Monólitos conferem um charme especial a Quixadá

As formações rochosas atraem pela paisagem e mesmo pela prática de esportes como o voo livre

Escrito por José Avelino Neto - Colaborador ,

Quixadá. Embora ofereça uma infinidade de atrativos para impulsionar o turismo, a cultura e o lazer, foram as formações rochosas que ao longo dos anos deram a este Município, situado na região do Sertão Central, distante cerca de 170Km de Fortaleza, a sua maior atratividade. Tanto é que Quixadá é reconhecida como "Terra dos Monólitos".

No lugar do tradicional cenário que retrata a depressão sertaneja por meio de cactos que brotam do chão rachado e árvores com galhos secos e poeira, comum em uma cidade onde a chuva insiste em aparecer de vez em nunca, estão os monólitos. Sua curiosa formação parece cercar a cidade. Para quem vem de Quixeramobim, de Banabuiú, de Ibaretama ou Ocara, torna-se ainda mais fácil ter essa impressão.

"É algo muito engraçado, né não? A gente fica se perguntando como é que pode uma cidade ser tão incrível desse jeito. Eu não me canso de admirar, porque, afinal, é muito lindo!", afirma a jovem Kássia Lopes, 25, que se impressiona sempre que passa por Quixadá quando vai para Acopiara.

O trecho, aliás, permite passar colado com uma das maiores rochas da cidade, a que fica no distrito de Juatama, bem de frente para a estrada que dá acesso ao município vizinho de Banabuiú. A pedra é a menina dos olhos de alpinistas e montanhistas que a usam fazer escaladas, prática comum no Município, junto com o voo livre.

Fama e mistério

Lembrar de Quixadá é praticamente reconhecer sua riqueza monolítica, muitos de origem plutônica. Uma relação óptica que anda lado a lado devido a grandes esculturas como a mais famosa entre todas, a da Galinha Choca, o cartão-postal da cidade, distante 5Km do Centro, repousando bem em frente ao centenário Açude Cedro.

A pedra já foi palco de produções cinematográficas, como o filme estrelado pelos trapalhões em "O cangaceiro trapalhão". No filme, rodado em Quixadá no ano de 1983, a Galinha Choca é a protagonista de cenas inesquecíveis de gigantescos ovos de ouro rolando abaixo sobre as pedras.

E não foi só esse: em 2012, o cinema brasileiro mostrou o lado misterioso dos monólitos por meio do filme "Área Q", que fala dos relatos de abduções ditadas por habitantes do Município. No filme, as pedras são retratadas como uma espécie de portal de passagem de seres alienígenas para a Terra.

Embora seja pura ficção, a história de "Área Q" se assemelha a vários relatos de gente que afirma ter visto luzes sobre as rochas, como o frentista Erigleiton Fideles, 28.

Ele jura ter visto uma luz estranha por cima dos monólitos que ficam bem defronte ao posto de combustível na saída de Quixadá, onde trabalha. "Eu não sei dizer o que era não, mas era uma coisa invocada. Ele ficou parado lá em cima daquelas pedras, depois foi se apagando até que sumiu", fala.

Robson Alencar, ufólogo de Quixadá que pesquisa o assunto há mais de 20 anos, garante que as formações monolíticas seriam usadas como fonte de energias dos seres. "Existem pessoas que afirmam terem sido levadas para dentro dessas formações rochosas e lá dentro tiveram contato com os ETs", diz Robson.

A pedra do ET, escondida no meio da mata da cidade, traz ainda mais peso para esta tese. Uma formação grande, com cerca de 10 metros de altura, que faz lembrar a cabeça de seres de filmes de ficção científica.

Preservação A galinha choca e outros monólitos espalhados por 16Km de extensão, numa área próxima ao Açude Cedro, integram uma Unidade de Conservação (UC). Por meio de um decreto estadual de 2002, vários monumentos são trimestralmente monitorados e fiscalizados por uma equipe da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). As políticas de fiscalização são elaboradas pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema).

Luzilene Saboia, gestora da Unidade de Conservação dos Monólitos de Quixadá, explica que o intuito do Decreto é preservar a beleza cênica. "A cidade é reconhecida mundialmente pelas suas formações rochosas. Nosso intuito, então, é tentar conscientizar as pessoas sobre os monólitos", explica.

