Mosquito volta a Pedra Branca

Escrito por Renato Sousa - Repórter ,
Legenda: Em 2016, membros da Frente Parlamentar de Combate ao Aedes aegypti da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) visitaram a cidade para conhecer as ações de combate ao Aedes aegypti
Foto: Foto: José Avelino

Fortaleza. O município de Pedra Branca já foi uma referência no combate ao mosquito do Aedes Aegypti, responsável pela transmissão de doenças como a dengue, a zika e a chikungunya. Durante quase 15 anos, a cidade, no Sertão Central, não registrou um caso sequer de doença relacionada ao mosquito.

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"Observamos que todas as ações são simples e de fácil manuseio. O compromisso dos agentes e dos gestores públicos também influencia nos bons resultados", afirmava a deputada estadual Fernanda Pessoa (PR), membro da Frente Parlamentar de Combate ao Aedes Aegypti, em visita à cidade, em 2016.

Hoje, o cenário é diferente. De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde do Ceará (Sesa), a cidade possui um Índice de Infestação Predial (IIP) - medida da quantidade de residência onde são encontradas larvas do mosquito - de 4,26%. De acordo com o próprio documento, acima de 3,9% de infestação é considerado como IIP alto. A cidade teve 133 casos notificados de zika, dengue e chikungunya do dia 1º de janeiro até o dia 8 de julho deste ano.

De acordo com membros da Secretaria Municipal da Saúde, a principal razão para o problema teria sido a descontinuidade de políticas após a eleição do ano passado. Segundo Marcos Stanley, coordenador de Vigilância Sanitária e Endemias da Secretaria Municipal de Saúde de Pedra Branca, logo após o pleito, foram dadas férias coletivas aos agentes de endemias da cidade. "Ficamos três meses sem quase nenhuma atividade", diz.

O gestor apresentou um documento da Coordenadoria Regional de Saúde de Quixadá, à qual Pedra Branca está vinculada, apontando as deficiências. De acordo com o texto, o crescimento no IIP "dá-se por deficiência no Controle e Vigilância de Endemias, como quadro de ACE (agentes de controles de endemias) insuficiente para o trabalho focal, supervisão de campo desqualificada ou inexistente, deficiência no apoio do gestor municipal".

Entretanto, apesar das razões políticas, Stanley também aponta outros motivos. De acordo com ele, a crise hídrica é um deles. Nessas circunstâncias, mais pessoas armazenam água em casa, nem sempre tomando os cuidados necessários. O coordenador também destaca que, diferentemente de outras cidades, em Pedra Branca, faz-se visitas em todos os imóveis, o que leva a uma detecção de mais casos e, consequentemente, a um IIP maior.

Apesar de todas essas circunstâncias, ele alega que os números já estão em queda. Ele atribui isso aos esforços da administração, que teria recontratado agentes de endemias e estaria fazendo mutirões. "É um trabalho árduo", diz.

Os casos de ataque a agências bancárias no interior também é apontado como uma das razões. Segundo Neila Machado, coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Pasta, há mais de um ano a cidade não conta com serviços bancários - as duas agências da cidade foram destruídas com explosivos. Por isso, os moradores teriam que se deslocar para outros municípios, onde a infestação do Aedes Aegypti é consideravelmente maior.

"Hoje, nós estamos cercados de cidades com casos positivos da doença", diz. De acordo com a gestora, bastaria que uma pessoa infectada retorna-se a Pedra Branca para que isso ajudasse a disseminar as doenças. Ela também destacou as reduções de funcionários e a crise hídrica. "Desde junho do ano passado, não temos água no reservatório", declara.

A reportagem não conseguiu localizar representantes da administração anterior para comentar as críticas feitas pela atual gestão do Município.