Lagoas fazem parte da história de Iguatu

Escrito por Redação ,
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Iguatu resgata a história de seus atrativos naturais, em que se destacam a diversidade de lagos e lagoas

Iguatu. Em língua indígena, Iguatu significa água boa e não foi por acaso que os primitivos moradores, os Tapuia, deram essa denominação. A palavra também quer dizer água grande, muita água. Daí não ser exagero identificar este Município, localizado na região Centro-Sul, como a "Terra das lagoas". De fato, a área urbana está cercada por cinco lagoas e na área rural há mais seis importantes para o desenvolvimento, especialmente, da agropecuária.

O atual centro urbano era até quatro décadas passadas uma imensa lagoa, denominada Telha. Atribui-se a esse lago a origem da cidade e ao antigo topônimo. Até 1883, a denominação oficial era Vila da Telha. Naquela época, houve quem sugerisse nomes como "Interlagos" ou "Entre lagoas", segundo registro histórico do professor e filósofo, Alcântara Nogueira. Prevaleceu Iguatu.

Origem

A lagoa da Telha que deu origem a esta cidade foi aterrada ao longo dos anos e no início da década de 1980, transformou-se em um pequeno lago, isolada com gradil de ferro e cercado de palmeiras imperiais. O Largo da Telha divide a Avenida Agenor Araújo ao meio e é um dos pontos de encontro dos moradores da cidade. "Foi responsável por abastecer e fixar os primeiros moradores e manter as culturas de subsistência e o rebanho", observa o pesquisador e memorialista, Wilson Lima Verde.

Lagoa

A Lagoa da Telha é um símbolo histórico da cidade e se estendia desde a antiga Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Prado, até desaguar na Lagoa Seca, próxima ao aeroporto. Até a década de 1960 muitas pessoas tomavam banho e retiravam água para cozinhar, beber e lavar. Na provinciana Iguatu ainda não havia serviço de abastecimento de água e o fornecimento era feito em ancoretas transportadas em lombo de animais e em carroças. A venda era feita de porta em porta.

Na área urbana, ainda estão as lagoas da Bastiana, Julião, Cocobó e Fonseca. A Lagoa da Bastiana divide a Avenida Perimetral ao meio e se estende do terminal rodoviário até as proximidades do parque de Exposições Agropecuárias e na direção oeste vai até se encontrar com a Lagoa do Julião. "O nome Bastiana deriva de uma antiga moradora, Sebastiana, idosa, que habitava uma casinha no entorno do lago", relembra, o memorialista Wilson Lima Verde.

Ainda de acordo com levantamentos históricos de Lima Verd onde hoje está o centro comercial da cidade a Praça Gonçalves de Carvalho, conhecida por Praça da Caixa Econômica, até o início do século XX era a Lagoa do Miringó, que foi aterrada pelo então prefeito Otaviano Benevides para construção na época de uma das primeiras usinas de beneficiamento de algodão, a fábrica Benevides. Depois, outros empreendimentos do mesmo ramo foram surgindo nas proximidades.

Festas

"A geração jovem não imagina que a cidade de Iguatu era cercada por lagoas e o seu centro era um imenso lago", observa Lima Verde. "Muitas áreas já foram aterradas e os espelhos de água existentes estão poluídos por esgotos e outros detritos". Uma das principais avenidas do centro urbano, Agenor Araújo, até a década de 1960, era conhecida por Rua da Lagoa, numa alusão à Lagoa da Telha.

Nas festas de São João, o antigo padeiro da cidade, Luís Perpétua, acendia fogueira, soltava balões e fixava um pau de sebo, onde na ponta colocava dinheiro para que os brincantes fossem desafiados a retirar a cédula. Seguidos rapazes tentavam e escorregavam até que um mais jeitoso vencia a brincadeira.

Áreas da lagoa da Bastiana, Julião e Cocobó foram aterradas, mas ainda hoje é possível observar significativos espelhos de água. Na Bastiana, há uma Área de Preservação Ambiental, que instituída por lei municipal no início da década de 1990.

Na zona rural, a Lagoa de Iguatu, deu origem ao nome atual da cidade, e é uma das mais importantes para o desenvolvimento da agropecuária e uma das maiores do Ceará. Em seu entorno, ao longo das décadas há cultivo de cereais, culturas de subsistência, capineiras e é fonte de alimentação para o gado. Centenas de famílias vivem no seu entorno. Fica próxima ao núcleo urbano, distante apenas cinco quilômetros. É abastecida pelas águas da chuva e da sangria das lagoas do Baú e do Saco.