A gestora ressalta que monólitos como os de Quixadá são praticamente únicos no mundo, o suficiente para justificar a sua preservação.

Atividades ou intervenções que causem danos às formações, como obras, terraplanagens, retirada dos campos de inselbergs, alterar as condições ecológicas dos monólitos para construir estradas, são proibidos.

Formação curiosa

A galinha não é o único bicho que se revela entre as formações rochosa. Quem decidir se aventurar pela vegetação seca da cidade vai poder encontrar outras como a Pedra da Foca e a Pedra do Sapo. Há também a Pedra da Igreja da Gruta, que guarda histórias de relatos de fé.

Algumas só são apreciadas por quem decide percorrer cerca de 30Km de estrada rumo à Fazenda Reduto. No caminho, é possível encontrar a Pedra do Monstro e até a da Bruxa. Há ainda a Pedra do Índio.

Enxergar coisas em objetos abstratos, como nuvens e pedras, é um fenômeno que pode ser explicado pela psicologia.

"Isso é estudado pela percepção representativa. Ela pode ser tanto pessoal como coletiva e, muita vezes, é influenciada por nossas emoções. Projetamos para esses objetos nossas vontades e angustias, como uma mãe que deseja ter um bebê e enxerga o rosto de uma criança numa pedra enquanto outra pessoa não vê a mesma figura", explica o professor de Psicologia da Unicatólica de Quixadá, André Barreto.

O psicólogo explica que o processo ocorre naturalmente, na tentativa de se informar sobre o mundo ao nosso redor. Mas muitas vezes, este processo, explica ele, pode sofrer uma interferência cultural coletiva. "Em Quixadá, algumas pessoas conseguem ver um índio mas, outras não", detalha.

E se alguém tem dúvida que é dos monólitos que Quixadá deve boa parte de sua fama turística, basta estar atento pelas ruas da cidade por onde passa. A pedra do cruzeiro, fincada bem no centro da Cidade, com seus 190 metros, rouba a cena e os olhares da multidão. Recebeu o nome devido a uma cruz, fincada no topo em 1934. O chalé da pedra, que guarda a história da escritora Rachel de Queiroz e, não há como esquecer o Santuário Imaculada Rainha do Sertão, que foi audaciosamente construído no pico de uma serra rochosa.

Na cidade, também no alto de uma pedra, há o Hotel Pedra dos Ventos, atrativo por sua temperatura agradável decorrente dos fortes ventos que passam por cima da serra e pela visão que ele proporciona. Graças a isso, o Hotel responde por cerca de 50% do total da hospedagem de turistas que passam pela cidade, segundo estimativas da Secretaria de Turismo.

Temperatura

Se por um lado, essas formações rochosas agregam beleza à cidade, alguns acreditam que elas são responsáveis por tornar Quixadá uma das cidades mais quentes da região. A sensação térmica nas tardes pode chegar a 40º. Mas, para o meteorologista Raul Fritz, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), não há nada que possa dar a certeza dessa relação. "À primeira vista, não temos nenhuma relação das altas temperaturas com os monólitos. Teria que se fazer um estudo mais detalhado da geografia do local", explica.

É comum também atribuírem às gigantes pedras o baixo índice de chuva na cidade. Não raro, enquanto no inverno boa parte dos municípios cearenses é banhado por chuva, em Quixadá o que cai muitas vezes é uma neblina. O meteorologista pondera.

"O Sertão Central é a região que tem a menor média de chuvas porque, para chover, há uma dependência da umidade oceânica. No litoral chove muito porque há uma baixa pressão atmosférica, mas, no Sertão Central, a área é de alta pressão atmosférica, devido à própria característica do lugar, o que dificulta a formação de nuvens de chuva", informa Fritz.

Saiba mais

Os monólitos também podem receber o nome de batólitos ou inselbergs

Estão presentes nos municípios cearenses de Quixadá, Quixeramobim, Quixelô. Mas Quixadá, tem o maior número deles

Em 2004 foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio nacional

O conjunto de formações monolíticas é reconhecido desde 2010 pela Associação Mundial de Montanhas Famosas (World Famous Mountains Association - WFMA)

O Geopark Araripe, na região do Cariri, era o único cearense a integrar a lista, desde então.

Segundo a geologia, as formações podem ser explicadas por erosões, e não por erupções vulcânicas, como se diz.

A origem do fenômeno tem quase 600 milhões de anos