dar de beber' ao gado porque as chuvas estão fracas e são localizadas”.

Demanda

O secretário de Agricultura de Quixeramobim, Célio Oliveira, também esclareceu que “as chuvas foram muito pouca, não foram suficientes para lavar as telhas e as cisternas estão secas”. Ele reafirmou que “as famílias precisam dos caminhões e o município sozinho não tem como atender a demanda atual”.

Para o coordenador municipal da Defesa Civil de Quixeramobim, Roberto de Almeida, o município está atendendo algumas famílias com um caminhão-pipa próprio e mais três de forma provisória e em parceria com os proprietários, mas que é insuficiente. “Estou em tempo de ficar louco e já solicitamos o apoio do governo do Estado, que alegou só poder atender o abastecimento das áreas urbanas”.

O coordenador da Comissão Municipal de Defesa Civil de Canindé, Francisco Júnior Mourão, disse que a suspensão atinge cerca de 13 mil pessoas e 226 pontos de abastecimento de água que vivem um colapso de água.

“A verdade é que os recursos foram contingenciados”, frisou. “Houve chamada pública para recomeçar em março próximo e os pipeiros não compareceram porque não compensa na situação atual em que há atrasos e incertezas”, afirmou Mourão.

Gabriel Silva, secretário adjunto de Agricultura e coordenador da Defesa Civil do Município de Aiuaba, também frisou que “recebeu e-mail do 40º BI no último dia 13 informando sobre a paralisação da Operação Caminhão-Pipa por falta de recursos financeiros”. Ele disse que as chuvas trouxeram um alívio para algumas localidades, mas que ainda há dependência do programa, que anteriormente atendia 4.200 moradores da zona rural.

No Ceará, a Operação Caminhão-Pipa é executada pelo 40º Batalhão de Infantaria, em Crateús; o 23º Batalhão de Caçadores (23BC) e o 10º Depósito de Suprimentos (D Sup), em Fortaleza.