Terras planas

Há ainda as lagoas do Barro Alto, Quixoá, Algodão, na divisa entre os municípios de Iguatu e Quixelô, na localidade de Barra, e no distrito de José de Alencar, a do Toco.

"A Lagoa do Barro Alto teve suas terras sistematizadas e é uma das áreas de produção de arroz do município", observa o secretário de Agricultura, Valdeci Ferreira.

O jornalista e professor universitário do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC), Nonato Lima, que nasceu em Iguatu, destaca o aspecto geográfico e econômico da formação da cidade no entorno de várias lagoas.

"Sem dúvida, as terras planas, férteis e a facilidade de acúmulo de água após o período invernoso facilitou e muito contribuiu para a fixação dos colonizadores e mais tarde para o crescimento do núcleo urbano", disse. "Somos a terra das lagoas e precisamos preservá-las".

Para a comunidade, o fato a lamentar é que boa parte desses mananciais foram degradados ao longo do tempo. No lugar da diversidade das belezas naturais, há, em certas áreas, imagens desoladoras da ação destrutiva do homem.

MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria de Agricultura do Município de Iguatu
Rua José de Alencar, S/N - Bairro Bugi
Fone: (88) 3581. 6527

IMPORTÂNCIA
Projeto de interligação dos lagos nunca saiu do papel

Estudo deveria assegurar o nível de cheias dos mananciais naturais, ofertando água para os períodos de seca

Iguatu. Em decorrência da importância das lagoas, de suas várzeas e áreas de produção, na década de 1990 começou a ser discutido o projeto de interligação das lagoas Saco, Baú, Barro Alto e Iguatu.

O estudo chegou a ganhar força em janeiro de 2000, quando foi realizada, no palácio da Microempresa, nesta cidade, uma audiência pública, com o objetivo de discutir um plano de ação. O reabastecimento das lagoas será feito a partir das águas do açude Trussu.

O evento foi promovido pelo Pacto de Cooperação de Iguatu e contou com a participação de autoridades locais, do então secretário de Recursos Hídricos do Estado, Hipérides Macedo, e de representantes do Banco Mundial.

Sem solução

Duas décadas depois, o projeto ainda não saiu do papel. Após a construção do açude Trussu nos anos de 1990, a ideia passou a ser defendida. O projeto irá assegurar o nível de cheia das lagoas no período de estiagem das chuvas, que ocorre no segundo semestre, conhecido pelos moradores como verão. Assim, estaria assegurado o plantio irrigado de culturas de ciclo curto, tais como o milho, feijão e sorgo forrageiro, dentre outras.

Um dos principais defensores da ideia é o ex-coordenador do Pacto de Cooperação e atual secretário de Agricultura do município, Valdeci Ferreira. "Temos um reservatório que assegura o reabastecimento das lagoas, que é o açude Trussu, e a água seria transferida por gravidade, por canais e trechos naturais". O ponto de chegada seria a Lagoa do Saco e daí para a Lagoa do Baú, que sangra para a Lagoa de Iguatu e seria feita uma transferência para a Lagoa do Barro Alto.

O projeto prevê a formação de um cinturão verde no entorno da cidade de Iguatu. "A ideia ainda está viva e o nosso esforço é para concretizar essa obra", disse o prefeito de Iguatu, Agenor Neto. "Consideramos importante esse projeto porque as áreas próximas às lagoas são celeiros de produção agrícola e unidades de criação de bovinos". Além da produção agropecuária, a manutenção do nível de água da Lagoa de Iguatu poderá favorecer o desenvolvimento de atividades de lazer e turismo, passeio de barcos, lancha, Jet ski e jogos aquáticos, favorecidas pela proximidade da cidade.

No passado, na década de 1970, já houve uma tentativa de implantar um balneário, entretanto, foi frustrada em face da escassez de água no período de verão. Nos quatro primeiros anos da década passada, as lagoas ficaram secas em decorrência de reduzidas precipitações. O produtor rural, Mauro Nogueira, defende as obras de transferência de água do açude Trussu para as lagoas.

HONÓRIO BARBOSA
Repórter